quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Julgamento, condenação, prisão e oportunidades

Fiquei matutando sobre a declaração do ministro Eduardo Cardozo desde que a ouvi pela primeira vez. Não sei se foi só minha indignação ou se foi coletivo o espanto, pois ouvi esta declaração várias vezes em poucos dias na mídia – em toda a mídia, é verdade. Alguns comentaram, outros, acho que não acreditaram ou não sabiam o que dizer.

E ela foi repetida ainda pelo próprio ministro, por sua colega Maria do Rosário e pelo ministro do STF, Celso Toffoli.

Terça-feira, numa palestra, este incrível falastrão, cujo partido está no poder há dez anos, afirmou que o sistema prisional brasileiro é tão ruim que, se prisioneiro fosse por longo período, preferiria morrer. O ministro é o responsável por formular e aplicar políticas de Estado. Esqueceu disso?

Há muito tempo sabemos que prisão no Brasil (?) não ressocializa. É comum vermos presos se revoltando contra as condições medievais dos presídios brasileiros, de suas condições desumanas.

De repente, assim que companheiros importantes foram julgados e condenados à cadeia – sob sua responsabilidade – é que o ministro Eduardo Cardozo vem demonstrar sua repugnância ao sistema carcerário brasileiro. Preferia morrer a ser preso! E vai fazer o quê? Vai investir pela melhoria das condições de vida da população carcerária sob sua responsabilidade? Vai tornar mais digna e possível a ressocialização daqueles que se desviaram dos caminhos corretos definidos pela sociedade?

Pasmem, senhores, ele não pretende fazer nada disso! O que ele vai lutar é para evitar que seus companheiros frequentem esse ambiente inóspito e cruel, liberando-os dessa insalubre permanência, mesmo que merecida, como a de todos os condenados que lá estão.

Toffoli chegou a dizer que a prisão deveria ser somente para os condenados por crimes de sangue. Para defender sua tese, que ignora o Código Civil Brasileiro, Toffoli evocou a declaração do Ministro da Justiça. Na prática, foi desmoralizado por três companheiros de tribunal: Gilmar Mendes, Celso de Melo e Luiz Fux. Os dois primeiros lembraram a responsabilidade do governo federal pela situação dos presídios. O terceiro lembrou a Toffoli que um juiz – pelo menos se supõe – não pode mudar a lei, tem que cumpri-la. Se ela acha que a lei está errada, ele está no lugar errado, deve se candidatar a senador e provocar a mudança da lei, liberando corruptos, traficantes, mafiosos, ladrões e companhia, de serem presos, pois não mataram ninguém. Coisinhas como peculato, corrupção ativa, corrupção passiva, gestão fraudulenta, evasão de divisas etc. rendem mesmo cadeia no Código Penal.

Tirando os motivos pessoais envolvidos nas declarações, já a algum tempo se discute a substituição de penas de encarceramento por penas alternativas e/ou pecuniárias que enviar um condenado a um presídio superlotado. Essa corrente reforça a ideia de que a cadeia seria um recurso extremo para atitudes extremas basicamente relacionadas à integridade física.

Mas mudar a regra do jogo nas finais do campeonato é o que Cardozo e Companhia propõe ao invocar esses princípios.

Acho sinceramente que se nós conseguirmos ultrapassar esse sentimento de impunidade e superioridade que essa corja quer impor ao País, acusando nossa justiça de facciosa, nossos sentimentos de ruins, nossos sonhos de lixo, nossos esforços de inúteis, nossa nação vai crescer muito como nação, nós, como cidadãos, vamos ter orgulho de sermos éticos e honestos.

E começa agora, nossa justiça julgando e condenando os criminosos, os condenados cumprindo as sentenças de prisão e o povo entendendo que quem age indevidamente contra o bem público é um criminoso contra o país, rouba nossos sonhos, fecha nossos hospitais, acaba com nossa segurança e destroe o futuro de nossas crianças em troca de poder e satisfação pessoal.

É uma pena, concluo, constatar que as palavras dos ministros e de petistas que criticam o STF trazem a contestação de que mesmo num partido que foi dito e propalado como progressista, existe ainda um sentimento de que cadeia no Brasil é coisa para preto e pobre.

Corumbá

domingo, 11 de novembro de 2012

O bode de plantão, por Mary Zaidan

Não falha nunca. Ao final de cada eleição, a reforma eleitoral volta à baila como essencial, inadiável. Passam-se alguns meses e ninguém mais fala disso. No máximo se faz uma maquiagem aqui, outra acolá, nas regras para o pleito seguinte, e pronto.

Em 2010, mal as urnas deram a vitória a Dilma Rousseff, Lula anunciou que se dedicaria de corpo e alma para provar que o mensalão era uma farsa e aprovar a reforma política, a mãe de todas. Só se dedicou à primeira empreitada. E sem sucesso. De reforma política nada mais falou.

Desta vez, coube a José Dirceu reavivar o tema. Réu condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha, o ex-ministro saiu na defesa do financiamento público das campanhas e da inclusão da regulamentação da mídia na pauta do PT de 2013.

Assim como Lula, é pouco provável que Dirceu esteja interessado na reforma política. Quer mesmo a regulamentação da mídia, nome pomposo para controle e, consequentemente, limitações à imprensa que tanto incomoda o PT, a si e aos seus. Sem meias palavras, censura.

Aliás, chega a ser cômico um partido que considera caixa 2 crime menor, a ponto de admiti-lo diante da Corte Suprema, propor financiamento público de campanhas. E ainda fazê-lo em nome da moralização do pleito, sob o argumento de que as doações privadas são portas para a corrupção.

Em suma, candidamente, o PT culpa o sistema e não o ladrão. É como dizer: só roubei o carro do vizinho porque ele deixou a garagem aberta.

Mas partido algum tem interesse real na reforma política. Todos fingem dar importância a ela, mas tergiversam na hora do vamos ver. Na Câmara dos Deputados e no Senado, há anos o assunto passa de urgência urgentíssima para gaveta engavetadíssima.

O Parlamento deixa crescer vácuos nas regras eleitorais, obriga a Justiça a tampá-los emergencialmente em cada pleito, e depois reclama que a Justiça está ocupando os espaços legislativos.

Enquanto isso, questões como voto facultativo - já praticado e não legalizado, como se viu na ausência de 30% dos eleitores nas eleições municipais -, sistema eleitoral, voto distrital puro ou misto, regulamentação das lacunas da Ficha Limpa e outras tantas ficam no limbo. E a quem isso apoquenta? A ninguém.

Conclui-se, então, que a reforma política tem relevância menor do que a ela se atribui. Tornou-se um bom encosto para enfeitar discursos. Um bode de plantão para se tirar da sala.

Foi o que Lula fez. É o que Dirceu repete agora.

Corumbá

 

Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa, @maryzaidan

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Caíram as pedras do muro

Enviado por Sandro Vaia – 12/10
Sim, o ex-presidente Lula tem razão: estamos preocupados com o Palmeiras ameaçado pelo fantasma da série B.

Mas ao contrário do que ele pensa e expõe na sutileza de sua metáfora, a gente sabe que se cair, levanta a cabeça, disputa a segundona com toda honra, e volta grande como sempre foi, e quem sabe com mais juízo e mais competência. Esse é o destino dos grandes.

É muito mais fácil manter a cabeça erguida com as infelicidades do futebol do que com uma condenação incontestável pela mais alta Corte do País por vários crimes de corrupção.

Por isso, a frase do ex-presidente é descabida e desrespeitosa para com a inteligência do brasileiro.

Se ele quis se referir especificamente à influência do julgamento do mensalão no resultado das eleições, pode estar lamentavelmente próximo da verdade.

Segundo uma medição da Datafolha – com todos os pés atrás que as pesquisas de opinião estão merecendo, principalmente em função da volatilidade da opinião pública- apenas 19% dos eleitores sofreria alguma influência dos resultados do julgamento do mensalão na escolha dos dirigentes municipais.

Acontece que a comprovação cabal da existência do mensalão e a consequente demolição da tese do “simples Caixa 2” por parte da Justiça, tem muito mais a ver com a construção dos fundamentos de um sistema politico ético para o futuro do que com o imediatismo do resultado eleitoral que conheceremos daqui a 20 dias.

Os comentários patéticos do ex-presidente, as cartas deprimentes dos condenados Dirceu e Genoíno, as notas do partido e das suas linhas auxiliares, como a CUT, são um desrespeito às instituições democráticas e ao Estado de Direito.

O julgamento foi feito inteiramente dentro das regras do jogo democrático. Grande parte dos juízes da Corte foram nomeados pelos 3 últimos governos.

A única suspeição que pode ser arguida é exatamente sobre um dos juízes que mais absolveram.

Um juiz que trabalhou para um dos réus durante cinco anos. Foi seu subordinado funcional e esperava-se que em função disso se declarasse impedido de participar do julgamento. Mas participou e absolveu o mais vistoso dos acusados, exatamente seu ex-chefe.

A repercussão imediata do resultado do julgamento nas eleições é o que menos importa. A opinião pública, como observa César Maia, na base social, se cristaliza em ondas que requerem tempo.

Mudanças de hábitos e costumes políticos só se consolidam dentro de um tempo histórico.

Mas como as pedras do Muro de Berlim jamais serão recolocadas, os costumes políticos do Brasil, depois do episódio do Supremo, jamais serão os mesmos. A impunidade caiu, foi posta abaixo.

Corumbá

Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez. E.mail:svaia@uol.com.br

sábado, 22 de setembro de 2012

Dilma erra

Enviado por Cristovam Buarque, em 22/09/12

Com 27 pacotes ou minipacotes econômicos, a presidente Dilma tem agido como equilibrista na crise econômica do presente, não como estadista para fazer o Brasil estar em sintonia com a economia global do futuro.

Os pacotes são corretas ações pontuais, com a redução de custos de produção, aumento da venda por redução de impostos, e associação com o capital privado para superar a obsolescência da infraestrutura, mas pouco ou nada tem sido feito para transformar o Brasil em uma nação inovadora.

Ser equilibrista no curto prazo é reduzir o Custo Brasil por meio de isenções fiscais ou desonerações na folha de pagamento.

Ser estadista é construir uma economia com alta competitividade, graças à inovação científica e tecnológica.
Equilibrista é aumentar a taxa de crescimento do PIB, estadista é mudar o PIB. Os pacotes editados desde 2011 podem recuperar parte do espaço perdido no “made in Brazil”, mas não darão o salto para o “created in Brazil”.

Vender mais carros no meio da crise mundial é um ato de equilibrista, de estadista seria criar centros de pesquisa e de produção voltados para o transporte de massas.

Seria fazer a revolução na Educação Básica, aliada a uma grande Refundação do Sistema Universitário Brasileiro, em colaboração com o setor privado e por meio da criação de um Sistema Nacional do Conhecimento e da Inovação, que permita ao Brasil passar a concorrer em condições de igualdade com os países líderes em Ciência e Tecnologia.

Ser equilibrista é conseguir recursos para aumentar o número de famílias com Bolsa Família; ser estadista é criar as bases para que todas as famílias tenham condições de obter suas próprias rendas, sem necessidade de bolsas, graças a um modelo econômico intrinsecamente distributivo e a uma educação de qualidade para todos.

Há meses arrastamos um debate sobre o Código Florestal tentando atender agronegócio e conservacionistas, sem um gesto estadista de mudança de rumo em direção a um novo modelo econômico com desenvolvimento sustentável.

Explorar o Pré-Sal é trabalho de um gestor equilibrista, de estadista seria preparar o Brasil para a economia pós-petróleo.

Ser equilibrista é construir viadutos para mais carros, ser estadista é reorganizar as cidades, a fim de torná-las pacíficas, humanizadas.

Com seus pacotes, a presidente Dilma tem acertado como equilibrista, olhando onde colocar os pés em uma corda bamba suspensa. A qualquer momento, se um vento do Norte balançar a corda, o equilíbrio se desfaz, como se desfez em tantos países nos últimos anos.

Mas ela erra como estadista por não estar acenando e liderando o país para uma inflexão histórica no longo prazo: transformar o Brasil em uma sociedade moderna e com competitividade científica e tecnológica, com um modelo de crescimento estruturalmente distributivo e em equilíbrio com o meio ambiente.

O Brasil elegeu a Dilma esperando uma estadista para o futuro, mas ela está errando ao optar por ser apenas a equilibrista do presente.

Corumbá


Cristovam Buarque é professor da UnB e senador pelo PDT-DF.

domingo, 16 de setembro de 2012

Lula e a parábola de Itamari, por Mary Zaidan

Waldson Carlos Alves Menezes, conhecido como Kçulo, pode ou não se reeleger prefeito de Itamari, pequena cidade do interior baiano, a 330 quilômetros de Salvador. Mas já fez história.

No vídeo que corre solto no YouTube, ele não só é flagrado comprando votos como mostra impressionante intimidade com a corrupção. Didático, o petista Kçulo compara política a uma feijoada. “O feijão é o voto e o dinheiro, o tempero”, ensina. “Se você tem o trocado, a feijoada sai gostosa, cheirosa e bonita.”

A parábola de Itamari é simbólica como todas. Cozida com os mesmos ingredientes que encheram a pança e hoje tiram o sono dos que agora estão no banco dos réus do julgamento da ação penal 470.

Kçulo sumiu. Seu crime, a compra de votos, é o mesmo que entra em pauta na sessão desta segunda-feira da Suprema Corte, quando começa o julgamento do núcleo político do mensalão.

A afirmação de seu advogado segue linha idêntica à dos petistas de primeira grandeza. Atribui tudo à oposição. Ainda que mais amena do que “elite suja e reacionária” e “golpe de conservadores”, usados pelo presidente nacional do PT Rui Falcão, em discurso de desagravo à condenação do deputado João Paulo Cunha, a tese de atribuir o pecado ao adversário é a mesma.

Combina também, em gênero e todos os graus, com a pregação de Lula. O ex-presidente não comparou política a uma feijoada - preferia alegorias futebolísticas -, mas defendeu a prática de ilícitos dos seus partindo de princípios muito semelhantes: os de que a política tem os seus vícios, todo mundo peca, malfeito todo mundo faz.

E foi ainda mais longe. Chegou a admitir que engrossara o caldo por demais – “Humildemente, reconheço que nós fizemos coisas erradas. Mas com tudo de errado que fizemos, o país melhorou muito”, disse, em outubro de 2006, misturando na mesma cumbuca um mea-culpa e o “rouba, mas faz” que imortalizou Adhemar de Barros.

A versão só durou enquanto temia que dessalgassem o seu mandato. Depois disso, negou o tempero e até o feijão.

Amanhã, o ministro relator Joaquim Barbosa abrirá os trabalhos pelos políticos que receberam dinheiro do esquema: Pedro Corrêa e Pedro Henry, do PP; Valdemar Costa Neto, do extinto PL, atual PR; Roberto Jefferson e Romeu Queiroz, do PTB; e José Borba, do PMDB.

O ex-ministro José Dirceu, apontado como chefe da quadrilha pelo procurador-geral, o ex-presidente do PT José Genoíno e o ex-tesoureiro Delúbio Soares fecham a fila.

Se condenada for, Lula ainda tentará fazer crer que essa trinca jamais pertenceu à sua panela. Duvidam?

Corumbá

Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa, @maryzaidan

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Um cenário difícil de mudar

Enviado por PC Caju(*) em 20 de agosto de 2012


Escrevo com muito gosto a coluna no JT há quatro anos e meio e garanto que ainda não perdi a esperança de um dia enxergar motivo para acreditar que o futebol brasileiro voltará aos bons tempos em que era admirado (e temido) por sua qualidade técnica e seu estilo que envolvia os adversários. Mas basta acompanhar uma rodada completa e depois ouvir as declarações dos “professores” e jogadores para concluir que vai ser difícil o cenário mudar.

Não aguento ouvir os treinadores repetindo as “palavras mágicas” em suas entrevistas: “focado”, “trabalho” e “pegada”. Parece que todos os males do time serão resolvidos com mais trabalho, mais pegada e mais “foco”. Esse discurso é irritante! É como se os “professores” participassem de uma peça de teatro em que todos têm falas parecidas. E todos as decoram muito bem.

Em campo, suas equipes são o reflexo dessa falta de imaginação. Chutão pra cá, chutão pra lá, bola pra cima, chuveirinhos, toda atenção às bolas paradas, laterais sendo cobrados para dentro da área, mais volantes do que jogadores criativos, mais gente que corre do que gente que pensa…
Quando falam em “trabalho” é isso o que querem dizer? Se for, acho que deveriam trabalhar menos. Porque “aprimorar” esses itens citados acima não acrescenta nada ao futebol.

Cada vez que acaba uma rodada me ajeito no sofá para ver as entrevistas, sempre com a esperança de ouvir um treinador ou um jogador dizer: “O time precisa jogar mais com a bola no chão, ser mais criativo e ousado.” Mas lá vem “trabalho”, “focado” e “pegada”…
É por isso que adorei ler as declarações dadas semana passada pelo meia argentino Maxi Rodriguez, que voltou a jogar em seu país depois de dez anos na Europa. Ele disse que a qualidade dos jogos na Argentina caiu muito, que os times jogam com medo porque os técnicos temem ser demitidos se perderem três ou quatro jogos seguidos, que há muita correria e que ninguém liga mais para a técnica e a beleza do jogo. Isso é o que eu chamo de sinceridade.

Por aqui, técnicos e jogadores (e muita gente da imprensa também) ficam tentando iludir o torcedor com essa conversa mole de que o campeonato é empolgante, equilibrado, cheio de craques… E não aparece um “Maxi Rodriguez” para dizer a verdade. Para completar o quadro, temos José Maria Marin, Marco Polo Del Nero e Andres Sanches definindo o destino do nosso futebol. É o fim do mundo.

Corumbá

(*)Blog do Caju

Paulo Cézar Caju fez parte da geração de ouro do futebol brasileiro nos anos 60 e 70. Foi tri-campeão do mundo pela Seleção Brasileira, no México, e de clubes pelo Grêmio, em 1983. Jogou na França, nos quatro grandes do Rio e no Corinthians. Sem ser saudosista, exige o resgate do futebol brasileiro jogado com arte, alegria e vontade de ganhar sempre. Despreza retranqueiros e botinudos.

domingo, 5 de agosto de 2012

Porque hoje é domingo…

Enviado por Conde von Draxcler – 05/08/2012


Hoje é domingo e eu estou desfiando umas considerações:

Olimpíadas, CPi do Cachoeira, Futebol do Brasileirão, Novelas da Globo e das concorrentes, Foco em cima das PM do Rio e de São Paulo, e etc.

O brasileiro está sendo inundado por uma onda de informações, muito bom, muito saudável (Mens Sana in Corpore Sano), mas na realidade alguém pode com segurança dizer como anda o país? Ou todos esperam que tudo vai indo muito bem?

Como estamos na Educação? Vai mal e de mal para pior, o setor está em greve em grande parte, e aqui vale uma consideração; vocês já notaram que estamos colocando muitos para aprender, mas estamos nos descuidando de que precisamos preparar aquele que vai liderar e conduzir o processo de aprendizado? Deixo ao julgamento de vocês este quesito.

E na Saúde estamos bem? Já chegamos ao primeiro mundo neste item? Sim chegamos, mas esta medicina é para poucos e só na rede privada (os que tem muito $$ e os que estão na cota do Comissariado, e onde milagrosamente foi descoberta a cura do câncer), o SUS este coitado é deficiente e corre atrás do prejuízo tratando em sua totalidade os acidentados de motocicletas.

Neste item aqui vai um dado, e o mesmo é preocupante; uma de minhas melhores amigas necessitava de uma cirurgia para retirada de um tumor junto à hipófise, OK cirurgia extremamente invasiva, procedimento feito, repouso e voilá , após 4 meses descobre-se que foi retirada a hipófise e deixado o tumor (quem tiver uma sugestão, forneça, pois a amiga está desesperada e perdeu o rumo). É preciso dizer mais, então busquem nos jornais pelo Brasil a fora, que diversas cirurgias efetuadas pelo SUS tiveram um efeito devastador (operado o joelho esquerdo , quando o problema era no joelho direito; remoção do rim saudável e deixado o rim doente, os fatos se repetem de uma forma abusiva).

A Economia vai bem? Dizem os críticos que não, e eu embarco na mesma canoa, vai mal e com muita cortina de fumaça para encobrir os problemas (é melhor ver um prova das Olimpíadas...). O endividamento da classe agora média é enorme, os gastos com cartões de crédito estão estourando os índices (mas os pagamentos não seguem a mesma linha, estamos comprando mais e saldando a dívida em muitas prestações; temos pessoas comprando os itens básicos de alimentação à crédito (até em 10 vezes), se isto não gera uma bola de neve e já não sei mais em que acreditar.

Eu vou parar por aqui antes que comece a chorar com um misto de indignação e frustração.

Realmente ver as Olimpíadas é melhor e mais saudável.

Conde von Draxcler

Corumbá

sábado, 4 de agosto de 2012

Caldinho assassino

 Enviado por Luiz Caversan (*) – 04/08/2012


Os amigos, todos animados e festivos pelo fim do fim de semana delicioso na temperatura não menos agradável do inverno do Rio de Janeiro, fazem pedidos fartos: pizzas, frangos fritos, coquetéis, chopes, caipirinhas.

Não, obrigado, vou pegar leve, apenas um caldinho. Tem de feijão e de siri, o de siri é bom?

Ótimo, garante o garçom.

E lá vou eu de encontro à maior intoxicação alimentar que já sofri na minha vida, com direito ao cardápio completo: tonturas, calafrios, diarreia, vômito, absurdas dores abdominais, hospital, soro, buscopan, dramin, cloridrato de ciprofloxacino, uma semana perdida.

A febre finalmente está indo embora enquanto escrevo estas linhas, cinco dias depois da escolha errada no Diagonal, tradicional restaurante da zona sul do Rio --ainda tive que ouvir a piada de um amigo da onça, dizendo que a comida do diagonal entrou atravessada...

Uma semana praticamente no vazio por conta de reles xícara de caldinho de siri, crustáceo este que deve ter sido colhido no mesozóico ou apenas ficado fora da geladeira um dia inteiro.
Se você tivesse pedido um cheeseburguer com bacon e maionese não teria acontecido nada, vaticinou meu médico seriamente, com certeza confiando muito mais na pasteurização dos produtos industrializados do que na competência da culinária à beira brasileira, tão farta de delícias e paradoxalmente tão perigosa.

Uma semana de cama e cabeça oca, recolhido à mais humilhante insignificância do ser abatido por um caldinho, fez pelo menos alguns reparos a alma, seja aproximando-a da sensação da morte iminente (do caldo vieste ao caldo voltarás...), seja poupando-a da nefanda realidade de mensalões, debates infrutíferos de candidatos, resultados medíocres na Olimpíadas, trânsito infernal da volta às aulas, PMs matando e morrendo a granel.

O delírio da febre às vezes pode ser uma boa. Principalmente depois que passa...

Corumbá

* Luiz Caversan é jornalista e consultor na área de comunicação corporativa. Foi repórter especial, diretor da sucursal do Rio da Folha, editor dos cadernos "Cotidiano", "Ilustrada" e "Dinheiro", entre outras funções. Escreve aos sábados no site da Folha.

sábado, 28 de julho de 2012

Mensalão foi o maior caso de corrupção do país, diz Gurgel

Enviado por FELIPE SELIGMAN em 28/07/2012


Em sua última manifestação formal antes do início do julgamento do mensalão, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, enviou aos ministros do Supremo Tribunal Federal um documento no qual afirma que o caso foi "o mais atrevido e escandaloso esquema de corrupção e de desvio de dinheiro público flagrado no Brasil".

A expressão faz parte de um vasto memorial que foi entregue na última semana aos 11 integrantes do Supremo e obtido pela Folha. O julgamento começa na quinta.

Ao enviar o material, Gurgel visa facilitar o trabalho dos ministros, caso advogados contestem provas citadas pela acusação, ou afirmem que não existem indícios sobre um ou outro ponto.

O que Gurgel fez foi pinçar das mais de 50 mil páginas do processo o que chamou de "principais provas" contra os acusados. Esses documentos (como perícias, depoimentos e interrogatórios) foram separados pelo nome de cada réu, em dois volumes.

Nos últimos dias, advogados de defesa também entregaram os seus memoriais.

No texto em que Gurgel chama o mensalão de o mais "escandaloso esquema", o procurador retoma uma frase que usou nas alegações finais, enviadas ao Supremo no ano passado, quando havia dito que a atuação do STF deveria servir de exemplo contra atos de corrupção.

Agora, diz que "a atuação do Supremo Tribunal Federal servirá de exemplo, verdadeiro paradigma histórico, para todo o Poder Judiciário brasileiro e, principalmente, para toda a sociedade, a fim de que os atos de corrupção, mazela desgraçada e insistentemente epidêmica no Brasil, sejam tratados com rigor necessário".

Em outro ponto, ele afirma que o mensalão representou "um sistema de enorme movimentação financeira à margem da legalidade, com o objetivo espúrio de comprar os votos de parlamentares tidos como especialmente relevantes pelos líderes criminosos."

Em sua manifestação final, Gurgel tentou relembrar alguns detalhes fundamentais, como o papel do núcleo financeiro do esquema.

"Impressiona constatar que as ações dos dirigentes do Banco Rural perpassaram todas as etapas do esquema ilícito, desde sua origem (financiamento), passando pela sua operacionalização (distribuição) e, ao final, garantindo a sua impunidade pela omissão na comunicação das operações suspeitas aos órgãos de controle", afirma.

Ao resumir o que a ação contém, o procurador concluiu: "Colheu-se um substancioso conjunto de provas que não deixa dúvidas à procedência de acusação".

Corumbá

folha.uol.com.br

sábado, 9 de junho de 2012

Lula divide, ultrapassa e não teme militância do PT

Enviado por Ricardo Noblat - 09.06.2012


Faltou ao menos um elemento nos cálculos feitos pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para executar seu plano de interferir diretamente nas articulações para o lançamento de candidatos a prefeito em São Paulo e Recife: a militância do PT, que começa a enfrentá-lo.

Em diferentes pontos do Brasil, de São Paulo a Recife, mas passando por Porto Alegre e Belo Horizonte, os petistas que fazem o dia a dia das bases da legenda vão mostrando, cada um ao seu modo, que os ditames de Lula não estão combinando em nada com o que realmente eles desejam.

Em rede nacional, a imagem de um cartaz com os dizeres "Lula, você não manda em Recife", marcou o comício de desagravo ao prefeito João da Costa, na quinta-feira 7, que reuniu milhares de pessoas no aeroporto da capital pernambucana.

Com este tipo de apoio, Costa anunciou a entrada no Diretório Nacional do partido com um protesto contra a imposição, pilotada por Lula, da candidatura do senador Humberto Costa em lugar da sua, no Diretório Municipal.

Em silêncio, mas na prática absolutamente alheia à candidatura de Fernando Haddad, a militância do partido na maior cidade do País também vai se recusando a comprar o nome imposto por Lula. Até aqui, nenhuma grande manifestação pública a favor dele ocorreu.

Em Belo Horizonte, o quadro é de divisão total: o partido fará no domingo 10 um encontro para escolher um candidato a vice-prefeito, na chapa de Marcio Lacerda, do PSB, entre nada menos que sete pré-candidatos.

Antes, a legenda já enfrentara uma primeira divisão, ao barrar a candidatura do atual vice Roberto Carvalho ao cargo de prefeito, por 6 votos contra 4 no Diretório Municipal. Nessa hora, Lula preferiu não se meter.

Em Porto Alegre, a deputada Manuela D´Ávila, do PC do B, ficou a ver navios em lugar da prometida, pelo governador Tarso Genro, aliança com o PT. "Aqui, até o último momento, insistimos na unidade", disse ela, que considera legítima a candidatura do petista Adão Villaverde.

Não se viu para a capital dos pampas nenhuma mensagem de Lula para balizar as opiniões.

Jogando com mão pesada, nos casos de Recife e São Paulo, ou excluindo-se do processo, como acontece em Belo Horizonte e Porto Alegre, Lula trabalha como se militância não houvesse – e, neste sentido, a ausência de inclusão desse elemento em seus cálculos políticos não é sem querer, mas proposital.

O que Lula está fazendo é asfaltando, a seu modo, a aliança com o PSB do governador Eduardo Campos, hoje o maior pauteiro das ações do PT. Em gratidão ao racha promovido em Recife, Lula antevê Campos como vice em sua possível chapa como candidato a presidente em 2014.

O ex-presidente sempre acreditou ser, pessoalmente, maior que a legenda do PT. Para ele, ter a militância agora contra si não faz tanta diferença assim, uma vez que, nas suas contas, essa própria militância terá de seu unir a seu favor em 2014, porque não haverá outra alternativa.

Infalível no passado, essa fórmula, a partir das possíveis derrotas de Lula e seus candidatos em 2012 - mais outro 'detalhe' chamado reeleição da presidente Dilma Rousseff -, tende a ser questionada cada vez mais fortemente.

Corumbá

domingo, 3 de junho de 2012

Abaixo o voto secreto

Enviado por Eliane Catanhêde – 03/06/2012


Lula deu a largada na eleição de São Paulo no programa do Ratinho, a CPI saiu da tumba com a quebra do acordão PT-PSDB e aumenta a pressão para o fim do voto secreto já no julgamento de Demóstenes Torres em plenário.

Na eleição, começam o resgate de Fernando Haddad, dos irreais 3% para os tradicionais 30% do PT em São Paulo, e o trajeto para o segundo turno entre PT e PSDB. Chalita fortalece o PMDB na negociação.

Na CPI, Marconi Perillo afunda e respinga no PSDB em ano eleitoral. A cúpula e os candidatos não devem estar nada felizes com os voos do tucano ao Cachoeira.

Mas as maiores emoções ficam por conta da quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico do titanic Delta, grande contratante do PAC e a maior recebedora de recursos do governo federal desde 2007 - além de queridinha de nove entre dez governos estaduais. Vem coisa.

E, enfim, é tempo de acabar com essa excrescência do voto secreto para a cassação de mandatos. Eu, tu, ele e todos nós eleitores temos o direito de saber como nossos eleitos vão votar no caso Demóstenes, ainda mais sob os ventos da lei de acesso às informações públicas.

As evidências das ligações do ainda senador com Cachoeira são flagrantes e o destino dele no Conselho de Ética parece selado. O problema é o plenário, com o voto secreto e suas excelências votando corporativamente. Afinal, quantos Demóstenes e Cachoeiras há entre eles?

O projeto que enterra o voto secreto foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça em junho de 2010 e depende de um único fator para ser votado: vontade.

Pela pressão, quebrou-se o acordão PT-PSDB na CPI. Pela pressão, o Senado será compelido a votar o projeto e evitar o vexame da Câmara, que absolveu a deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF), apesar de provas, fotos, fitas e ficha corrida familiar.

A hora é agora.

Corumbá

Eliane Catanhêde - elianec@uol.com.br

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Detalhes de uma leitura digital

Enviado por por Carol Bensimon * em  24/04/2012


    Peço desculpas antecipadas para quem não gostaria de ouvir mais uma opinião sobre e-books e o futuro da leitura. Na verdade, não quero dar exatamente uma opinião, mas apenas chamar atenção para alguns pontos que, como usuária de um iPad, me fazem acreditar que não devo largar o papel tão cedo. Então tá.

Parece uma grande vantagem o leitor poder customizar as páginas do livro que está lendo, isto é, escolher o tamanho da fonte de forma a deixar sua experiência mais confortável etc. etc. No entanto, tanto no Kindle como no iPad, essa interferência do usuário tem uma consequência bem desagradável: o espaço entre as palavras varia, já que não há separação de sílabas, transformando o livro todo em um justificadão do Word. Você pode argumentar que só pessoas muito chatas ou editores ou designers têm algum problema com isso, mas eu diria que todos têm, mesmo que não percebam. Se não, por que existiram profissionais chamados diagramadores?

Antes de começar a ler um livro, eu adoro ter uma noção do todo. Não se trata de saber simplesmente o número de páginas; é mais um passeio caótico e apressado pelo que está por vir, a partir do qual temos uma ideia do tamanho dos capítulos, se o livro é dividido em partes, se os parágrafos costumam ser longos ou curtos, se há diálogos e, em caso positivo, de que forma são postos no texto etc. etc. Mesmo durante a leitura, devo confessar, é bem comum que eu dê uma espiadinha no final do capítulo que estou lendo, questão de medir distância – às vezes o mundo lá fora nos obriga a isso, infelizmente.

E quando você interrompe a leitura e, antes de colocar o livro sobre o criado-mudo, dá aquela olhadinha no bloco de páginas e na posição em que se encontra o marcador? Em um e-book, não dá para fazer.

O que eu mais leio no iPad são, de fato, revistas. Ainda sou muito apegada aos livros, como objetos, para preferir suas versões eletrônicas. Mas revistas eu compro com frequência, afinal de que outra maneira poderia ler a Les Inrockuptibles daquela semana por cerca de dois reais e cinquenta centavos? O problema é que às vezes eu compro uma revista e esqueço que comprei. Quero dizer, não é como entrar no banheiro e vê-la em cima do bidê. Ela está na biblioteca, que por sua vez está dentro de um aplicativo, que por sua vez está na segunda página de apps do seu iPad.

Isso me parece uma coisa que inevitavelmente o iPad terá que corrigir em suas versões futuras (ou então criar mais um aplicativo para gerenciar todos os aplicativos de leitura): eu tenho revistas dentro do app daWired, da Books, da Les Inrocks, da Trip, ou então dentro de agregadores de revistas como o Zinio e oLeKiosque; tenho histórias em quadrinhos no Izneo BD; livros no Kindle (sim, há um aplicativo Kindle para iPad) e no Fnacbook, e assim por diante. Dá pra esquecer um dossiê inteiro sobre psicofármacos por meses e meses. Como eu disse, não aconteceria se estivesse em cima do bidê.

Em junho, quando eu colocar os pés na América para uma road trip solitária, vou comprar um iPad 3 e um Kindle. Veja bem, eu estou abraçando esse negócio chamado futuro. Ainda assim, sinto que talvez haja uma pequena distorção ao ver um vídeo bonito como o de um app chamado Paper, que já alcançou a marca dos milhões de downloads.

Eu não sei desenhar mas acho que, mesmo que soubesse, não sairia andando com meu tablet na mão e desenhando uma aquarela ao mesmo tempo. E acredito que já teria guardado meu tablet na bolsa quando o metrô chegasse na estação. Quero dizer: não é papel. Ainda não.

Corumbá

 

*Carol Bensimon nasceu em Porto Alegre, em 1982. Publicou Pó de parede em 2008 e no ano seguinte a Companhia das Letras lançou seu primeiro romance, Sinuca embaixo d’água (finalista dos prêmios Jabuti e São Paulo de Literatura)]

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Doença incurável

Enviado por Dora Kramer - O Estado de S.Paulo

Finalmente descortinou-se ao menos uma razão de ser para o Ministério da Pesca: servir de ponte para o trânsito do dinheiro público aos cofres de um partido. No caso, o PT que, diga-se, não é o único a se valer do expediente.

A mesma prática revelou-se em episódios anteriores e voltou a aparecer nas denúncias que levaram ministros à queda ou à berlinda ao modo de uma derrocada em dominó.

Havia nos escândalos recentes envolvendo ministros do PC do B, PDT, PMDB, PR e PSB, o traço - em alguns mais acentuadamente que em outros - do uso da máquina administrativa para algum tipo de favorecimento privado. Partidário ou familiar e, portanto, pessoal.

A denúncia sobre o ministério da Pesca é tão cristalina quanto as que durante o ano passado detectaram a transformação de pastas em feudos de partidos usuários do aparelho (nos dois sentidos) de Estado como fonte de financiamento.

A diferença aqui é que quando se trata do PT o tratamento é mais brando do lado do governo e mais petulante, para não dizer cínico, da parte dos acusados em sua infinita capacidade de negar as evidências. Por mais evidentes que sejam.

Vejamos resumidamente o que nos mostra o "caso das lanchas", a partir de minuciosos relatos dos repórteres do Estado: em 2009, o Ministério da Pesca concluiu uma negociação com a empresa Intech Boating para a compra de 28 lanchas-patrulha no valor de R$ 31 milhões.

A transação deu-se sem necessidade de comprovação da necessidade da aquisição - tanto que a maior parte (19) não foi usada - e acabou caindo na rede do Tribunal de Contas da União sobre licitações supostamente dirigidas.

Em 2010, o secretário de Planejamento do ministério, Karim Bacha, pediu uma doação para a campanha do PT ao governo de Santa Catarina de R$ 150 mil ao dono da empresa fabricante das lanchas. Pedido feito, pedido obviamente aceito por aquele que ganhara um contrato cujo valor, na comparação, tornava a doação irrisória.

Pois a questão aqui não é de montante, nem do fato de os recursos terem sido devidamente contabilizados. A contribuição foi legal, como alega a hoje ministra das Relações Institucionais e à época candidata ao governo de Santa Catarina, Ideli Salvatti, e depois titular da Pesca.

Ilegítima - para dizer bem pouco, já que o direcionamento da licitação é ainda uma suspeita - foi a "troca" perfeitamente caracterizada na solicitação feita por intermédio do ministério.

Aqui não está em jogo só a conduta dos ministros (Ideli e seu antecessor Altemir Gregolim), embora esteja também.

O dado mais relevante é a prática que se repete, se estende aos outros partidos participantes do governo e é responsável pela produção de denúncias numa série, pelo visto, interminável.

Mata-borrão. A julgar por algumas reações diante dos ótimos índices de aceitação da presidente Dilma Rousseff, as pesquisas seriam, além de uma espécie de salvo-conduto ao erro, um fator de aniquilação do senso crítico.

Celebrar a avaliação positiva é uma coisa. Inclusive porque se as pessoas estão gostando da atuação de Dilma, governo e governistas devem mesmo comemorar.

Outra coisa bem diferente é achar que pontuação em pesquisa é um valor absoluto perante o qual devem se curvar os fatos nem sempre levados em conta pela maioria.

Maioria esta que na mesma pesquisa condena a pesada carga tributária, mas não conecta o fato ao desempenho da presidente.

Aparências. Ainda pensando na dupla face do senador Demóstenes Torres: havia no governo Lula algo mais respeitável que as maneiras, a fala e a figura de Antônio Palocci?

Foi praticamente o fiador da ascensão do PT ao poder e acabou, com todo o reconhecimento de valor, sob os escombros de uma casa de lobby em Brasília.

O ensaio de ressurreição que viria depois, com Dilma, foi apenas um estertor.

Corumbá

Como avaliar um professor

Enviado por Fernando Reinach - O Estado de S.Paulo

Até que ponto é possível avaliar um professor medindo o aprendizado dos alunos? Um estudo desenvolvido nos EUA demonstrou que esse método, se bem aplicado, mede até a velocidade com que professores iniciantes melhoram seu desempenho.

Quando eu era estudante, os alunos eram avaliados todos os meses e ao final do ano. Isso ainda acontece, mas a avaliação dos alunos passou a ter uma segunda função: avaliar a qualidade dos professores e da escola. Esse sistema permite avaliar professores sem submetê-los a avaliações diretas. Talvez você não saiba, mas os professores, apesar de passarem a vida avaliando alunos, reagem violentamente quanto a escola ou o governo tenta avaliá-los diretamente.

Para esse fim, foram criados exames como o Enem. E com eles vieram as listas das "melhores" escolas secundárias e universidades. Seriam aquelas cujos alunos receberam as melhores notas nesses exames. Infelizmente, essa classificação pode ser enganosa. Ela parte do princípio de que todas as escolas recebem alunos com a mesma qualificação.

Imagine duas escolas. Em uma os alunos tiraram 10 no Enem e em outra, 8. Nas listas, fica implícito que a escola 10 é melhor que a 8. Mas isto só é verdade se ambas as escolas receberam, no início, alunos com a mesma formação.

Imagine que a escola 10 recebeu alunos que sabiam o equivalente a 7. Ela foi capaz de transformar 7 em 10 (eles aprenderam 3). Mas imagine que a escola 8 recebeu alunos que sabiam o equivalente a 2. Ela transformou alunos 2 em 8 (eles aprenderam 6). É fácil argumentar que a escola em segundo no ranking é aproximadamente duas vezes mais eficiente que a escola 10.

O fato é que não sabemos quais são as melhores escolas secundárias ou as melhores universidades. Esse fato não só distorce a avaliação, mas explica porque a maioria das escolas deseja receber os alunos mais bem preparados e se livrar dos mal preparados. A única maneira de não incorrer nesse erro é medir o conhecimento de cada aluno no inicio e no final do curso e avaliar os professores e as escolas em função do progresso obtido pelos alunos ao longo do curso.

Infelizmente, isso não está totalmente implantado no Brasil. Mas é isso que é feito em muitos Estados dos EUA. E foi utilizando esse tipo de dado que os pesquisadores estudaram o processo de melhora dos professores.

Nos EUA, a profissão de professor passou ser atividade de inicio de carreira. Se em 1988 o número de anos de experiência dos professores de ensino secundário era de 15, agora ela se aproxima perigosamente dos 3. Cinco anos depois de contratados, mais de 50% deles abandonaram a profissão. O resultado é que as crianças estão sendo educadas por professores inexperientes.

Daí a questão: quão rápido esses professores iniciantes melhoram sua capacidade de ensinar? Ou qual a perda sofrida pelo sistema educacional por causa da pouca experiência dos docentes?

Foram analisados os dados de 1,05 milhão de crianças avaliadas no início e no final de cada ano, para cada uma das matérias. Para cada criança, é conhecido cada professor e sua experiência anterior, seus colegas de classe e outros dados. Usando metodologias estatísticas, esses dados foram cruzados e as correlações estatisticamente significantes foram identificadas.

Os resultados mostram que em ciências exatas a capacidade dos professores de ensinar aumenta rapidamente durante os primeiros quatro anos de magistrado e depois se estabiliza. Para professores de matemática e biologia, esse aumento é menos significativo, mas também se estabiliza aos quatro anos. Os outros professores não melhoram tanto ao longo do tempo e sua eficiência inicial se mantém. E foi descoberto que os professores mais eficientes nos primeiros anos de carreira eram os que tinham maior chance de não se demitirem após cinco anos. Esses resultados explicam parte do fato de o ensino de ciências exatas piorar nos EUA.

Para nós, brasileiros, esse estudo demonstra como é possível dissecar o desempenho de cada professor analisando o dos alunos. Pena que avançamos tão devagar.

Corumbá

domingo, 11 de março de 2012

Instruções da Fifa

Enviado por Luís Fernando Veríssimo – 11/03/2012
Chegaram as instruções da Fifa para como devemos nos comportar durante a Copa do Mundo de 2014. Os brasileiros que não respeitarem as recomendações da Fifa podem ser multados ou, dependendo da natureza da falta, sofrerem sanções mais graves. Tome nota.

Começando pela recepção a autoridades e delegações estrangeiras, nos aeroportos: devemos refrear nossa mania de não apenas apertar a mão como dar uma batidinha no ombro, o que denota uma intimidade que não existe e pode constranger o visitante.

A Fifa aceita que se organizem recepções festivas aos estrangeiros, já que, afinal, eles estarão chegando na terra do carnaval, mas pede moderação.

As baterias de escola de samba devem se apresentar nos aeroportos só com os instrumentos mais leves, que não reverberem tanto, e as mulatas devem cuidar para não ofender os recém-chegados com trajes muito sumários. Quer dizer, nada de bumbo ou tapa-sexo.

Na questão da vestimenta: a Fifa faz restrições ao conjunto bermudas/shortinhos e havaianas. Não o proíbe totalmente mas prefere que ele não seja usado em ocasiões como coquetéis e recepções oficiais, ainda mais que o Blatter estará de gravata.

Saias curtas para mulheres serão toleradas desde que a distância entre cintura e barra da saia não seja menor do que 18 centímetros. Haverá fiscais da Fifa em locais de congraçamento social para fazerem a medida.

Os penteados e as tatuagens também serão controlados e a Fifa recomenda que a nação inteira dedique-se a regimes alimentares e exercícios físicos para emagrecer até 2014, porque do jeito que estamos não dá.

A Fifa observou que os brasileiros falam muito alto em restaurantes. Estabelecerá um limite de decibéis que se for ultrapassado levará ao fechamento do estabelecimento e à internação da clientela em cursos intensivos de locução e etiqueta, pelo menos até o fim da Copa.

A Fifa estuda uma mudança no nosso nome, de República Federativa do Brasil para Estados Unidos do Brasil, ou — levando em conta que a língua mais falada por aqui já é o inglês — Estados Unidos da América Legendado.

Também pensa em mudar as nossas cores, porque verde e amarelo, francamente. Mas isso fica para outra etapa, quando a Fifa reorganizará os estados brasileiros, inclusive suprimindo alguns, e intervirá na nossa taxa de juros.

Finalmente, a Fifa não está contente com o nosso governo. Acha a Dilma muito mandona, mais mandona do que ela, e já está providenciando sua substituição.

Corumbá

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Saudades de Jimmy Carter (Dilma em Cuba)

Enviado por Ricardo Noblat em 31/01


O que a militante política de esquerda Dilma Rousseff deve ter pensado quando Jimmy Carter, presidente dos Estados Unidos entre 1977 e 1981, começou a criar dificuldades para a ditadura militar brasileira cobrando mais respeito aos direitos humanos?

Ela exultou com a postura de Carter? Ou por acaso o censurou pensando assim: "Quem atira a primeira pedra tem telhado de vidro", convencida de que "não é possível fazer da política de direitos humanos apenas uma arma de combate político ideológico contra alguns países"?

Ou foi ainda mais longe e tascou: "O desrespeito aos direitos humanos ocorre em todas as nações", inclusive nos Estados Unidos. Logo... Logo Carter deveria levar em conta que o respeito aos direitos humanos "é algo que temos de melhorar no mundo de uma maneira geral"?

Na época, Carter chegou a despachar sua mulher para uma viagem ao Brasil. Aqui, ela se reuniu com o  presidente Ernesto Geisel e interrogou-o sobre denúncias de torturas e de desaparecimento de presos da ditadura. Foi um momento de humilhação para o general. E de conforto para quem a ele se opunha.

Tudo o que imaginei que a militante Dilma (vulgo Estela ou Vanda) poderia absurdamente ter pensado a respeito da intervenção de Carter em assuntos internos do Brasil foi dito ontem pela presidente Dilma Rousseff em visita à Cuba, onde vigora a ditadura dos irmãos Castro desde janeiro de 1959.

Os dissidentes cubanos torceram por uma atuação de Dilma que lembrasse a de Carter no passado, quando ele decidiu puxar o tapete de algumas das ditaduras apoiadas por seu país. Na verdade, Dilma nada tem a ver com Carter. Mas pelo menos poderia ter sido menos amigável com uma ditadura do que foi.

Essa história de não se meter em assunto de outro país é um falso dogma. Se países põem em risco a segurança do mundo ou violam princípios e valores universalmente aceitos, é compreensível que sejam criticados pelos demais. E até boicotados em casos extremos.

Lula achou que o Brasil deveria romper relações diplomáticas com Honduras quando o presidente Manuel Zelaya foi derrubado pelo Congresso, detido pelo Exército e em seguida deportado. Zelaya voltou escondido ao seu país e se abancou na embaixada brasileira. Fez dela seu bunker com a concordância de Lula.

O eclipse da democracia em Honduras durou pouco tempo. Em Cuba se arrasta há 53 anos.

Corumbá

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Acaba acontecendo

Enviado por Edgar Flexa Ribeiro (*) em 30/01

Certo, a educação nacional tem ministro novo. Mas provavelmente isso não fará grande diferença.

Daqui a pouco, quando recomeçarem as aulas, um grupo de jovens iniciará sua formação para serem professores. Vão se formar daqui a quatro ou cinco anos.

E a formação que vão receber será semelhante àquela que é feita há muitos e muitos anos. Pode ter mudado tudo, mas não houve mudança significativa na formação dos professores.

E, consequentemente, é provável que se repita todo o resto, com os mesmos resultados. Os ministros são uma irrelevância a mais.

Os equívocos nacionais são o que existe de mais constante em matéria de educação.

Muda-se a lei de dez em dez anos. Mudam nomes, inventam modismos, alteram as aparências. O discurso varia e as queixas se repetem. E tudo fica mais ou menos como sempre foi.

Veja-se o ENEM. Foi criado para ser um instrumento de avaliação do ensino, em âmbito nacional, para permitir formar séries estatísticas consistentes que pudessem ajudar o planejamento e a gestão dos sistemas de ensino.
Em pouco tempo foi transformado na chave mestra que abre o cofre do acesso ao ensino superior. Um ícone, a fôrma, o padrão, a regra, o parâmetro pelo qual individualmente são avaliados os jovens brasileiros.

Bem formado hoje em dia é quem teve boa nota no ENEM.

Como se tem boa nota no ENEM? Respondendo à pergunta que o Ministro fez do jeito que o Ministro quer. E isso é o que se considera bom para um país de dimensões continentais, diverso e diferenciado.

Com um aspecto adicional: para a consistência do exame, tal como inicialmente concebido, quem acertar tudo no ENEM pode não tirar dez, e quem errar tudo pode não tirar zero. Isso pode ter bons fundamentos estatísticos - mas torna difícil aceitar o exame como bom instrumento para aferição de desempenho individual.

O esforço hoje é concentrado para induzir todo mundo a ingressar numa universidade. Para isso o governo tem dinheiro e recursos, tem bolsas de estudo, financiamentos, apoios e estímulos.

Não é a toa que o ensino privado está se transformando – agora sim - em “big business”: sistemas de ensino e universidades já atraem até capital estrangeiro.

Esse segmento está bombando.

Uma coisa é verdade: o país está crescendo e precisa de gente formada, precisa de mão de obra, precisa da educação. Se o que o governo faz não dá conta, o país vai tomar o assunto em suas mãos, como fez com o transporte coletivo: inventou a “van”, a “perua”.

Vamos acabar inventado a “van” do ensino.

Corumbá

(*)Edgar Flexa Ribeiro é educador, radialista e presidente da Associação Brasileira de Educação

sábado, 7 de janeiro de 2012

A VÃ TENTANTIVA DE EXPLICAR O INEXPLICÁVEL...

Enviado pelo Prof. Júlio Ferreira – 07/01/12

É impressionante a desfaçatez do ministro Fernando Bezerra Coelho ao tentar negar que colocou o Ministério da Integração Nacional à serviço do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, por quem foi indicado para o cargo, funcionando como instrumento de obtenção de recursos financeiros para o seu estado natal.

Verifique-se que em meio a sua “fingida indignação” com o que ele denominava ser uma tentativa de preconceito contra o estado de Pernambuco, Bezerra Coelho alegou que seu estado havia sofrido, em 2010, uma das maiores catástrofes naturais da história, esquecendo-se que todos os lamentáveis episódios a que se referia aconteceram na região de divisa entre os estados de Pernambuco e Alagoas, havendo inclusive quem afirme que em Alagoas os estragos foram bem maiores do que em Pernambuco.

Diante desse FATO, qual a explicação para o ministro Fernando Bezerra Coelho, um velho “tarefeiro” da “dinastia Arraes”, que apenas Pernambuco tenha sido tão generosamente favorecido pelo aporte de verbas federais. Não seria minimamente lógico que, se o motivador do “dilúvio” de dinheiro carregado para Pernambuco foram as catástrofes de 2010, o estado de Alagoas também fosse favorecido pela sua extrema generosidade.

Na verdade, como Fernando Bezerra Coelho é um dos prováveis candidatos a Prefeitura do Recife em 2012, ou, pelo menos, um dos nomes cotados para substituir Eduardo Campos em 2014, o “Tsunami de verbas” carreados para Pernambuco, por mais que tentem negar, faz parte de uma sórdida estratégia eleitoreira, que claramente prioriza Pernambuco, em detrimento de outros estados também assolados por catástrofes naturais tão, ou mais, destruidoras, a exemplo do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina.

Será que agora, entre as atribuições do titular do Ministério de Integração Nacional, está a de determinar qual o segmento da população brasileira que tem “mais direito” ao atendimento de suas necessidades emergenciais?

Corumbá

Júlio Ferreira
Recife – PE

E-mail: julioferreira.net@gmail.com
Blog: www.ex-vermelho.blogspot.com/