sábado, 10 de abril de 2010

O passado condena

Enviado por Merval Pereira em 10/04/2010:

Os que especulam sobre o significado da não-reação do ex-governador Aécio Neves ao comentário da candidata oficial Dilma Rousseff de estímulo à chapa Dilmasia, um voto híbrido nela para presidente da República e no candidato a governador Antonio Anastasia, do PSDB, querendo perceber nela uma sutil admissão de Aécio à “cristianização” do candidato tucano José Serra em Minas, não perdem por esperar.

O discurso do ex-governador mineiro hoje, no evento que marcou em Brasília o lançamento da candidatura de Serra à presidência da República foi uma inequívoca tomada de posição.

Mais que isso, foi uma definição de linha de ação política do PSDB, um ataque frontal ao passado do PT e um assumido orgulho do passado do PSDB.

Sobre a passagem de Dilma por Minas, o ex-governador Aécio Neves lembra que seu avô Tancredo dizia que em uma campanha eleitoral há lugares em que é melhor não ir do que ir e ter problemas.

Foi o que aconteceu com a candidata oficial Dilma Rousseff ao visitar São João Del Rey. Se fosse lá e não visitasse o túmulo de Tancredo, seria acusada de mais uma vez estar desdenhando o grande líder político mineiro.

Indo, provocou a ira dos próprios mineiros, pois o PT não apenas não apoiou Tancredo no Colégio Eleitoral em 1985 como expulsou os seus três deputados federais que o fizeram a revelia do partido.

Para exemplificar o repúdio mineiro à atitude de Dilma, basta ler o título do artigo semanal que o ex-senador Murilo Badaró escreve: “A profanação do túmulo de Tancredo”.

Dilma já havia confundido anteriormente Governador Valadares com Juiz de Fora, demonstrando que sua mineiridade não está muito em dia.

Quando, desta vez, caiu na armadilha ao defender a chapa Dilmasia, prestou dois serviços aos adversários políticos: desprezou o PT e o PMDB mineiros, que ainda se digladiam para ver quem dará o candidato a governador, e deu a chancela de que a candidatura de Antonio Anastasia é uma opção tão viável que ela admite “cristianizar” seus candidatos para receber o apoio do ex-governador Aécio Neves, o grande líder político atualmente em Minas.

Corumbá

Alencar desiste de disputar as eleições e Sarney não assumirá mais a Presidência

Informa o Globo:

“O vice-presidente da República, José Alencar, que trava uma batalha contra um câncer no abdome há 12 anos e já realizou 15 cirurgias, anunciou nesta sexta-feira que vai assumir a Presidência da República no domingo, desistindo assim de concorrer a uma vaga no Senado nas eleições de outubro. Alencar, de 78 anos, disse que vai cumprir o mandato até o último dia.

- Subi a rampa junto com Lula, e vou descer junto com ele – afirmou.

O vice-presidente conversou na quinta-feira com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando comunicou sua decisão.

- Só aceitaria uma candidatura se tivesse curado. Eu me sinto curado, me sinto muito bem, mas continuo fazendo quimioterapia. Não seria honesto ser candidato fazendo quimioterapia – afirmou o vice. – Cientificamente não posso dizer que estou curado.

Com a desistência de Alencar em disputar o pleito neste ano, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), não irá mais assumir a Presidência com a viagem de Lula. O presidente viajará domingo para Washington (EUA) para participar da reunião de cúpula sobre segurança nuclear.

Pelas regras eleitorais, não há necessidade de o vice-presidente da República se desincompatibilizar do cargo para concorrer às eleições. A exigência é que ele não substitua o presidente em suas ausências nos seis meses anteriores ao pleito, ou desde abril. Se houver a substituição, o vice fica inelegível. “

Com um ato só, Alencar nos livra de Sarney na Presidência, demonstra sua grandeza e assume sua fragilidade.

José Alencar: Sempre, sempre, um homem elevado.

Ponto final.

Corumbá

sexta-feira, 9 de abril de 2010

O que deu em Lula?

Enviado por Ricardo Noblat em 09/04/2010

 

O que deu em Sua Excelência, o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva?

Pirou?

Improvável.

Deixou-se empolgar pelo ambiente que lhe era amplamente favorável?

Pode ser - embora um líder experiente como ele não costume cometer erros típicos de um amador.

O que preocupa Sua Excelência a ponto de ele ter dito o que disse ontem à noite durante o evento promovido pelo PC do B para marcar sua adesão à candidatura de Dilma Rousseff a presidente?

Mais uma vez ele desafiou a Justiça depois de ter sido punido duas vezes por fazer propaganda antecipada da candidatura de Dilma. Novamente pediu votos para Dilma. E com tal convicção e exagero que extrapolou. Disse a certa altura:

- Hoje não tem ninguém mais preparado do ponto de vista técnico para governar este país do que esta senhora Dilma Rousseff, futura presidenta deste país.

Foi além - e ao ir deixou de ser convincente. Passou a impressão de estar apelando:

- Vocês vão fazer campanha para uma mulher cuja história é motivo de orgulho. Se eu conhecesse ela (sic) antes de ser candidato, eu não seria (candidato), porque teria indicado ela (sic).

Quem é capaz de acreditar que Lula teria abdicado há oito anos da própria candidatura em favor da candidatura de Dilma se a conhecesse naquela época?

Desde 1989 quando foi candidato a presidente pela primeira vez, Lula jamais deu brecha para que prosperassem outras candidaturas dentro do PT. Foi assim até em 1998 quando ele sabia com bastante antecedência que a derrota era certa.

O trecho mais disparatado da fala presidencial foi aquele onde Lula afirmou, exaltado:

- Quando eu estiver fora (do governo), vou ter força para evitar que se faça com a Dilma o que fizeram comigo em 2005 (aparentemente, ele falava da investigação do mensalão do PT). Vou gritar mais, vou ter mais liberdade. Não vou ser instituição. Vou arregaçar as mangas para fazer a reforma política, porque não podemos ficar subordinados ao que um juiz diz que podemos ou não fazer. Vou poder gritar mais, perturbar mais.

Como ex-presidente vai o quê?

Gritar mais? Perturbar mais?

Arregaçar as mangas para fazer a reforma política?

Não é comportamento que se espera de um ex-presidente - gritar, perturbar mais! Teve oito anos para negociar com os partidos a reforma política - por que não o fez?

Outro dia, Lula admitiu que fora da presidência, e uma vez Dilma eleita, ele continuará influenciando as decisões do governo. Sabujamente, outro dia Dilma também admitiu que caso se eleja consultará Lula sobre assuntos importantes.

Há líderes do PT aflitos com o fraco desempenho inicial de Dilma como candidata. Sem Lula ao seu lado, ela claudica, derrapa, diz bobagens.

De outra parte, a poderosa sombra de Lula pode levar o eleitor a concluir que Dilma não passa de uma marionete dele.

Para dizer o que tem dito, para proceder como tem procedido, Lula deve estar enxergando coisas que escapam aos mortais comuns.

Corumbá

Lula pensa em negociar com São Pedro

Enviado por Giulio Sanmartini em  9/04/2010

Comovente a fala de Lula sobre a catástrofe no Rio provocada pelas chuvas. Ontem (8), após receber o presidente do Mali, Amadou Touré, Lula disse: “O que eu acho pobre nesse País é que as pessoas esperam acontecer uma desgraça dessa magnitude para ficar tentando fazer um joguinho político pequeno. Nessa alturas a única coisa que temos que fazer – primeiro é ser solidário ao povo do Rio de Janeiro – depois pedir a Deus que mande um pouquinho de chuva para o Nordeste brasileiro e pare um pouquinho no Rio de Janeiro. Pare em São Paulo. É para chover no Nordeste. E depois cuidar de ajudar quem foi vítima dessas coisas que aconteceram no Rio de Janeiro.”

Uma afirmativa de ingênua infantilidade, incompatível com quem pensa estar governando um país.

Sobre o fato diz com muita propriedade Toinho de Passira “Lula apesar de não ter sujado o seu cromo alemão com a lama das enxurradas, pois estava abrigado no Copacabana Palace, bateu o recorde de ficar mais de 20 minutos, numa cidade brasileira vitimada por uma catástrofe.”

O azar do Rio de Janeiro, entre outros é não ser o Haiti, caso assim fosse, o presidente Lula já teria enviado ajuda de todos os tipos. Mas o Rio fica fora das pretensões de Lula, a de ser secretário da ONU, quando deixar a presidência, então fica só nas promessas e na conversa do que deveria ser feito.

Quanto à idéia  de ser o chefão da ONU, não tenho nada a dizer, pois pretensão é como bunda, todo mundo a tem e cada um a sua.

Corumbá

terça-feira, 6 de abril de 2010

Os preços de um erro diplomático

O presidente Lula se prepara para sua vista ao Irã com o objetivo de firmar parcerias comerciais e na área nuclear com o país dos Aiatolás. Navegando a pleno vapor contra a maré mundial, o Brasil está para entrar no seleto grupo de nações atingidas pelas sanções do Conselho de Segurança da ONU.

No exato momento em que nosso governo estreita seus laços com o Irã e oferece cooperação para um programa nuclear carregado de nebulosidade e suspeitas, até aliados históricos dos iranianos ficam com “um pé atrás” em relação ao país e rumam na direção da formalização de sanções contra a nação islâmica.

Se isso realmente ocorrer, o Brasil terá o mesmo êxito que obteve ao apoiar Zelaya e participar de um dos maiores vexames que a diplomacia brasileira já protagonizou. Será deixado “falando sozinho” e terá de recuar de suas posições, humilhado e acuado, para não sofrer o mesmo destino de seu novo e polêmico amigo.

Se insistir em seu apoio ou fornecer “por baixo dos panos” tecnologia ou qualquer tipo de assistência ao Irã, nosso “País do futuro” será apresentado à cruel realidade de tornar-se um pária frente à comunidade internacional.

É claro que ninguém espera que o Itamaraty vá “pagar o preço” por manter uma aliança com o Irã, no caso da aprovação das sanções. No entanto, isso mostra como é equivocada a ideia de “aceitar de peito aberto” a palavra de determinados governos que primam pela nebulosidade e pela repressão férrea a seu próprio povo e a qualquer informação.

Quando os aliados de primeira hora do Irã e “inimigos” de sempre das posições americanas se unem aos EUA (Rússia e China) para tentar dar um fim nas pretensões iranianas no campo nuclear, é porque algo muito “estranho” está mesmo acontecendo por lá.

Basta uma pequena olhada nas atitudes do governo iraniano para que um alarme soe na cabeça de qualquer simpatizante: a descoberta de instalações secretas (não relacionadas para os inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica), a criação de usinas no interior de montanhas, o desenvolvimento (cada vez mais intenso) de mísseis de longo alcance e a presença (cada vez mais incisiva) de elementos da Guarda Revolucionária na tomada de decisões e controle das ações internas e externas do governo iraniano.

Além de correr o risco de se ver apanhado no meio do tiroteio das sanções, o recuo diplomático (promovido à força) sempre causa um certo “gosto de cabo de guarda-chuva” na “boca” de qualquer nação.

É muito mais importante analisar o que o Brasil teria a ganhar com a venda de urânio e de tecnologia ao Irã, nesse momento, além de pesar as péssimas experiências que já tivemos ao negociar com países da região (Iraque e Arábia Saudita).

Na época, o Brasil era o terceiro maior produtor mundial de tecnologia militar e tinha produtos invejados  e temidos (até pelos EUA) como o lançador de mísseis Astros II (visto como arma perigosíssima pelos americanos durante a Primeira Guerra do Golfo e na Guerra Irã – Iraque).

Ao “negociarmos” esses produtos por lá, o resultado foi um enorme calote e a negativa de aval para financiamentos prometidos que levaram a nossa indústria bélica à falência e à extinção em matéria de poderio e de negócios internacionais.

Cuidar para que a história não se repita, agora com reflexos ainda mais graves, é o que se espera do Itamaraty e do governo brasileiro. Muito mais do que simpatias ideológicas, o Brasil deve sempre primar por seus interesses como nação e pesar se o relacionamento com esse ou outro País nos trará reais benefícios ou meramente dores de cabeça.

baseado em texto de Arthurius Maximus

Corumbá

O discurso do medo

Enviado por Ricardo Noblat - 6.4.2010

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Enquanto o ex-governador José Serra ainda evita falar abertamente como candidato do PSDB a presidente da República, a ex-ministra Dilma Rousseff fala - e com desenvoltura - como candidata do PT e de uma dezena de partidos.

Por ora, seu discurso enfatiza dois pontos: a herdeira de Lula é ela. A oposição é anti-Lula.

Em campanha, não importa se é verdade, meia verdade ou mentira o que o candidato diz. Ele quer mais é se eleger. E se vale de todos os recursos para isso.

Pode ser desmoralizado por uma mentira que diga. Mas se a mentira se parece com uma verdade ou com uma meia verdade, tudo bem.

A oposição que Serra faz ao governo não pode ser taxada de anti-Lula. Até aqui não se ouviu uma crítica direta de Serra a Lula.

Não importa. Dilma não pode deixar que ganhe força a idéia de que também Serra daria continuidade ao governo Lula. Assim como Lula deu ao continuidade ao governo de Fernando Henrique Cardoso.

Apela para o medo: olha, se meu adversário for eleito, ele acabará com tudo de bom feito por Lula.

Dilma sabe que isso não é verdade. Mas quem sabe não cola?

Dilma sabe que o apagão de energia não foi gestado na época em que Serra era ministro do Planejamento de Fernando Henrique. Ele era ministro da Saúde quando houve o apagão.

Também não importa. Os brasileiros menos informados - a maioria, por sinal - pode engolir a história.

Algo como 53% dos eleitores ainda não sabem que a candidata de Lula é Dilma. Para esses, ela diz: Se for eleita, sempre consultarei o presidente Lula quando tiver que tomar decisões importantes.

Verdade ou mentira?

Quem sabe é ela.

Mas a confissão de dependência, sujeição ou subalternidade a Lula reforça sua identidade com ele. O que está em jogo, e Dilma tem clareza disso, é o terceiro mandato para Lula.

A Constituição impede duas reeleições seguidas.

Então Lula escolheu à perfeição um candidato que só será capaz de vencer se a maioria dos brasileiros atender ao seu apelo: votem nele que será a mesma coisa que votar em mim.

Isso é de uma arrogância sem par. Mas e daí?

Lula acha que pode se dar a esse luxo.

Seu cálculo é simples: uma possível vitória de Dilma lhe será integralmente atribuída. Uma eventual derrota será atribuída a Dilma.

Porque embora apoiada pelo presidente mais popular da História ela foi incapaz de vencer.

Lula ganha se Dilma for eleita e não perde se ela for derrotada.

Convenhamos: é o melhor dos mundos para ele.

Corumbá