sábado, 18 de dezembro de 2010

Nas salas de aula não existe presença obrigatória

Texto do professor José Predebon, organizador e co-autor do livro Profissão Professor (Cia dos Livros).
E-mail: jose@predebon.com.br

Nenhum aluno fica em classe se não estiver interessado. Pode até estar lá, sentado, para não ter falta. Mas seu coração e mente não estão presentes, só seu corpo. Problema do professor? Claro que grande parte dos mestres pensa que desinteresse de alunos não é seu problema, e lhes basta ter a consciência tranquila de estar cumprindo o programa de sua disciplina.

A questão não é simples. Uma série de fatores presentes na atualidade fez surgir agora uma geração que contesta o sistema como nunca acontecera antes. Penso que não se trata de uma degenerescência social, mas do produto do cruzamento entre a era da comunicação, agora com a internet, com o ímpeto do desejo de mudança dos jovens, melhor percebido desde 1968.

Nossos alunos de hoje, pesquisados, declaram que a maior utilidade que encontram na escola é a formação de sua rede de relacionamentos. Vemos que são também atraídos pelo diploma que, de alguma forma, pensam, deve facilitar sua vida. De resto, franzem o nariz: “não quero seguir o caminho de meus pais, que não são felizes”. Como esses jovens receberão o bastão do revezamento social?

Nesse contexto, nós, professores, só poderíamos mesmo nos sentir pouco desejados, e, por isso, pouco ouvidos e respeitados como mestres. Esse panorama, claro, não é geral, há ressalvas. A primeira é de uma parcela (estima-se em 20%) de jovens com vocação para o aprendizado – os curiosos que procuram informações, de todo tipo. Outra exceção é a de alunos de universidades públicas, na qual entraram por meio de uma rigorosa seleção, e que por isso tendem a valorizar o aproveitamento das aulas. Algo parecido acontece em escolas muito procuradas, onde o ingresso também é difícil. Finalmente, também são mais interessados os que se sacrificam, trabalhando de dia e estudando à noite, e entendem a necessidade do conhecimento para sua carreira.

Entretanto, no geral, vemos que quando a maioria dos alunos está na escola para “cumprir tabela”, a contragosto, não se pode esperar boa disposição deles para com os professores. Eles fazem parte da “chatice da escola”. São uma extensão dos pais, que dizem uma coisa e fazem outra. Jamais pode ocorrer ao aluno, nessa condição, procurar estabelecer com o professor uma relação que não seja a obrigatória, pouco mais do que responder a chamada. Por isso, se houver possibilidade de mudança, esta precisa vir do professor. Só ele pode tomar a iniciativa de estabelecer uma relação diferente. Ou constrói uma ponte e a atravessa para chegar ao aluno, ou fica deste lado falando sozinho, também cumprindo sua tabela, dentro de um contexto perverso. Cabe ao professor tomar a iniciativa, ainda que ele, pessoalmente, nada tenha a ver com a culpa de sua geração que construiu uma sociedade problemática. Cabe a ele, portanto, também usar a criatividade como uma ferramenta para que suas aulas possam ser mais aproveitadas.

Colegas professores, claro, a criatividade não resolve os problemas do ensino brasileiro, mas pode se tornar a ferramenta para fazer a diferença no seu trabalho pessoal. Sempre há campo para nós, mestres, nos colocarmos muito além da “obrigação básica do programa”. Se nos posicionarmos assim, e também a favor dos alunos, nunca nos conformando de antemão com seu pouco interesse, e se adicionarmos a magia da criatividade ao planejar nossas aulas, aí sim, teremos feito a nossa parte. Concluímos lembrando que mudanças não são fáceis, mas muitas vezes são necessárias.

Corumbá

domingo, 12 de dezembro de 2010

Emergente? Só a cabeça

Enviado por CLÓVIS ROSSI em 12/12/10

PARIS - Eis o país que Dilma Rousseff vai receber:

1 - Os brasileiros que ganham mais de R$ 10.200 são apenas 3 milhões. Os brasileiros que sobrevivem com menos de R$ 1 mil vão a 79 milhões. Detalhe: estamos falando de renda familiar, não individual.
Ou, em porcentagens: apenas 1,5% dos brasileiros habitam o que Elio Gaspari chamaria de andar de cima. Uma massa formidável de 41% mora mesmo é no porão. Outros 40%, pouco mais ou menos, ocupam o andar de baixo.
Estatística à parte, o mais elementar sentido comum manda chamar de pobres esses 80%.

2 - Por incrível que possa parecer, há brasileiros em condição ainda pior, conforme constatou o jornal "O Estado de São Paulo", ao visitar dados do Ministério de Desenvolvimento Social:
"Entre as 12,7 milhões de famílias beneficiárias do Bolsa-Família, 7,4 milhões (58%) encontram-se na faixa de renda entre R$ 70 e R$ 140 mensais por pessoa da família. Dessas, 4,4 milhões (35% do total dos beneficiários) superaram a condição de extrema pobreza com o pagamento do benefício. Mas ainda restam 5,3 milhões (42%) de miseráveis no programa".
Posto de outra forma, quase a metade dos pobres entre os pobres não levanta cabeça nem mesmo com a ajuda do governo, de resto indispensável para que pelo menos não morram de fome.

3 - Dispenso-me de rememorar os dados desastrosos sobre educação, divulgados esta semana e já abundantemente comentados. Fico apenas na constatação de que o desnível educacional entre a escola dos mais ricos e a dos mais pobres é uma forma de perpetuar as condições acima descritas.
Dá para dizer que um país assim é emergente? Só pelo critério usado pelo pesquisador Francisco Soares (UFMG): "É como se tivéssemos tirado a cabeça fora d'água, mas a praia ainda está muito longe".

Corumbá

A verdade que restou

Metade das obras do PAC não foi concluída. Só depois de pronto o muito que falta o PAC 2 tentará sair do papel. A conta da gastança chegou, e a alternativa para os cortes anunciados pelo ministro Guido Mantega é o colapso dos investimentos públicos. Domada há 16 anos pelo Plano Real, a inflação anda regurgitando e não será sufocada por falatórios. O legado de Lula enfim começa a mostrar o que há por trás da enganadora embalagem.

A quatro anos da Copa do Mundo, a seis dos Jogos Olímpicos, os cartolas que exploram os principais eventos esportivos do planeta já desconfiam de que parcerias com sócios brasileiros são um negócio de altíssimo risco. Os colossos urbanísticos e os milagres arquitetônicos prometidos pelo maior dos governantes desde Tomé de Souza seguem confinados na discurseira em mau português.

Refeito o balanço de 2009, o IBGE descobriu que os estragos decorrentes da crise econômica foram bem mais severos que arranhões provocados por marolinhas. Números divulgados pelo FMI acabam de revelar que o crescimento do PIB durante os dois mandatos de Lula foi de 4% ao ano. A média é inferior às registradas no mesmo período na China (10,95%), na Índia (8,2%) e na Rússia (4,8%). O lanterninha no BRIC também ficou abaixo da média da América Latina (4,64%). No ranking do desenvolvimento de educação organizado pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), o Brasil apareceu numa constrangedora 53ª colocação entre os 65 países incluídos na pesquisa.

O lote mais recente de notícias inquietantes não mudou o tom do mais extenso palavrório ufanista desde o Dia da Criação. Começou com a posse de Lula e vai terminar com a posse de Dilma. Teria durado exatamente oito anos se não fossem as três ou quatro semanas de férias em praias isoladas e 10 ou 15 dias de silêncio malandro: não havia o que dizer. O falante incontrolável ficou foragido da imprensa depois do estouro do escândalo do mensalão, depois do acidente com o avião da TAM no aeroporto de Congonhas e depois do primeiro turno da eleição presidencial deste ano. Descontados esses períodos de silêncio, a discurseira não respeitou sequer domingos, feriados e dias santos.

Assim será até a última fala do trono. Sem dinheiro sequer para pagar as  indenizações devidas aos parentes dos militares mortos no Haiti, o presidente que deveria estar afivelando malas embarcou outra vez no trem-bala, anunciou a compra de um avião novo e ordenou a Guido Mantega que mantenha o ritmo da gastança durante a interinidade de Dilma Rousseff. O Brasil que Lula inventou é um pobretão que se faz de rico usando um fraque puído nos fundilhos.

Corumbá