quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Tenho fé ou a defesa do indefensável

Volto a falar do assunto, pelo agravante ético que ele expõe: a absolvição da deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF) por 265 companheiros, em voto secreto.

Tão grave quanto aprovar o passado sujo, foi os deputados votarem às escuras, no anonimato, com medo e talvez até, vergonha – se é que existe – de serem vistos acobertando e aprovando a canalhice, a desonestidade. Medo de que se saiba de sua participação nessa atitude sórdida e que isso comprometa sua elegibilidade futura. Medo que o seu eleitor saiba que o deputado que ele elegeu foi a favor ou contra essa decisão que, em suma, legitima a desonestidade no poder.

Por pressão da sociedade e da mídia, 383 deputados federais aprovaram o fim do voto secreto nas votações do Parlamento.

Voto secreto deve ser o voto do cidadão, que representa sua vontade, seu desejo, que não deve depender de interesses ou imposições de outrem. O Parlamento, com nossos representantes por nós eleitos, deve ter uma posição clara para toda a sociedade que os elegeu. Sua opinião pessoal, na hora de declarar seu voto, deve ser do pleno conhecimento daqueles que os escolhem, permitindo assim uma escolha mais consciente quando for depositar seu voto em seu representante.

O fim do voto secreto morreu nas gavetas do Parlamento tão logo o clamor popular arrefeceu.

Assim, através da obscenidade do voto secreto, a maioria anônima dos deputados federais acaba de nos informar que o passado, mesmo que sujo,  não tem nenhum valor na vida política.

Na minha opinião, a sessão em que a deputada teve seu mandato mantido, foi um dos piores e mais sombrios momentos da Câmara Federal. Um momento sujo, baixo, aético e corporativista em que vale tudo, inclusive defender o que não tem defesa.

Na dificuldade de expor toda minha indignação em palavras frente a essa atitude sórdida e covarde de nossos representantes, reproduzo trecho do editorial do Jornal do Commercio, do Recife, de hoje, que sintetiza meu pensamento a respeito:

“Definitivamente, a Câmara Federal acaba de aprovar a ficha suja, contrariando a vontade popular expressa na iniciativa legislativa que parecia o grande momento de aprimoramento democrático, fazendo-se ouvir o povo e transformando a sua vontade em norma jurídica.”

Pode ser que, pelo menos, esse episódio triste sirva para despertar no País, em cada um de nós, o sentimento de que basta de hipocrisia e desonestidade e que novos votos tornem a nação mais ética e honesta em próximas eleições.

Tomara!

Corumbá