terça-feira, 6 de julho de 2010

Se minha avó fosse bicicleta

Publicado por Luiz Fernando Veríssimo em seu twitter, em 06/07

Mundo, mundo, vasto mundo, se eu me chamasse Eike, não seria uma rima, mas seria uma solução. Mas não me chamo Eike e o "se" não melhora em nada meu saldo bancário. O "se" também não joga futebol e ficar lamentando o que poderia ter sido e não foi só serve para aumentar a dor. Mas...

Se aquelas duas bolas chutadas pelo Kaká tivessem entrado — a que o goleiro holandês defendeu espetacularmente e a que ia no mesmo lugar, mas desviou e passou perto — a história do jogo seria outra. Foram chutes que o Kaká não costuma errar, daí eu destacar este "se" em particular.

Haveria outros: se Felipe Melo tivesse tido uma indisposição antes do jogo — nada grave, algo viral e passageiro — e não jogado. Se o Maicon tivesse feito metade do que faz naturalmente no Inter de Milão, onde é um ala entrão e goleador. Se o Robben nunca tivesse nascido. Mas, como a gente dizia quando era criança: se a minha avó fosse bicicleta, não seria a minha avó, seria um meio de transporte.

Sobre Arjen Robben: o principal atacante holandês foi convocado para a seleção do seu país porque teve uma temporada sensacional no Bayern Munique, que chegou à final da Liga dos Campeões da Europa deste ano contra o Inter de Milão. E Robben só foi brilhar no Bayern Munique e merecer a convocação porque o Real Madrid concordou em vendê-lo depois de contratar Cristiano Ronaldo e Kaká.

Cristiano Ronaldo e Kaká foram duas das decepções desta Copa. Robben, vendido pelo Real Madrid para recuperar um pouco do seu investimento nos dois, está sendo uma das estrelas, mesmo tendo entrado tarde no time devido a uma contusão. Além de tudo que aprontou, o destino ainda nos faz ironias.

A família do Forlán, alma e líder da seleção uruguaia, estava hospedada no nosso hotel em Johannesburgo. Pai, mãe, irmão, irmãs, cunhado, sobrinho, todos bonitos e simpáticos. O Forlán pai também jogou futebol, inclusive no Brasil.

Uma das irmãs, belíssima, é paraplégica e trabalha com a assistência psicológica a sobreviventes de acidentes de carro como o que a vitimou. Todos acompanham o time uruguaio e devem estar na Cidade do Cabo esta noite, torcendo pelo Diego. Se os uruguaios chegarem à final, é possível que voltemos a conviver com os Forlán aqui em Johannesburgo. Um "se" pelo qual se torcer.

Corumbá