quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A nova postura de Dilma Roussef

A candidata petista Dilma Rousseff deixou bem claro no debate da Rede Bandeirantes que sua postura no segundo turno será bem diferente da utilizada na primeira etapa da eleição presidencial.

Já está nítido que a campanha do PT será mais agressiva a partir de agora, com acusações ao tucano José Serra, críticas duras à gestão FHC e o retorno à já conhecida estratégia de colar na imagem do adversário o rótulo de “entreguista defensor das privatizações”.

Ocorre que, para muitos, a nova estratégia petista é um tanto questionável. Normalmente parte para o ataque mais franco o competidor que está em desvantagem. O que lidera tende a ser mais conservador, evitando errar. É assim até mesmo nos esportes.

Com a nova postura, Dilma corre o risco de se mostrar como rude e desequilibrada e não como uma pessoa indignada com os boatos que envolvem seu nome e sua defesa passada da descriminalização do aborto que busca defender sua honra, como afirmam os correligionários que apóiam a estratégia.

Prova de que a estratégia petista é duvidosa é o fato de que na própria cúpula do partido existem reticências. Aparentemente o posicionamento mais agressivo seria defendido por nomes como Ciro Gomes e José Dirceu, mas questionado por Antonio Palocci e o marqueteiro João Santana, homens fortes da campanha durante o primeiro turno.

Fica a sensação de que novos protagonistas foram adicionados à coordenação da campanha e que, com eles, veio a subida do tom. Quem sabe ela tenha se dado mais por ser do agrado destes novos integrantes da cúpula da campanha do que por ser importante para neutralizar os boatos que atingem a candidata, demonstrar a indignação dela e/ou animar uma militância que sentiu um gosto de derrota após a confirmação da existência do segundo turno.

Portanto, não se sabe ao certo se a correção do rumo será positiva e nem o porquê de alguém que lidera as pesquisas estar correndo riscos e ouvindo seus conselheiros mais belicosos.

Alguns dizem que na realidade o PT já sabe de algo que nós não sabemos, como por exemplo a existência de uma curva ascendente de Serra ou algo parecido, tentando estancar o processo desde já.

Me parece, hoje, a explicação mais plausível.

Afinal, por que mais Dilma deixaria de lado o caminho “paz e amor” que elegeu Lula, podendo com isso perder votos, afastar os eleitores de Marina Silva de vez e abrir brechas para ser questionada? Alguns já dizem que ela não mudou a postura – ela está mostrando agora quem é.

Conclui-se que é lógica a resposta de que o PT saiu da zona de conforto e busca uma guinada que altere o rumo da campanha.

Contudo, visa alterar os rumos de uma campanha o lado que está perdendo e as pesquisas apontam vantagem para Dilma, embora reduzida se comparada com a do primeiro turno.

Logo, não parece absurdo imaginar que tenha sido diagnosticado pelo PT, tanto através de pesquisas qualitativas como pela repercussão de temas como o escândalo envolvendo Erenice Guerra e a defesa dos valores cristãos, um viés de alta de Serra.

Isso explicaria tudo. Parece ser a única explicação.

Não é possível que a candidata e sua equipe tenham sido, simplesmente, tirados do sério de forma amadora.

E não se trata aqui de defender um factóide de que a subida de Serra estaria preocupando os petistas, e sim, de constatar que realmente poucas explicações além dessa podem ser apresentadas para o fato de Dilma estar se comportando como pouquíssimos líderes de pesquisa se comportaram ao longo dos anos.

Corumbá

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Novos candidatos?

Enviado por Ateneia Feijó – em 12/10/10

O aparecimento inesperado de uma outra Dilma Rousseff no debate de domingo na TV Bandeirantes causou espanto. A aparição foi logo no minuto inicial. A mulher-Lula meiga e sorridente das campanhas eleitoral e publicitária desincorporou o presidente divinizado dando lugar a uma Dilma até então desconhecida do grande público.

Agressiva, partiu para cima de José Serra querendo lhe cortar as asas logo de saída. Visivelmente espantado com a metamorfose da candidata petista, o tucano revidou com algumas bicadas cuidadosas, evitando que ela se transformasse também em uma personagem "vitimizada".

Como estariam se sentindo, em suas casas, os eleitores telespectadores? Assim, apanhados por aquela onda propagada no ar, transportando estratégias novas no segundo turno da campanha eleitoral à presidência da República?

Seria o efeito Marina Silva? Parece que sim. Seus 20 milhões de votos que derrubaram previsões de institutos de pesquisa teriam convencido os responsáveis pelas campanhas do PT e do PSDB de que o melhor caminho é outro: menos marketing e mais autenticidade.

Entretanto, para esse tipo de movimento é necessário equilíbrio racional e emocional. Nada fácil. Principalmente para quem pratica uma política do século passado dependente, entre outras coisas, de militantes aprisionados ideologicamente a um mundo inteiramente reduzido ao binário direita e esquerda. Que induz ao desejo obsessivo de poder e à busca de unanimidade. Qualquer que seja.

Voltando à Dilma aflorada no debate da Band... O que mais parecia lhe importar naquele momento era acabar com a polêmica sobre o aborto, na qual a envolveram manchetes de jornais, capas de revistas e internet. Tinha ainda o resultado da pesquisa Datafolha mostrando-lhe 48% das intenções de voto contra 41% de Serra. Uma diferença bem menor do que a imaginada. Havia também a constatação de que a maior parte dos votos de Marina teria se transferido para Serra.

Há quem considere a polêmica sobre o aborto motivo da queda de Dilma. Não é bem assim. Afinal, as igrejas mais conservadoras e o fundamentalismo religioso estão presentes principalmente no seu reduto eleitoral: Norte e Nordeste. Onde é Deus no céu e Lula na terra. Além do mais, entre os evangélicos, ela tem o apoio do vice-presidente José Alencar e do reeleito senador Marcelo Crivela, da "poderosa" Igreja Universal.

Independentemente do sensacionalismo na mídia, a discussão sobre o tema foi dimensionada nas ruas e nos lares das classes emergentes exatamente por ser de natureza íntima; mexer com família e sentimentos. Em um país cuja população tem dificuldade em falar sobre temas que envolvam entendimento histórico, econômico, político, científico... posicionar-se em relação a um tabu é uma oportunidade de dar sua opinião. E exercê-la apaixonadamente.

No primeiro turno houve uma tentativa de constranger Marina Silva com a questão do aborto, tentando desqualificá-la como fundamentalista. Ela tirou de letra, assumindo com sinceridade sua posição pessoal, ao mesmo tempo em que se declarava cidadã candidata a presidência de um Estado laico e, portanto, disposta a fazer um plebiscito para a própria sociedade decidir a questão. Sem estresse. Apenas foi ela mesma.

Ateneia Feijó é jornalista

Corumbá