quinta-feira, 16 de julho de 2009

Omissão

Diariamente leio vários jornais, semanalmente algumas revistas. Gosto de assistir os jornais televisivos e fico pulando de um para o outro (quando dá e graças à invenção do controle remoto). Sou meio vidrado em notícias e em documentários.

Mas, as notícias veiculadas pelos meios de comunicação costumam impressionar negativamente. Elas atendem a uma demanda um tanto mórbida das massas, que gostam de saber detalhes de acontecimentos funestos. Fala-se muito em roubos, fraudes, estupros e assassinatos.

Esse contínuo bombardear de manchetes tristes pode produzir resultados bastante negativos no imaginário popular. Talvez alguém conclua ser virtuoso, apenas porque não comete os desatinos noticiados pela mídia.

Ocorre que esse pensamento implica eleger a omissão como conduta desejável.

O panorama do mundo é dinâmico e está em constante evolução. O progresso surge de atos humanos positivos, que são agentes de transformação. Nesse contexto a omissão, como roteiro de vida, é um escândalo.

Em um mundo em perpétuo movimento, quem não avança se atrasa. Quem faz sempre a mesma coisa, fica para trás. Assim, não basta deixar de praticar o mal. Importa primordialmente fazer o bem.

Os contextos mudam com rapidez e talvez a oportunidade de agir corretamente não se repita facilmente. Se um amigo necessitado cruzar o seu caminho, não hesite. Auxilie-o como pode, pois a vida é muito dinâmica. Talvez amanhã você não mais consiga vê-lo com os olhos da própria carne.Sir Edward e a esposa 'optaram por terminar suas vidas ao invés de lutar contra sérios problemas de saúde'

Perante um sofredor que surge à sua frente, evite pensar em excesso antes de estender seu auxílio. É provável que o abraço de hoje seja o início de um longo adeus.

Não adie o perdão e nem atrase a caridade. Abençoe de imediato os que o injuriam. Ampare sem condições os que lhe comungam a experiência terrena.

Se seus pais, velhos e enfermos, parecem um problema, supere-se e apóie-os com mais ternura. Se seus filhos, intoxicados de ilusão, causam-lhe amargas dores, bendiga a presença deles. Em caso de discórdia, seja o que tenta imediatamente a conciliação.

Não hesite perante o trabalho que aguarda suas mãos. Jamais perca a divina oportunidade de estender a alegria. Faça, em cada minuto, o máximo que puder. Qualquer que seja a dificuldade, não deserte do dever. Talvez a oportunidade não se repita.

É possível que você esteja perante seu familiar, seu amigo ou seu companheiro de jornada pela derradeira vez. É melhor dar o melhor de si, a fim de não ter motivos de arrependimento.

Em termos de vida imortal, não fazer o mal é muito pouco, quase nada. O que dignifica e habilita a novas experiências é o bem que se constrói, dentro e fora de si.

Corumbá

Foto: Sir Edward e a esposa 'optaram por terminar suas vidas ao invés de lutar contra sérios problemas de saúde' – BBC Brasil

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Programa de transferência de renda brasileiro.

O Brasil tem um programa de transferência de renda que já foi até muito elogiado no mundo todo.

Sua parte mais visível é o Bolsa Família mas ele não basta em si. Para produzir resultados realmente transferindo renda, a continuidade e complementação do Plano são de suma importância.

Dentro do programa, o Bolsa Família tem como objetivo imediato, amenizar a pobreza e as avaliações iniciais indicam que nesta parte o programa de transferência de renda foi bem sucedido.

Outro objetivo do programa e complementar ao primeiro é acumular capital humano, fazendo os investimentos adicionais em educação e saúde.

Nisso, o cenário é bem menos certo no momento:

No campo educacional, as matrículas aumentaram , mas isso não trouxe melhoria na qualidade. Nas campanhas de vacinação e outras frentes, a saúde vem se destacando, mas é só, no dia a dia, principalmente da classe menos favorecida, houve uma piora considerável – se é que isso era possível.

O problema é que o Bolsa Família passou a ser o foco de todo o programa e isso, que era uma etapa de curto prazo na distribuição de dinheiro, passou a prejudicar o investimento de longo prazo em saúde e educação.

O governo federal confirmou, há duas semanas, que vai elevar ainda neste ano os pagamentos do seu principal programa social e um dos seus maiores trunfos eleitorais.

O próximo estágio para um programa de transferência de renda seria estabelecer uma ligação bem clara com a geração de emprego. Mas essa parte ainda não decolou.

Portanto, o Programa de Transferência de Renda brasileiro vem se resumindo a manter a base eleitoral de Lula, sem nenhuma perspectiva de avançar mais que isso.

É uma pena.

Corumbá

LULA NEM FAZ IDÉIA DE QUEM FOI JK

O presidente Juscelino Kubitschek foi o que o brasileiro gostaria de ser.
O presidente Lula é o que a maioria dos brasileiros é. Incapaz de folhear biografias, sem paciência nem disposição para estudar a História do Brasil, Lula não faz ideia de quem foi o antecessor.

Mas gosta de comparar-se a JK. Primeiro, apresentou-o como exemplo a seguir. Não demorou a descobrir-se, como reiterou no fim de semana, bem superior ao modelo (e infinitamente melhor que todos os outros).

Sedutor, inventivo, culto, cosmopolita, generoso, amante do convívio dos contrários, Juscelino não gostaria de ser comparado a um chefe de governo falastrão, gabola, provinciano, que odeia leituras, inclemente com adversários, a quem culpa por tudo, e misericordioso com bandidos de estimação, a quem tudo perdoa.

Ambos nasceram em famílias pobres, ultrapassaram as fronteiras impostas ao gueto dos humildes e alcançaram o coração do poder. Esse traço comum abre a diminuta lista de semelhanças, completada pela simpatia pessoal, pelo riso fácil e pela paixão por viagens aéreas. Bem mais extensa é a relação das diferenças, todas profundas, algumas abissais.

O pernambucano de Garanhuns é essencialmente um político: só pensa nas próximas eleições. O mineiro de Diamantina foi um genuíno estadista: pensava nas próximas gerações. Lula ama ser presidente, mas viveria em êxtase se pudesse ser dispensado de administrar o país.

Bom de conversa e ruim de serviço, detesta reuniões de trabalho ou audiências com ministros das áreas técnicas e escapa sempre que pode do tedioso expediente no Palácio do Planalto. JK amava exercer a Presidência, administrava o país com volúpia e paixão ─ e a chama dos visionários lhe incendiava o olhar ao contemplar canteiros de obras que Lula visita para palavrórios eleitoreiros.

Lula só trata com prazer de política.

JK tratava também de política com prazer.

O país primitivo dos anos 50 pareceu moderno já no dia da posse de JK. Cinco anos depois, ficara mesmo. O otimista incontrolável inventou Brasília, rasgou estradas onde nem trilhas havia, implantou a indústria automobilística, antecipou o futuro.

Cometeu erros evidentes. Compôs parcerias condenáveis, fechou os olhos à cupidez das empreiteiras, não enxergou o dragão inflacionário. Mas o conjunto da obra é amplamente favorável. Com JK, o Brasil viveu a Era da Esperança.

O país moderno deste começo de milênio pareceu primitivo no momento em que Lula ganhou a eleição. Seis anos e meio depois, ficou mesmo. As grandezas prometidas em 2002 seguem estacionadas no PAC.

As estradas federais estão em frangalhos. A educação se encontra em estado pré-falimentar. O sistema de saúde é lastimável. A roubalheira federal atingiu dimensões amazônicas. Mas Lula está bem no retrato, reiteram os institutos de pesquisa.

Talvez esteja. Primeiro, porque milhões de brasileiros inscritos no Bolsa-Família são gratos ao gerente do programa que os reduziu a dependentes da esmola federal. Depois, e sobretudo, porque o advento da Era da Mediocridade tornou o país mais jeca, mais brega, muito menos exigente, muito menos altivo.

Nos anos 50, o governo e a oposição eram conduzidos pelos melhores e mais brilhantes. O povo que sabia sonhar sabia também escolher melhor. Mereceu um presidente como JK. No Brasil de Lula, mandam os medíocres. O grande rebanho dos conformados tem o pastor que merece.

 

POR AUGUSTO NUNES