sábado, 30 de janeiro de 2010

Plebiscito de araque

Enviado por Ruy Fabiano – em 30/01/10

[Ruy Fabiano] A estratégia de dar conteúdo plebiscitário à campanha eleitoral, sustentada por Lula e PT, está em contradição com o próprio diagnóstico presidencial a respeito destas eleições.

Há algumasclip_image001 semanas, o presidente sublinhou, como aspecto positivo – e indicador de nossa evolução política –, o fato de não haver candidatos de direita. Todos, na sua ótica, seriam progressistas. E isso seria bom.

Mais de uma vez, elogiou a qualidade de cada candidato. De fato, todos – Dilma, Marina Silva e José Serra - vieram da esquerda.

Só Ciro veio da direita. Foi filiado à Arena, partido de sustentação ao regime militar. Mas já fez seu mea culpa e profissão de fé pública no socialismo, com uma veemência rara. É socialista – e ponto.

Nesses termos, o plebiscito não tem cunho ideológico, na base do direita versus esquerda, mas tão-somente personalista, dentro dos padrões populistas mais ortodoxos.

Lula é o referencial. A eleição seria Lula versus “o outro”. O outro é Fernando Henrique Cardoso.

Nenhum dos dois, porém, é candidato. O embate, em princípio, será entre José Serra e Dilma Rousseff, que têm biografias distintas dos seus patronos. Mas o presidente fala claramente nas duas eras: a dele e a de FHC. Povão versus elites.

A era dele, porém, naquilo que apresenta de êxito e substância doutrinária – a política econômica –, decorre da era anterior.

Dá-lhe sequência. Não é casual que, à frente do Banco Central, esteja um ex-tucano, Henrique Meirelles, trazido para a política por Fernando Henrique, que o fez candidatar-se a deputado federal em 2002.

Para sinalizar ao mercado que não mexeria na política econômica – e não mexeu -, trouxe um tucano para o Banco Central. Hoje, Meirelles, filiado ao PMDB, é um dos ícones da Era Lula, que sonha em tê-lo como vice na chapa de Dilma Rousseff.

O outro ponto forte da Era Lula é o Bolsa Família, seu principal cabo eleitoral, que, além de lhe render popularidade, serve para demonizar os adversários, acusados de planejar sua extinção.

Ocorre que mesmo essa polarização é artificial e não resiste a um retrospecto. Quem aderiu ao sistema de bolsas foi o governo Lula, que antes o criticava.

Esse sistema chegou ao formato atual inspirado no Bolsa Educação, concebido nos anos 90 pelo então prefeito de Campinas, hoje já falecido, Roberto Magalhães Teixeira, do PSDB.

O então governador do DF, Cristovam Buarque, encantou-se com a idéia e a trouxe a Brasília. Fernando Henrique gostou e a adotou nacionalmente. Lula, ao contrário, repudiou-a.

São palavras dele, em 2000, disponíveis no YouTube: “Lamentavelmente, no Brasil, o voto não é ideológico, e as pessoas lamentavelmente não votam partidariamente. E lamentavelmente você tem uma parte da sociedade que, pelo alto grau de empobrecimento, é conduzida a pensar pelo estômago e não pela cabeça.

É por isso que se distribui tanta cesta básica. É por isso que se distribui tanto tíquete de leite. Porque isso, na verdade, é uma peça de troca, em época de eleição. E assim você despolitiza o processo eleitoral.

Você trata o povo mais pobre da mesma forma que Cabral tratou os índios quando chegou no Brasil, tentando distribuir bijuterias e espelhos para tentar ganhar os índios. Você tem como lógica a política de dominação, que é secular no Brasil.”

O projeto social de Lula, quando assumiu – e está no discurso de posse –, era o Fome Zero, que não deu certo. O Bolsa Família reúne os programas da Rede de Proteção Social, concebido e conduzido por dona Ruth Cardoso, que incluía ainda itens como vale-gás e bolsa-alimentação.

Fundiu-se tudo num rótulo novo e ampliou-se o número de beneficiados, etapa seguinte à implantação da idéia.

Não há, pois, nem mesmo na política assistencialista, o contraste indispensável aos plebiscitos, que é o choque de idéias ou projetos antagônicos.

O que há é a velha luta por cargos entre PSDB e PT, cuja origem é São Paulo, berço de ambos. São os irmãos Karamazov da política brasileira. Não se entendem, mas se parecem.

O tom plebiscitário artificial que se quer impor à campanha serve, como dizia Lula em 2000, para “despolitizar o processo eleitoral” e manter “como lógica a política de dominação”.

A massa, atenta ao Bolsa Família, continuará a “pensar com o estômago”, já que as questões mais relevantes estarão à margem dos debates.

Pior para os debates. Pior para o eleitor.

Ruy Fabiano é jornalista

Corumbá

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Porque Pagot quer a prisão de Adriana Vandoni

Publicamos ontem, 25, em nosso Blog do Corumbá a postagem “Juiz aceita pedido de prisão contra blogueira”, informando que a juíza Flávia Catarina Amorim aceitara a queixa-crime feita por Luís Pagot, diretor do Dnit, pedindo a prisão de Adriana Vandoni. Hoje, em seu blogue, ela descreve como a situação começou e como chegou ao absurdo que chegou. Transcrevemos sua postagem na íntegra:

 

pagot(Adriana Vandoni) Desde dezembro de 2008 que Luís Pagot, diretor do Dnit, tenta me processar. Primeiro foi uma interpelação judicial, que a juíza extinguiu antes mesmo de ter audiência. Na época ele fez o seguinte: Um jornal local, daqueles que circulam apenas em gabinetes, pegou um post meu, colocou outro título e publicou. Na interpelação judicial, Pagot queria que eu explicasse a frase que o jornalista tinha colocado no título. Obviamente que eu não tinha como responder por ato de outro, que eu nem conheço. Aliás, a primeira vez que ouvi falar no tal jornal foi através da ação.

Pois bem, em janeiro de 2009 a juíza, a mesma Flávia Catarina, extinguiu a interpelação. Nesse mesmo mês Pagot entrou com a queixa-crime. Como vocês poderão ler na ação, ele me responsabiliza até por um artigo escrito pela Ruth de Aquino, diretora da Revista ÉPOCA no Rio de Janeiro. É mole? Responsabiliza-me por escrever matérias opinativas com base em relatórios do TCU, sem, repare bem, sem apurar. Veja, o TCU faz uma auditoria, publica o relatório e eu, antes de escrever, tenho que apurar os dados. Francamente!!! Esse cara acha que sou polícia.

Continuando. Em julho de 2009 aconteceu a audiência de conciliação, obrigatória antes de aceitar ou não a queixa-crime. Dela participaram além de mim e de Pagot, a juíza Flávia Catarina e o promotor de justiça e DJ Marcos Regenold. Por quase três horas eles tentaram me convencer de não ser processada, em troca, primeiro eu teria que me comprometer a não mais escrever “jocosamente” de Pagot, o promotor abriu meu blog durante a audiência e entre uma conversa e outra no MSN, ele leu alguns textos e chegou à conclusão que eu escrevo de forma “jocosa”. Sem acreditar no que estava escutando, pedi que fizessem uma lista de termos “jocosos”. Não conseguiram.

Depois veio a trágica proposta de enviar à Pagot tudo que escrevesse sobre ele, para sua prévia aprovação ou não. Obviamente eu até ri da idéia. Por fim a juíza perguntou se tinha ou não acordo. Respondi que não, pois se eu aceitasse qualquer proposta, estaria assumindo os crimes que Pagot diz que cometi e que a única forma de provar que não sou criminosa, é levando este processo adiante. Vamos num tribunal ver quem mente e quem pratica atos criminosos.

Portanto, estou tranquila, sei o que escrevo, assumo minhas opiniões, não invento, não oculto meus atos, nem uso terceiros para fazer por mim. Minha vida é limpa e transparente. Nunca fui acusada de ímproba, e nunca vivi dependendo do dinheiro público.

Na época Pagot escreveu em alguns jornais de MT, que o processo era para servir de exemplo a quem falasse dele e para para defender a sua honra, aviltada por mim. É mole? E pelo Brasil inteiro, suponho.

Pois bem, escrevi naquela mesma época e repito hoje: não tenho medo de Pagot ou de quem quer que seja, que venha ele e uma tropa inteira de Pagots, porque se tem uma honra aviltada aqui, é a minha e da população brasileira, que paga os impostos que lhe pagam o salário, para ter serviço deficiente e infraestrutura precária. Ele sim, tem a nos explicar, nos prestar conta. Nós bancamos suas regalias e continuamos vítimas em potencial dos buracos das estradas brasileiras.

Agora um recadinho a Pagot: meu anjo, eu já tinha até me esquecido de sua existência, lembrava apenas quando seu nome aparecia em relatórios do TCU ou da Polícia Federal, mas como o processo continua, terá em mim uma atenta observadora dos atos do homem público, que trabalha com o dinheiro do povo e deve explicação.

Publicado por Adriana Vandoni em 26/01/2010

Corumbá