quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Lula desafia Lina…

Vez por outra lembramos que política é coisa para profissional. Afora o calor de um debate, a regra é que as declarações de um ator político sejam calculadas. As mensagens enviadas ao público via imprensa são pensadas em várias etapas. Desde o escalado para falar (a depender da autoridade e da credibilidade) até a forma como o conteúdo será tratado. Não se fala de graça. Todo pronunciamento tem um objetivo certo. Muitas vezes pode parecer tolo, despropositado, mas nas entrelinhas há sempre um recado para aliados e/ou adversários.

Faz mais de uma semana que o disse-me-disse entre  a ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ocupa o noticiário. Lina ontem foi ao Senado falar sobre o tema. Por enquanto, é a palavra de uma contra a da outra. E mesmo assim, mesmo sem ter apresentado, até o momento, provas de ter sido pressionada a encerrar uma investigação contra a família Sarney a mando de Dilma, o assunto rende. Por quê?

Simples. Dilma não tem credibilidade. Já foi pega mentindo em várias ocasiões, como quando negou ter produzido um dossiê contra o ex-presidente FHC e depois, comprovada a existência do dossiê, ela passou a chamá-lo de “banco de dados”. Também teve o caso do falso currículo apresentado pela ministra, que dizia ser mestra e doutora, e que depois foi desmentida pela revista Piauí e pela Unicamp.

Mas mesmo um mentiroso – no caso, mentirosa – pode, eventualmente, falar a verdade. Pode ser que Dilma não tenha feito o que Lina disse. Nesse caso, não haveria porque se preocupar tanto. Mentira, como bem sabe a ministra, tem perna curta.

Desta feita, é curioso e aparentemente um exagero ver Lula escalado para desafiar uma ex-subalterna de segundo escalão.

Há duas hipóteses para a ação de socorro. Lula tenta desqualificar a acusadora montado em sua popularidade porque já teria percebido que a imagem da ministra foi duramente atingida por uma simples acusação – fato que pode minar a candidatura dela, por se apresentar demasiadamente frágil a ataques. Ou então, bem, Lula sabe que Dilma tem culpa no cartório e que o caso tem potencial para se transformar em um escândalo daqueles.

É sintomático que seja necessária a ação do presidente. Normalmente, para ajudar a colega seriam escolhidos parlamentares, ministros, como o da Fazenda , ou mesmo o atual secretário da Receita, sei lá. Mas se Lula entrou no disse-me-disse foi por cálculo. Nunca é de graça.

Baseado em texto do Wanfil

Corumbá

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O Estado e o Povo

Assisti hoje de manhã na televisão, o jornal local de uma emissora, tratar do retorno da greve dos médicos e atendentes da saúde do Estado e o atendimento e a remarcação das consultas.

Em um dado momento, a repórter entrevistou o Diretor do Hospital da Restauração (HR) o maior Hospital Público do Estado de Pernambuco.

As palavras desse cidadão que suponho ser médico, Diretor de um hospital público, portanto, membro ativo do Governo do Estado, me chamaram a atenção tanto pela insensibilidade quanto pela dicotomia entre o que o Estado propaga que faz e o que realmente ele faz. Há alguma coisa errada nisso tudo! Não é possível que um membro do governo (qualquer governo) trate com tamanha falta de responsabilidade e com tamanho desprezo as necessidades do povo humilde que dele depende!

Durante vários dias o hospital ficou fechado, as consultas não foram atendidas e a população sofreu sem atendimento enquanto a classe da “saúde” reivindicava “melhores condições de trabalho”. O povo, humilde, doente (pois quem marca consulta não está bem de saúde) muitas vezes vindo do interior, de madrugada, só Deus sabe em que condições, pede somente “melhores condições de saúde”. Mas não é atendido e tem que retornar, doente e sem tratamento, para sua casa. Não é justo!

Agora, hoje de manhã, com o fim da greve, várias pessoas se aglomeravam em frente ao hospital para “remarcar” a consulta. Como remarcar? Por que remarcar? Isso deveria ser feito automaticamente para evitar que o doente tenha que ir ao HR (inclusive do interior) só para "marcar a consulta” e voltar para casa sem ser atendido. Isso não é humano!

E sabe o que aconteceu hoje de manhã? Não foram atendidos pois, segundo o citado diretor, “como foi amplamente divulgado, a remarcação só terá início amanhã”. Todos voltam para suas casas, doentes, sem atendimento para voltarem amanhã para “remarcar a consulta”. Falta amor e consideração numa atitude dessas!

A repórter pergunta sobre a marcação de novas consultas e o imponente diretor responde, “só a partir de 1° de setembro”.

Fico sem palavras para descrever o estado em que me sinto ao ver um representante público, médico, humano, tratar dessa forma um semelhante seu, carente, necessitado de socorro, doente e que tem que “remarcar” uma consulta que não foi feita porque o médico estava “reivindicando melhores condições de trabalho”. Quantas dessas pessoas, doentes, sobreviveram e sobreviverão às suas doenças e a esse descaso para serem atendidos nessa nova consulta? Isso não faz diferença para esse senhor? E o governo que ele representa, o que pensa desses doentes? O que dirá aos seus parentes quando, agravados pela falta de atendimento, o doente falecer? Isso é ser social?

Só uma palavra descreve isso, desrespeito! Desrespeito ao homem, desrespeito à sociedade, desrespeito à profissão, desrespeito a si mesmo e a seu ideal de vida, desrespeito a Deus. Ninguém pode estar tranquilo consigo mesmo quando tanta gente sofre por causa de suas ações. Eu não acredito que uma pessoa dessas tenha a consciência tranquila e durma em Paz.

Não é justo!

Corumbá

De amor e de ódio

Assistimos recentemente cenas que não imaginávamos serem possíveis sobre o amor e o ódio. Dizem que ambos são vizinhos e moram no coração em quartos conjugados, mas acordam e dormem em momentos diversos: se o ódio acorda, o amor dorme. E vice versa.

Talvez isso possa explicar o relacionamento entre pessoas que tanto se odiaram em momentos passados e vice versa.

Estamos falando do presidente Lula, do ex-presidente Fernando Collor e do atual presidente do Senado, José Sarney. Por que estariam eles aos abraços elogiando-se radicalmente? Vamos lembrar:

Lula disse que Sarney era “o grande ladrão da República”; Lula e o PT travaram contra Collor uma guerra de extermínio que culminou e findou com o massacre do adversário na lona, posto fora da presidência; Por seu lado e vez, Collor chamou o Sarney de “batedor de carteira” e, sobre Lula, em campanha, disse que o adversário ia expropriar propriedades das pessoas, em sendo eleito; Fora o caso, às vésperas das eleições, de levar uma ex-companheira de Lula para acusá-lo de aborto e outras paranoias do gênero; Sarney teve que aguentar, segundo ele, mais de 1200 greves patrocinadas por Lula e o PT e, sobre Collor, já o descreveu como “um homem profundamente transtornado”.

Mas porque isso ocorre? Como podem pessoas que se odiavam, que cuspiam à simples referência do outro, estarem do mesmo lado, na mesma luta, defendendo-se entre si?

O cidadão comum já tem a definição na ponta da língua: “safadeza”, “não conheço político honesto”, “é tudo corrupto e ladrão”, e por aí vai.

Precisamos observar que os políticos são frutos da sociedade que os elege. Assim como os políticos, as pessoas também são corruptas e desonestas. Mas não são todas. E não são todos os políticos. Aí está o risco da generalização. Em toda a sociedade, em todas as profissões, existem as pessoas sérias e honestas e existem os inescrupulosos e os desonestos.

Generalizam, por exemplo, que todo cabeleireiro é homossexual. Não é verdadeira a generalização. Os homossexuais, por afinidade e por sensibilidade se identificam com essa profissão mas isso não significa que para ser cabeleireiro o indivíduo tenha que ser homossexual.

Como os políticos estão mais expostos, a generalização é quase imediata, “é tudo farinha do mesmo saco”.

Mas, voltando ao assunto inicial, por que, então, nossos citados políticos se subvertem, se achincalham e se protegem? Por que estão do mesmo lado?

Por uma coisa bem simples e sua consequência imediata: o poder. E a governabilidade. Para se manter no poder, as alianças são necessárias, os acordos têm que ser satisfatórios para proteger os interesses declarados ou não.

Hoje, Lula, Renan. Collor e Sarney estão do mesmo lado, aquele país velho que permite emprego para todos os “cumpanhêro” do PT, que permite manter o voto cabresto tanto no Maranhão quanto nas Alagoas. O Brasil que lhes interessa é o mesmo, aquele que permite financiar ONGs criadas pelos amigos, passar dinheiro para suas empresas “terceirizadas”, sustentar entidades sindicais, calar a UNE etc. O que movimenta todo esse pessoal é exatamente a mesma coisa, o que o poder pode lhes dar: dinheiro.

Empregos, verbas, financiamentos, empresas de rádio e televisão, licenças, isenções, anistia, tudo aquilo que o poder permite que seja tirado da máquina estatal.

E é por isso que eles estão agora do mesmo lado, poder manter o poder. E isso, como já o disse Lula, chama-se governabilidade. Ter e dar liberdade para ação desde que todo o poder seja mantido.

Aquela ilusão de pureza do PT, o único partido verdadeiro e ético, acabou. Alguém disse, “se queres conhecer uma pessoa, dê poder a ele”. E foi o que aconteceu com Lula e o PT, mostraram a que vieram. Mostraram que o que queriam era “mamar” também. Nada mais que isso.

Agora, então, todos estão do mesmo lado e não têm porque se odiar. Têm todos que trabalhar para eleger Dilma Rousseff, aumentar o número de senadores da base do governo para garantir (novamente) o poder e, em 2014, eleger Lula de novo. Cada um no seu pedaço e o povo com o Bolsa Família e a Copa do Mundo (pão e circo).

Mas, de repente, o problema de Lula pode não ser o convívio e a manutenção com os aliados de agora e, sim, talvez, nos aliados de outros tempos.

Começa a ser comentado e até anunciado que a ex-ministra Marina da Silva, trinta anos de militância no PT, está pensando em sair do partido e abrir nova frente de luta para concorrer à presidência da República, batendo de frente com Dilma Rousseff, a candidata de Lula.

Aí, Lula tem um problema. Acostumado a comprar aliados por necessidades iguais, a manipular cargos e apoios em troca de favores, Lula tem pela frente agora uma mulher que veio de baixo, alfabetizou-se aos 16 anos, formou-se, tornou-se ministra do Meio Ambiente em seu governo onde vinha realizando um bom trabalho até “trombar” com a Dilma, tem mais carisma que ela e, pode até ter ideias não muito claras a respeito do que quer, mas não trocaria nenhuma delas por um cargo de diretoria em nenhum lugar do governo.

Com esse tipo de gente, política, honesta, íntegra e ciente de sua responsabilidade com quem a elegeu, Lula não sabe negociar.

Por isso, generalizar não é boa coisa, tem sempre trigo no meio do joio. E esperança no meio na sujeira.

Corumbá