segunda-feira, 17 de agosto de 2009

De amor e de ódio

Assistimos recentemente cenas que não imaginávamos serem possíveis sobre o amor e o ódio. Dizem que ambos são vizinhos e moram no coração em quartos conjugados, mas acordam e dormem em momentos diversos: se o ódio acorda, o amor dorme. E vice versa.

Talvez isso possa explicar o relacionamento entre pessoas que tanto se odiaram em momentos passados e vice versa.

Estamos falando do presidente Lula, do ex-presidente Fernando Collor e do atual presidente do Senado, José Sarney. Por que estariam eles aos abraços elogiando-se radicalmente? Vamos lembrar:

Lula disse que Sarney era “o grande ladrão da República”; Lula e o PT travaram contra Collor uma guerra de extermínio que culminou e findou com o massacre do adversário na lona, posto fora da presidência; Por seu lado e vez, Collor chamou o Sarney de “batedor de carteira” e, sobre Lula, em campanha, disse que o adversário ia expropriar propriedades das pessoas, em sendo eleito; Fora o caso, às vésperas das eleições, de levar uma ex-companheira de Lula para acusá-lo de aborto e outras paranoias do gênero; Sarney teve que aguentar, segundo ele, mais de 1200 greves patrocinadas por Lula e o PT e, sobre Collor, já o descreveu como “um homem profundamente transtornado”.

Mas porque isso ocorre? Como podem pessoas que se odiavam, que cuspiam à simples referência do outro, estarem do mesmo lado, na mesma luta, defendendo-se entre si?

O cidadão comum já tem a definição na ponta da língua: “safadeza”, “não conheço político honesto”, “é tudo corrupto e ladrão”, e por aí vai.

Precisamos observar que os políticos são frutos da sociedade que os elege. Assim como os políticos, as pessoas também são corruptas e desonestas. Mas não são todas. E não são todos os políticos. Aí está o risco da generalização. Em toda a sociedade, em todas as profissões, existem as pessoas sérias e honestas e existem os inescrupulosos e os desonestos.

Generalizam, por exemplo, que todo cabeleireiro é homossexual. Não é verdadeira a generalização. Os homossexuais, por afinidade e por sensibilidade se identificam com essa profissão mas isso não significa que para ser cabeleireiro o indivíduo tenha que ser homossexual.

Como os políticos estão mais expostos, a generalização é quase imediata, “é tudo farinha do mesmo saco”.

Mas, voltando ao assunto inicial, por que, então, nossos citados políticos se subvertem, se achincalham e se protegem? Por que estão do mesmo lado?

Por uma coisa bem simples e sua consequência imediata: o poder. E a governabilidade. Para se manter no poder, as alianças são necessárias, os acordos têm que ser satisfatórios para proteger os interesses declarados ou não.

Hoje, Lula, Renan. Collor e Sarney estão do mesmo lado, aquele país velho que permite emprego para todos os “cumpanhêro” do PT, que permite manter o voto cabresto tanto no Maranhão quanto nas Alagoas. O Brasil que lhes interessa é o mesmo, aquele que permite financiar ONGs criadas pelos amigos, passar dinheiro para suas empresas “terceirizadas”, sustentar entidades sindicais, calar a UNE etc. O que movimenta todo esse pessoal é exatamente a mesma coisa, o que o poder pode lhes dar: dinheiro.

Empregos, verbas, financiamentos, empresas de rádio e televisão, licenças, isenções, anistia, tudo aquilo que o poder permite que seja tirado da máquina estatal.

E é por isso que eles estão agora do mesmo lado, poder manter o poder. E isso, como já o disse Lula, chama-se governabilidade. Ter e dar liberdade para ação desde que todo o poder seja mantido.

Aquela ilusão de pureza do PT, o único partido verdadeiro e ético, acabou. Alguém disse, “se queres conhecer uma pessoa, dê poder a ele”. E foi o que aconteceu com Lula e o PT, mostraram a que vieram. Mostraram que o que queriam era “mamar” também. Nada mais que isso.

Agora, então, todos estão do mesmo lado e não têm porque se odiar. Têm todos que trabalhar para eleger Dilma Rousseff, aumentar o número de senadores da base do governo para garantir (novamente) o poder e, em 2014, eleger Lula de novo. Cada um no seu pedaço e o povo com o Bolsa Família e a Copa do Mundo (pão e circo).

Mas, de repente, o problema de Lula pode não ser o convívio e a manutenção com os aliados de agora e, sim, talvez, nos aliados de outros tempos.

Começa a ser comentado e até anunciado que a ex-ministra Marina da Silva, trinta anos de militância no PT, está pensando em sair do partido e abrir nova frente de luta para concorrer à presidência da República, batendo de frente com Dilma Rousseff, a candidata de Lula.

Aí, Lula tem um problema. Acostumado a comprar aliados por necessidades iguais, a manipular cargos e apoios em troca de favores, Lula tem pela frente agora uma mulher que veio de baixo, alfabetizou-se aos 16 anos, formou-se, tornou-se ministra do Meio Ambiente em seu governo onde vinha realizando um bom trabalho até “trombar” com a Dilma, tem mais carisma que ela e, pode até ter ideias não muito claras a respeito do que quer, mas não trocaria nenhuma delas por um cargo de diretoria em nenhum lugar do governo.

Com esse tipo de gente, política, honesta, íntegra e ciente de sua responsabilidade com quem a elegeu, Lula não sabe negociar.

Por isso, generalizar não é boa coisa, tem sempre trigo no meio do joio. E esperança no meio na sujeira.

Corumbá

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