domingo, 20 de dezembro de 2009

Miriam Leitão em Copenhagen

Enviado por Míriam Leitão e Alvaro Gribel em 20/12/09.

Reproduzido aqui pela oportunidade e pelo momento:

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A COP-15 não mudou o mundo, mas mudou o Brasil. A Conferência do Clima e a competição eleitoral fizeram a posição do Brasil se mover na direção certa. Há três meses, o Brasil tinha um discurso velho. Hoje, tem metas e um caminho. Um erro foi nomear a ministra Dilma como chefe da delegação. Sem ter nada a ver com coisa alguma, ela se apagou na negociação.

COP não é palanque. Aqui, em Copenhague, travou-se uma batalha de sutilezas escorregadias, de detalhes técnicos complexos, de linguagem cifrada. Numa situação assim, é fundamental conhecer o terreno, a técnica e o tema. Dilma Rousseff é recém- chegada à questão climática. Na verdade, seu histórico é hostil à causa que motiva todo esse esforço. Ao ser escolhida, ela imprimiu à atuação brasileira um amadorismo insensato. Além disso, neutralizou alguns dos nossos mais bem treinados negociadores.

O patético final da Conferência deixou a confusão brasileira mais aparente. Todo mundo foi saindo, e o ministro Carlos Minc assumiu a negociação, apesar de ter sido expressamente afastado de outras etapas das conversas e destratado pela ministra Dilma na primeira entrevista em Copenhague. Foi Carlos Minc que tirou o Brasil da envelhecida posição de se negar a assumir compromissos de redução da emissão. E foi apenas por ter mudado sua posição que o Brasil não chegou a Copenhague em situação constrangedora.

Na noite da última sexta, no fim da Conferência, um dos remanescentes da equipe brasileira era o embaixador especial do Clima Sérgio Serra. Apesar do título do seu cargo, Serra para entrar na salas das conversas precisava do crachá deixado por Marco Aurélio Garcia, outro que não se sabe o que fazia em Copenhague.

Na noite da negociação entre os 25 chefes de Estado, de quinta-feira, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, veterano de COPs, subiu o elevador do hotel onde estava hospedado com rosto de desconsolo, depois de admitir a jornalistas que não sabia o que estava acontecendo. Celso Amorim foi, entre outras reuniões, o grande negociador de Bali, onde, junto com a então ministra Marina Silva, trabalhou na negociação do Mapa do Caminho.

Na noite do Bella Center, o presidente Lula foi para uma reunião dos chefes de Estado sem Amorim e sem o embaixador Luiz Alberto Figueiredo. Os dois têm experiência, são profissionais treinados.

Quando Dilma Rousseff chegou a Copenhague, Figueiredo teve que acompanhar a ministra em reuniões que não tinham nada a ver com o andamento da negociação. Visivelmente constrangido.

Dilma, nos primeiros dias, se dedicou a atividades políticas para a delegação brasileira, que tinha o extravagante número de 700 pessoas. Fez discursos políticos para os aplausos dos áulicos em que confundia conceitos elementares do mundo climático, ou tropeçava nos atos falhos. A atividade formal à qual tinha que ter ido era a abertura oficial do segmento ministerial. Ela era a brasileira nesse segmento. Na hora da reunião com o secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, o príncipe Charles e a Nobel Wangari Maathai, Dilma convocou uma coletiva, na qual se dedicou a criticar a proposta feita pela senadora Marina Silva e pelo governador José Serra, seus prováveis competidores nas eleições de 2010. Aliás, a proposta de doação brasileira para um fundo foi defendida depois pelo próprio presidente da República.

Houve momentos constrangedores. Quando chegou à primeira reunião, para ser informada do que estava acontecendo na negociação cuja chefia ela iria assumir, a pergunta feita por Dilma Rousseff foi:

— Qual é a agenda da Marina e do Serra?

De Copenhague, também ela se mobilizou para adiar a votação de um projeto que poderia desafinar com o discurso feito pelo Brasil aqui. Era o projeto chamado "Floresta Zero". Outro foi aprovado com o apoio e mobilização da base parlamentar, o que reduziu os poderes do Ibama e deixou aos estados o poder de decisão sobre a reserva legal.

O governo brasileiro começou a mudar tão recentemente que os sinais da velha forma de pensar estão em todos os lugares. Por isso, a lei de mudança climática aprovada no Congresso tem escrita a seguinte sandice: diz que as metas são voluntárias. Alguém já viu uma lei que estabelece que aquilo que legislou é voluntário? Se está na lei, é lei.

A participação brasileira ganhou musculatura quando o presidente Lula chegou e estabeleceu seu contato direto com os outros chefes de Estado, mas ter ido embora, antes do fim, levando a chefe da delegação, já mostrava como foi sem sentido sua decisão de nomeá-la.

A estratégia político-eleitoral do Planalto era aproveitar a COP e pôr a ministra-candidata em contato com grandes líderes, produzir declarações e imagens para ser usadas na campanha. Em outros eventos está sendo feito isso. Mas numa negociação como essa a decisão foi a mais sem sentido que poderia ter sido tomada. Com o aumento da tensão negociadora, o Brasil foi se apagando na mesa de negociação, em parte porque os especialistas foram afastados e em parte porque ela não tinha condições de chefiar o grupo.

A reunião de Copenhague ficará na História como um momento de insensatez das lideranças do mundo. Em que se desperdiçou uma oportunidade de ousar e construir o futuro. Em que se escolheu uma resposta medíocre diante de um vasto desafio.

Para o Brasil, ficou este outro sinal assustador: de que o governo quer usar qualquer momento, mesmo o mais inadequado, para montar palanques para a sua candidata.

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O que não deixa de ser uma pena.

Corumbá

Uma duvidosa aposta diplomática

A imagem negativa do Brasil aumenta em Washington após críticas públicas aos EUA e a Obama. Esta é a análise do jornalista Paulo Sotero* que nos foi enviada hoje e que publicamos na íntegra:

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Um sentimento negativo está rapidamente tomando o lugar da disposição favorável ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva e à crescente presença internacional do Brasil que prevaleceu em Washington até poucos meses atrás. Críticas aos EUA e ao próprio presidente Barack Obama feitas publicamente por altos funcionários brasileiros indicam que a recíproca é verdadeira.

Mediocridades sobre o caráter normal de diferenças na relação madura que supostamente existe entre os dois países, repetidas na semana passada por funcionários de ambos os governos - após uma rápida viagem inaugural a Brasília do novo secretário de Estado-adjunto para as Américas, Arturo Valenzuela -, indicam que a visita não alterou as percepções.

Divergências entre Brasil e os EUA sobre Honduras e outros episódios menores certamente contribuíram para criar animosidade. Esta se alimenta principalmente, porém, da decisão de Lula de emprestar seu prestígio pessoal e a credibilidade internacional do Brasil ao líder do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, recebendo-o em Brasília, e, depois, oferecendo os serviços do Brasil como mediador “freelancer” do gravíssimo confronto entre Teerã e Washington e seus aliados em torno do programa nuclear iraniano - questão estratégica número um do governo Obama.

A iniciativa mobilizou o influente lobby pró-Israel em Washington, que atua tanto no Executivo como no Legislativo, e pode causar danos a interesses comerciais brasileiros. Nesse ambiente, até a controvérsia em torno da custódia do menino Sean Goldman, que corria em via própria na Justiça, acabou politizada.

Na quinta-feira, o senador Frank Lautenberg, democrata de New Jersey, o Estado do pai de Sean, David Goldman, bloqueou a aprovação de lei que renovaria a concessão de isenções tarifárias a certas exportações do Brasil e outros países em desenvolvimento, em reação à decisão do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, de conceder liminar à avó materna de Sean e sustar a sentença que ordenou a devolução do menino ao pai.
É um sentimento que vai da perplexidade dos diplomatas do Departamento de Estado à mal disfarçada hostilidade de altos funcionários de outras áreas do governo, incluindo a Casa Branca - setores que até recentemente aplaudiam o governo Lula e a ascensão do Brasil na cena global.

Moisés Naim, editor da revista Foreign Policy, diz hoje que "o Brasil se comporta como um país em desenvolvimento imaturo e ressentido". Críticas públicas aos EUA e a Obama feitas em semanas recentes por Lula, pelo chanceler Celso Amorim e pelo assessor internacional do Planalto, Marco Aurélio Garcia, reforçaram conclusões semelhantes no lado oficial.

Causou espanto, por exemplo, a afirmação feita por Lula sobre a falta de "autoridade moral" dos EUA para negociar questões de não proliferação nuclear, no momento em que despachava Celso Amorim ao Irã para uma improvável missão junto a Ahmadinejad, depois de Teerã ter rejeitado a proposta de acordo apresentada pela Agência Internacional de Energia Atômica, que tornaria o programa nuclear iraniano compatível com suas obrigações de signatário do Tratado de Não Proliferação. A crítica foi tomada como prova adicional da gratuidade da oferta brasileira de mediação. O ataque mereceu registro, também, porque foi o governo Obama que reintroduziu o desarmamento na política de não proliferação dos EUA, ausente no governo do ultraconservador George W. Bush, cuja política nuclear não mereceu maiores reparos de Brasília.

Reforçaram a perplexidade americana indícios de que Lula deixou-se usar pelo líder iraniano, assim como informações publicadas pela imprensa brasileira e atribuídas a fontes diplomáticas de Brasília, segundo as quais Lula teria atuado no caso do Irã com o incentivo ou o beneplácito de Washington. Segundo um alto funcionário, diplomatas brasileiros "extrapolaram" afirmações circunstanciais, do tipo "boa sorte", que ouviram de colegas americanos depois que a visita de Ahmadinejad foi confirmada. "O Irã é hoje o terceiro trilho da política externa dos EUA", disse a fonte, referindo-se ao condutor de eletricidade de alta tensão que movimenta os trens do metrô.

Se havia dúvida, a secretária de Estado tratou de elucidá-la num breve discurso sobre as relações dos EUA com a América Latina, no dia 11. "Creio que as pessoas que querem flertar com o Irã deveriam prestar atenção às consequências", disse ela. Em contraste, a liderança brasileira em temas nos quais o país é relevante e tem influência - como no caso das questões ambientais - continua aparentemente a ser vista com bons olhos pelos EUA.

Chama a atenção em Washington o que um assessor parlamentar chamou de "esquizofrenia" da diplomacia brasileira. Segundo o assessor, para um governo preocupado com "autoridade moral" na ação externa, deveria ser evidente a contradição entre a insistência do Brasil no mais estrito respeito às regras da democracia em Honduras e o endosso oficial a Ahmadinejad, que chegou ao poder após uma eleição fraudulenta. A percepção negativa sobre a política externa do final do governo Lula, que se cristaliza em Washington, é certamente influenciada pelas fortes críticas que veteranos diplomatas brasileiros como Rubens Ricupero, Rubens Barbosa e Roberto Abdenur, todos ex-embaixadores nos EUA, vêm publicando.

"É compreensível que os governos tomem decisões de política externa mirando objetivos domésticos, mas é difícil vislumbrar os dividendos políticos que o Brasil possa obter diminuindo-se à condição de coadjuvante das políticas da Venezuela e do Irã", afirmou um alta fonte do governo. O funcionário adiantou que não se devem esperar grandes gestos por parte dos EUA, como, por exemplo, uma visita de Obama ao Brasil, que já esteve mas não está mais na pauta.

Realisticamente, a melhor notícia será a retomada do diálogo diplomático pleno com a chegada a Brasília no início do ano do novo embaixador americano, Thomas A. Shannon, e do novo embaixador do Brasil em Washington, Mauro Vieira.

* Paulo Sotero, jornalista, foi correspondente do jornal "O Estado de São Paulo" em Washington, onde hoje dirige o Brazil Institute, do Woodrow Wilson International Center for Scholars

Corumbá

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Deputado Dutra não acompanhou o presidente Lula em visita ao Maranhão

O Deputado Domingos Dutra (PT-MA) foi convidado pela comitiva presidencial para acompanhar o Presidente Lula, que visitou São Luís na última quinta-feira (10), mas declinou o convite.  O Deputado enviou carta ao Presidente Lula, explicando a ausência. Dói ler a frustração de um homem que acreditou que era possível. Transcrevemos a carta na íntegra:

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Brasília, 09 de dezembro de 2009

Companheiro Presidente Luis Inácio da Silva – Lula

Declino, com tristeza e pesar, o convite para integrar a comitiva presidencial que estará neste dia 10 em São Luís do Maranhão.

Assim como milhares de petistas, lutei e sonhei com o momento em que o teria  entre nós como o Presidente do Brasil para anunciar boas novas que diminuirão a pobreza e a escravidão do nosso povo.

V. Ex é testemunha e deve se lembrar do sofrimento que passamos no processo de construção do PT e de sua própria liderança, quando enfrentamos os filhos da ditadura, os vampiros do nosso povo, os devoradores dos sonhos de nossa gente, representados pelo grupo político comandado pelo Senador José Sarney.

V. Ex ainda deve se lembrar dos atos públicos que fizemos na Praça Deodoro, denunciando as barbaridades da oligarquia; das caminhadas avermelhadas pela rua Grande, arrastando multidões gritando “Fora Sarney”; da emocionante subida da ladeira do Jacaré para verificar  a olho nu o abandono do município de Alcântara; da Caravana da Cidadania que, saindo de Caxias, espalhou esperanças entre os quilombolas de Codó; as quebradeiras  de coco de São José dos Mouras, em Lima Campos; perante as viúvas de lavradores vítimas do latifúndio, aliado e sustentado pelo grupo dominante; do ato público realizado na empoeirada cidade de Buriticupu; do espanto  nas usinas de ferro gusa de Açailândia, causado pela queima desmedida e sem controle de madeira nativa; e do grandioso encerramento da caravana em Imperatriz, com discursos radicais de condenação à pobreza do povo maranhense.

V. Ex deve se recordar da última vez que esteve em São Luís, há exatos 11 anos, para participar, em 1998, do comício em apoio à minha candidatura a Governador do Maranhão quando, embora sem qualquer estrutura, me submeti ao delicioso sacrifício de apoio à sua candidatura a Presidente da República enfrentando o rolo compressor da campanha de Fernando Henrique Cardoso, que foi apoiado por dois mandatos pela mesma turma que hoje lambe os seus pés para se aproveitar de seu governo e de sua popularidade.

Não posso esconder a decepção de não poder compartilhar deste momento em que V. Ex retorna à minha terra, agora como Presidente da República que ajudamos a eleger e que realiza um governo exitoso.

Estou triste, porém a minha consciência não me permite estar no mesmo palanque de um grupo político que há mais de quarenta anos explora, maltrata e debocha do nosso povo.

Não posso confundir a minha imagem com a sombra dessa gente que cassa um governador eleito; cassa um juiz que atendeu aos reclamos da população carente; cassa um prefeito do PT e que implanta o terror no Estado.

Não posso confundir a minha identidade com um grupo cujo líder é objeto de escárnio da cidadania brasileira pelas revelações recentes de uma ínfima parte dos crimes praticadas contra o erário público.

Não posso me curvar ao oportunismo de aproveitar a sua popularidade e a multidão que lhe aguarda, para trocar beijinhos e apertos de mãos com uma governadora de quatro votos, que de forma covarde e indevida se intrometeu na eleição interna do PT pressionando, coagindo e ameaçando nossos prefeitos e lideranças petistas e de partidos aliados.

Posso imaginar o sofrimento de V. Ex diante das pressões espúrias e das chantagens rotineiras por cargos, verbas e outras rações que alimentam verdadeiras quadrilhas organizadas e tenho certeza de que V. Ex não esqueceu o desrespeito do Senador José Sarney durante a eleição para Presidência do Senado; a humilhação imposta pelo Senador Sarney à Senadora Ideli Salvatti (PT-SC), derrotada na Comissão de Infra Estrutura para ressuscitar Collor de Melo; na manobra do Senador José Sarney que ficou em casa para facilitar que o Senador Marconi Perillo (PSDB-GO) instalasse a CPI da Petrobrás para usá-la como arma contra o governo; o presente que o Senador Jose Sarney deu à Senadora Kátia Abreu (Demo), inimiga do governo, para relatar a Medida Provisória nº 458 que regularizou mais de 60 milhões de terras na Amazônia.

Tenho consciência de suas enormes responsabilidades ao governar um país complexo e ainda dominado por tanto picaretas, muitos deles arranchados nas estruturas de poder e, em especial, no Congresso Nacional.

Sei que tens que engolir sapo para poder governar. Compreendo que V. Ex, por dever de oficio, tem de manter relações e até amizades com os inimigos de ontem, os aproveitadores de hoje e adversários de amanhã, em prejuízo de seus companheiros de ontem, de hoje e de sempre.

Porém a vida não pára. O mundo muitas voltas dá.

Amanhã será outro dia, e com certeza nos encontremos no Maranhão ou em outros cantos do Brasil, em companhia de gente menos catingosa.

Boa sorte em seu esperado retorno a São Luís.

Justiça se faz na luta.

DEP. FED. DOMINGOS DUTRA

Corumbá

sábado, 12 de dezembro de 2009

Lula, grosseria e sinceridade

O presidente nacional do PSDB divulgou nota em que critica o uso que Lula fez da palavra “merda” em seu discurso no Maranhão.

Transcrevemos na íntegra:
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O palavrão que saiu da boca do presidente Lula num discurso choca menos pela grosseria do que pela sinceridade.Um general-presidente da época do “milagre econômico” brasileiro disse uma vez que o país ia bem mas o povo ia mal.

O atual presidente disse, com outras palavras, que ele mesmo vai bem mas o povo vai mal. De fato, o povo vai mal. E não só em matéria de saneamento básico, que foi o contexto do palavrão presidencial.

Na saúde, na educação, na segurança pública, nas estradas, nos portos, na energia elétrica, há uma distância chocante entre a dura realidade dos brasileiros e o triunfalismo dos discursos do presidente Lula.

Se pelo menos o país fosse tão bem como o presidente se esforça para nos fazer acreditar… Mas não vai. O fraco desempenho da economia no terceiro semestre de 2009 desmente mais uma vez a retórica oficial sobre a crise financeira. Na hipótese mais otimista, vamos terminar o ano com zero ou quase zero de crescimento do PIB.

De quebra, o dado sobre o PIB apurado pelo IBGE desacredita o número sobre criação de empregos divulgado pelo Ministério do Trabalho. Como, onde o Brasil iria criar 1 milhão de novos postos de trabalho com a economia estagnada? Candidata-se ao prêmio Nobel o economista que explicar esse outro “milagre”.

Mais chocante é perceber que o presidente Lula, depois de sete anos de governo, não se sente nem um pouco responsável pelo fato de o país e o povo estarem onde ele disse que estão.

Seu governo fragilizou a economia nacional com doses estratosféricas de juros. Demorou a corrigir o erro, ainda assim timidamente, enquanto o resto do mundo derrubava os juros a zero para amenizar o impacto da crise financeira.

Quem senão o presidente Lula deixou isso acontecer?

Quem senão ele pode impedir a nova elevação dos juros que já se anuncia, para euforia dos especuladores e desespero dos empresários e trabalhadores da indústria e da agricultura brasileiras?

Grosseiras ou não, sinceras ou não, as palavras que brotam em enxurrada da boca do presidente encobrem cada vez menos sua omissão contumaz diante dos problemas do Brasil real.

Senador Sérgio Guerra
Presidente Nacional do PSDB

Corumbá

PT, Lula e o caudilhismo

Foi ao ar o programa institucional do PT. Foram dez minutos, à noite, em rede nacional. As estrelas do comercial foram, como já era de se esperar, o Presidente Lula e a Ministra Dilma Rousseff.

A comparação entre o governo Fernando Henrique Cardoso e o governo Lula deu o tom da peça publicitária. Além disso, as falas de Dilma Rousseff procuravam, obviamente, aproximá-la mais e mais do Presidente, apresentando-a como a responsável pelo PAC, pelo Minha Casa, Minha Vida, etc.

Até aí, nada demais. É natural que o governo aposte na comparação com o governo tucano passado, afinal, a atual gestão é bem avaliada, enquanto a gestão passada tem uma memória ruim junto ao eleitorado. Parte desse memória é devida, parte não é, mas isso não vem ao caso no momento.

O que importa é que Dilma e Lula trouxeram a estratégia da eleição plebiscitária para a tela da televisão, além de tentarem fazer a Ministra nadar no mar de popularidade do Presidente.

Pois bem. Acontece que não foi só isso. Em tudo na vida existem nuances, tons, modos.

O comercial do PT não apenas comparou Lula a FHC e apresentou Dilma como a continuidade de Lula. Ele também valorizou ao extremo as conquistas do governo atual, tentando passar uma imagem de que, no Brasil, antes de Lula, só havia trevas.

Isso não é verdade. Conquistas brasileiras foram consolidadas desde os tempos de D. Pedro II, até os de Itamar Franco, passando por Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e, até mesmo, José Sarney.

Obviamente, o governo Fernando Henrique também teve sua parcela de contribuição. Pequena em alguns setores, mas grandiosa na economia.

Sendo assim, é um tanto falsa a mensagem petista de que Lula trouxe a luz e de que ela se apagará se Dilma não vencer.

Em suma, entendo como natural a comparação das gestões e a dobradinha feita por Lula e Dilma na frente das câmeras. O que não concordo é com o tom messiânico utilizado em alguns momentos, como se Lula fosse um ser fora do comum.

Nunca foi, não é e dificilmente será. Assim como FHC, assim como Dilma, assim como Serra, assim como eu e você.

A defesa da eleição plebiscitária é uma jogada política inteligente, natural. É a única chance real que Lula tem de eleger Dilma: Fazendo plebiscito com o governo FHC. Mas isso só será possível se a oposição deixar, pois não é muito difícil mostrar a continuidade do governo FHC, principalmente na área econômica (a mais importante e vangloriada por Lula).

O quê de messianismo é totalmente dispensável. Não faz nada bem para as instituições e traz um cheiro detestável de caudilhismo. Não sei porque todo partido que se diz trabalhista (ou dos trabalhadores) adora um líder centralizador e autoritário.

Corumbá

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Copenhagen, metas e discursos – um tremendo vazio

Estava hoje de manhã pensando sobre o aquecimento global. Primeiro porque acho que há um enorme exagero em torno disso tudo. Não consigo acreditar que consigamos sozinhos fazer isso tudo o que dizem que estamos fazendo. Mas, só acho, não tenho provas de nada, são só sentimentos. Por isso, talvez, abstive-me de fazer qualquer comentário a respeito (e, até agora, ninguém notou).

Em segundo lugar, acho que, se isso realmente tem a gravidade que apregoam, há um erro de foco. Explico.

Ninguém me parece preocupado até agora em resolver o problema. Cada um se preocupa em “passar o macaquinho”, achar um culpado para todo mundo apontar o dedo e calar a consciência. Que tal EUA, China, Índia ou Rússia? Isso é realmente importante, isso vai resolver ou pelo menos equacionar o problema? Claro que não! Ninguém pode acreditar que esses congressos vão resolver o problema de aquecimento global do planeta e por um motivo muito simples: o verdadeiro culpado, se ele existe e se o aquecimento é provocado pelo homem e, ainda, que ele é tão grave assim, sou eu.

Sou eu, é você, é o nosso vizinho. É o cara que joga o copo plástico no chão porque o faxineiro vai varrer daqui a pouco, mas chove antes e a chuva carrega o copo plástico – para onde?

Somos nós do condomínio que nem pensamos em instalar uma célula de energia solar para gerar energia limpa porque – é muito caro. Sou eu que não vou deixar de comprar um carro novo sem IPI e ficar devendo 40 % do meu salário durante cinco anos (depois eu brigo por aumento), mesmo que não dê para andar nele porque as ruas estão cheias demais!

É o governo que isenta a indústria automobilística do IPI favorecendo a venda de automóveis que vão poluir o ar, as ruas e os bolsos – mas vai gerar empregos – e depois põe a culpa nos EUA pois poluem o mundo (que só é poluído porque é redondo, segundo Lula).

Anteontem, dia 09, a Ministra da Casa Civil e “chefe” da delegação brasileira em Copenhagen, Dilma Rousseff, foi eloquente e premonitória em entrevista ao jornal Valor Econômico. Como ela afirmou, chegou a nossa vez de poluir. Segundo a ministra, as emissões a serem causadas pelo petróleo que será extraído da camada pré-sal serão de responsabilidade de quem importar o combustível, como se todos nós não habitássemos o mesmo planeta.

Dilma não explicou a contradição de o Brasil se propor a reduzir voluntariamente até 39,8% dos gases que emite com o desflorestamento, enquanto deseja enriquecer vendendo para o mundo o energético cuja queima é acusada de ser uma das principais causas das mudanças no clima global.

Ao ser questionada pelo repórter: “Então a senhora não vê contradição entre o desenvolvimento hidrelétrico e a exploração do pré-sal?”, respondeu: “Nossa hidroeletricidade é para nós. O petróleo é para exportação”.

Entenderam?

Por isso acho que o foco está errado. Se eu e você não concordamos em mudar nossos hábitos, usar coletivos, energia alternativa (mesmo com investimento inicial alto) e coisas afins, porque esperamos que o vizinho faça algo se ele pensa igual a nós e sente o bolso da mesma forma? Aí procuramos um culpado. Mas não precisamos ir muito longe. Ele está aqui.

Por isso digo que o foco está errado. Em 1922 um eminente cientista proclamou que, com o crescimento demográfico mundial daquela época, em 1950 iria faltar alimento para o mundo. Pode até estar mal distribuído, mas até agora não faltou.

Numa defesa radical da opção hidroelétrica no Brasil, a Ministra Dilma omitiu que o maior potencial de geração hidráulica do País se encontra bem no meio do bioma Amazônico, o que é extremamente sensível do ponto de vista ambiental, social e econômico.

Portanto, não vamos acabar com a destruição da Amazônia, não vamos deixar de comer carne, EUA e China não vão parar de poluir o mundo, como nós também não.

O foco tem que ser mudado:

            O que devemos fazer para o mundo conviver com essa temperatura maior? Onde devemos investir? Como vamos nos adaptar, pois a situação me parece irreversível. Não temos que procurar culpados para o que está feito e sim soluções para o que está se mostrando uma terrível catástrofe, o aquecimento do nosso planeta. É hora das perguntas pois são elas que movem o mundo. O mal está feito. E agora, fazer o que para conviver com ele?

Corumbá

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Dez erros sobre a crise de Honduras

Enviado por Raul Jungmann -

Em 10/12/2009 – às 15:17h

 

Estive em Honduras no final de setembro, chefiando uma missão parlamentar da Câmara dos Deputados, e estive com toda a cúpula política do país.

Em novembro voltei à capital hondurenha como observador internacional das eleições.

Acho que aprendi algo sobre o que se passa lá e me chama a atenção a repetição, como um mantra, de erros grosseiros, factuais ou de interpretação sobre a crise em que foi mergulhado o país.

Resolvi, então, selecionar os dez mais comuns e dar-lhes a minha visão, no propósito de desfazer equívocos e informar corretamente.

1) Em Honduras ocorreu um golpe - Se por um golpe tomamos algo que se dá contra a Constituição de um país, certamente não.

A deposição do presidente Zelaya se deu de acordo com a Carta hondurenha. Todas as instâncias legais foram observadas e todas as instituições se manifestaram como manda a Constituição e em todas elas o sr. Zelaya foi condenado jurídica e politicamente.

2) Micheletti é um presidente de facto e golpista - O sr. Micheletti é o presidente constitucional de Honduras, e não de facto ou interino.

Ele chegou à presidência por comando claro da Constituição, dado que era o sucessor legal, pois o vice se afastara para concorrer às eleições. Ele deverá passar o cargo ao seu sucessor no prazo previsto. Golpista algum se torna presidente e deixa de sê-lo de acordo com o que manda a Constituição.

3) O presidente Zelaya não teve direito a defesa - Sigamos a cronologia dos fatos. Em fevereiro o sr. Zelaya torna pública a sua intenção de realizar um plebiscito.

Em abril, a Procuradoria da República manda-lhe uma primeira carta alertando-o sobre a flagrante inconstitucionalidade de tal ato. Ainda em abril, uma segunda carta pública lhe é enviada pela Procuradoria com o mesmo resultado.

Então, a Procuradoria oficia, em maio, para que se pronuncie o advogado-geral do Estado e este o faz reforçando a tese da inconstitucionalidade. Nesse momento, a Procuradoria requer à Justiça que instaure processo, do qual resulta a condenação final do presidente, percorridas todas as instâncias.

Entra em cena o Congresso Nacional, que julga a conduta do presidente e, por 123 votos a 5, incluso a maioria do seu partido, decide afastá-lo. Onde, portanto, a ausência ou restrição ao amplo direito de defesa?

4) Zelaya é um homem de esquerda e popular - Nada na biografia e na trajetória do presidente deposto autoriza essa constatação.

Eleito pelo Partido Liberal, de direita, privatista e antiestatista, o sr. Zelaya se elegeu com um programa pró-mercado e de reformas. No poder, cai nas graças de Hugo Chávez, ingressa na Alba e, por essa "conversão", torna-se um ídolo para uma certa esquerda.

5) Zelaya não voltou ao poder por conta da ditadura golpista - Nada mais falso. Em primeiro lugar, todas as instituições hondurenhas estão abertas e funcionando normalmente.

Em segundo, contando com o esmagador apoio de toda a comunidade internacional, da OEA e da ONU, e dizendo-se popular e com o apoio dos hondurenhos, por que "Mel" não retorna ao poder?

Por dois motivos: a totalidade das instituições de Honduras está definitivamente contra ele e a maioria do seu povo também.

6) As eleições não são válidas - As atuais eleições foram convocadas e datadas antes da atual crise.

Todos os partidos puderam apresentar candidatos e debater seus programas nas praças, nas rádios e nas TVs; 4,5 milhões de hondurenhos estão aptos e puderam votar livremente; o Tribunal Superior Eleitoral, órgão independente, supervisionou e fiscalizou o pleito.

Apenas 0,5% dos mais de 15 mil candidatos inscritos atenderam ao apelo do sr. Zelaya para boicotar as eleições e o principal partido de esquerda e da "resistência", a UD, disputou o pleito.

7) O resultado das eleições não será reconhecido no exterior - A princípio será por uns e por outros, a maioria, não.

Porém, com o passar do tempo, tendo sido as eleições limpas, o primeiro grupo irá paulatinamente crescer e o segundo, minguar.

8) O golpe em Honduras ameaça a democracia na América do Sul - O que ameaça a cláusula democrática no subcontinente é o meio compromisso com a democracia.

Se o sr. Zelaya foi apeado do poder segundo as regras constitucionais do seu país, chamar isso de golpe de Estado é ir contra os fatos. E isso vale, em especial, para o governo Lula.

Foi a Constituição que colocou a o sr. Roberto Micheletti na presidência, e não um golpe. E é o sr. Manoel Zelaya o golpista de fato, ao atentar contra a Carta Constitucional e as instituições hondurenhas.

Portanto, é ele que ameaça a democracia na América do Sul, e não o contrário.

9) Lula errou ao receber Zelaya na embaixada brasileira - Não, ele agiu certo. É tradição humanitária do Brasil receber em nossas embaixadas quem nos procura em situação de risco.

O erro foi dar status de "abrigado" ao sr. Zelaya, quando o correto, jurídica e diplomaticamente, seria conceder-lhe asilo. Ao lhe dar abrigo, e não asilo, o ex-presidente pode legalmente usar a embaixada brasileira como palanque político, interferindo na política hondurenha.

Imaginem Collor deposto e convocando uma insurreição de uma embaixada em Brasília...

10) A posição do Brasil foi correta diante da crise - Antes de mais nada, a América Central e Honduras, em particular, jamais foram importantes ou área de influência do Brasil, donde resulta em erro o calibre e o engajamento da resposta.

Ao ver golpe onde havia um grave desrespeito aos direitos humanos e, em seguida, ao defender o retorno do sr. Zelaya ao poder, erramos feio.

As eleições em Honduras foram limpas e o comparecimento às urnas foi razoável. Caso o Brasil teime em não reconhecê-las, erraremos de novo, e em definitivo.

Raul Jungmann é deputado federal (PPS-PE)

Corumbá

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

“Brasil varia do enigma à vergonha no front externo”

Essa é a opinião é do renomado colunista de temas latino-americanos Andres Oppenheimer.

A política externa brasileira, em seus melhores momentos, é um enigma; nos piores, uma vergonha. Nesse campo, o Brasil frequentemente se parece com um país de Quarto Mundo.

Ambas as afirmações são do mais respeitado colunista de assuntos latino-americanos da imprensa americana, Andres Oppenheimer, cujos textos são publicados no "Miami Herald" e em 60 outros jornais pelo mundo.
O jornalista americano de origem argentina, autor do recém-lançado "Los Estados Desunidos de Latinoamérica" (editora Debate), ainda inédito no Brasil, e de "Contos do Vigário" (editora Record, 2007), entre outros livros, falou ao jornal FOLHA DE SÃO PAULO anteontem, 7,  por telefone, de Miami. Pela oportunidade, reproduzimos trechos abaixo:

FOLHA - Em sua coluna mais recente, o sr. escreveu que Brasil, EUA e OEA [Organização dos Estados Americanos] erraram no caso de Honduras. O que poderia ter sido feito e não foi?
ANDRES OPPENHEIMER
- O Brasil deveria ter sido mais cauteloso antes de começar a grita de que não reconheceria as eleições em Honduras. É uma posição ridícula: por um lado, o país pede a suspensão do embargo dos EUA a Cuba, país que não tem eleição multipartidária há 50 anos; por outro, quer impor sanções econômicas a Honduras, que realizou eleições multipartidárias. Já os EUA nos deixaram coçando a cabeça, porque o que eles fizeram foi bastante confuso. O que deveriam ter feito diferente no começo era condenar o golpe, como fizeram, mas marcar posição de que havia dois culpados aqui, o presidente interino Roberto Micheletti e o presidente deposto Manuel Zelaya, que estava orquestrando seu próprio golpe constitucional à la Hugo Chávez. E ter uma mensagem mais clara. Por fim, a OEA foi a primeira a vir com uma posição unilateral condenando o golpe, o que foi certo, também, mas não lidava com o que Zelaya vinha tentando fazer, que era passar por cima de algumas instituições e convocar um referendo constitucional e se reeleger.

FOLHA - O sr. menciona a posição dúbia americana. Seria fruto de a política para a região estar refém das divisões políticas internas?
OPPENHEIMER
- Acho que tem mais a ver com quem está no comando dessa política. Não esqueçamos que, durante toda a crise hondurenha e até o mês passado, ninguém estava à frente do setor para a América Latina no Departamento de Estado. Então, quase toda a política foi comandada da Casa Branca, por Dan Restrepo [assessor de Barack Obama para a região]. Eu gosto da política em geral do governo Obama, mas infelizmente ela não é muito focada na América Latina.
Primeiro, porque o governo tem problemas maiores, como Iraque, Afeganistão. Mas também porque ninguém ali tem interesse pessoal na região. Eu entrevistei Obama duas vezes. Na primeira, em 2007, perguntei quais eram os três presidentes latino-americanos que mais respeitava e ele não conseguiu mencionar nenhum. Disse que tinha muito interesse pela presidente do Chile, lembrava-se de que era uma mulher, mas não o seu nome. Da segunda, em 2008, já tinha se preparado, assim que sentou citou cinco nomes de presidentes. [Risos]

FOLHA - Como avalia a visita do presidente do Irã ao Brasil?
OPPENHEIMER
- Foi um dos piores erros da história recente da América Latina, especialmente do Brasil, um país que cada vez mais pessoas, e eu me incluo entre elas, vê como um modelo para a região em vários sentidos. No momento em que todo o mundo está tentando mandar uma mensagem ao Irã de que eles não podem desenvolver armas nucleares, o Brasil dá a legitimidade que eles buscam. A política externa brasileira, em seus melhores momentos, é um enigma; nos piores, uma vergonha.

FOLHA - O sr. acha que o Brasil está pronto para o papel que deseja ter na arena internacional?
OPPENHEIMER
- O país é um modelo em muitos sentidos para o resto da América Latina. Mostrou que se pode ter mudança política com estabilidade econômica, que se pode ter um governo de esquerda que não assusta investidores e ao mesmo tempo tem programas muito eficientes para ajudar os pobres, é um modelo em participação de ONGs em políticas públicas. Nisso e em muitas outras coisas é um país crescentemente de Primeiro Mundo. Em sua política externa, frequentemente se parece com um país de Quarto Mundo.

Corumbá

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Manifestantes dizem que vão passar a noite no plenário da Câmara

Cerca de 50 estudantes acampados desde as 19h30 desta quarta-feira (2) no plenário da Câmara Legislativa do Distrito Federal decidiram que vão permanecer no local durante a madrugada. Eles protestam contra o suposto esquema de pagamento de propina a deputados aliados e membros da cúpula do governo do DF. Parte do grupo quer continuar a ocupação até a saída do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM).

Foto: Redação/G1

Os manifestantes ocuparam inicialmente o plenário no início da tarde, mas saíram para que os deputados pudessem ler os requerimentos de abertura dos processos de impeachment do governador e de seu vice, Paulo Octávio, e de quebra de decoro parlamentar contra deputados que teriam participado do suposto esquema de corrupção. Pouco depois da leitura, eles voltaram a invadir o plenário.

Parece que realmente Lula conseguiu. Esse fato tem mais de quatro anos de ocorrido, porque só agora foi divulgado? Se foi gravado pela PF por que não foi divulgado na época?

Lula, dentro da ideia de fazer plebiscito com o governo anterior (FHC), e “matar” a intenção da oposição de levantar a questão da continuidade de governos – a manutenção da política econômica do FHC, que Lula tanto condenou, é um exemplo – tinha um trunfo e um calo: O trunfo era o apagão do governo FHC que Lula usou para se eleger e bateu sem parar durante seis anos. Dilma chegou a dizer recentemente que “apagão nunca mais”. e o calo, o mensalão que, após abafado, muito provavelmente seria amplamente utilizado pela oposição.

Na época que surgiu, o mensalinho do Arruda envolveria o PT e o governo anterior. Até a manutenção do Dutra no governo é algo estranho. Sua divulgação, então, foi descartada à época. Além do mais, revolveria a história do mensalão – mal administrada.

Aí vem o apagão, que virou blecaute, incidente menor, culpa de Deus mas, sob qualquer ótica que se analise, nunca antes na história deste País foi tão claro e incompetente.

Só sobrou o calo e, assim, perdido por um, perdido por mil e, então, vamos divulgar. Lula, diplomaticamente como poucas vezes se viu, evitou comentários, mas MST, UNE e PT, obedecem a quem?

Se a oposição concordar com essa aposta do Lula de comparar governos, Lula venceu essa batalha.

Se essa “revolta” toda tivesse ocorrido durante a primeira demonstração de falta de ética do governo Lula e do PT, o chamado mensalão, provavelmente a história hoje seria muito diferente, principalmente em se falando de ética.

Corumbá

Fonte: Globo.com

sábado, 28 de novembro de 2009

O mico de Honduras

Publicamos, nesse momento em que o povo hondurenho escolhe seu novo presidente e tenta assim resolver seus problemas internos que se arrastam há meses por intromissão de interesses alienígenas ao País, artigo enviado pelo jornalista Ruy Fabiano:
artigo

Neste domingo, Honduras elege seu novo presidente da República.

Dada a pouca expressão geopolítica do país, o acontecimento não mereceria mais que um registro de pé de página nos jornais brasileiros.

O tema, porém, adquiriu dimensão insuspeitada, dada a intervenção que o Brasil, de maneira inédita e insólita, protagoniza na política interna daquele país.

Congresso e Suprema Corte de Honduras depuseram Manuel Zelaya em junho passado, por tentativa, proibida expressamente em cláusula pétrea da Constituição do país, de tentar a reeleição.

Assumiu o presidente do Congresso, Roberto Micheletti.

O cumprimento do rito constitucional pôs em cena um estardalhaço, deflagrado pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que envolveu a diplomacia brasileira, a OEA, a ONU e os Estados Unidos.

Foi uma grita geral: Honduras havia sido vítima de um clássico golpe de Estado latino-americano, intolerável dos dias de hoje.

Houve votos de reprovação em todas as instâncias multilaterais e Chávez ameaçou invadir o país.

O Brasil, por sua vez, ameaçou Honduras de sanções e findou por acolher, na embaixada de Tegucigalpa, o deposto Zelaya, sem lhe conferir qualquer status diplomático.

Ninguém, porém, parece ter tomado a providência elementar: ler o artigo 239 da Constituição de Honduras, que determina que "o cidadão que tenha desempenhado a titularidade do Poder Executivo não poderá ser Presidente ou Designado.

Aquele que ofender esta disposição ou propuser sua reforma, bem como aqueles que a apóiem direta ou indiretamente, terão cessados de imediato o desempenho de seus respectivos cargos e ficarão inabilitados por dez anos para o exercício de toda função pública".

Sendo cláusula pétrea, o dispositivo não pode sequer ser submetido a reforma. Só uma Constituinte pode mudá-lo.

Aos poucos, a comunidade internacional, diante do óbvio – não houve golpe, mas estrito cumprimento da Constituição -, começou a recuar.

Os Estados Unidos já avisaram que vão reconhecer o presidente que vier a ser eleito amanhã. A ONU não mais se pronunciou. Idem a OEA.

Mesmo Hugo Chávez evita o assunto. Restou o mico diplomático nas mãos do Brasil.

Zelaya continua hóspede da embaixada brasileira, sem que se saiba o seu destino a partir de segunda-feira, sobretudo se o candidato do partido de Micheletti, Porfírio Pepe Lobo, do Partido Nacional, favorito nas pesquisas, vencer.

Na quarta-feira, ainda sob o impacto da visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, Lula recebeu correspondência de Obama, que, entre outros assuntos, tratava de Honduras.

O presidente norte-americano, em termos que não foram divulgados, dava ciência a seu colega da determinação dos Estados Unidos de reconhecer o presidente que emergir das urnas de domingo.

O assessor de Lula para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, vazou o conteúdo da carta e reagiu, dizendo que há nela “um certo sabor de decepção”.

O representante do Brasil na OEA, Ruy Casaes, foi mais longe: chamou Micheletti, presidente interino de Honduras, de “palhaço”. E abominou a decisão de Obama.

Em síntese, o protagonismo brasileiro no episódio, empurrado pelo discurso chavista, além de contrariar toda a tradição não-intervencionista do Itamaraty em seara alheia, resultou num fiasco que recomenda silêncio e reflexão.

Em vez disso, no entanto, o Itamaraty insiste em seu proselitismo, afirmando que não reconhecerá o futuro governo hondurenho e que ele e Zelaya estão com a razão – exatamente a matéria-prima que esteve ausente em todo o episódio.

Ruy Fabiano

Corumbá

Por quê?

Por que ainda tem tanta gente mal educada no mundo, posto que a educação, formal, informal e casual, está cada dia mais acessível por conta de todas as mídias que praticamente qualquer um pode acessar?

Por que os mais mal educados são justamente os que têm mais acessos e possibilidades?

Por que essa gente continua gritando seus assuntos pessoais, íntimos, em elevadores, escadas rolantes, corredores, coletivos, como se seus celulares fossem a única coisa existente no mundo?

Por que todo mundo checa o tempo todo se tem mensagem no celular/smartphone, mesmo quando você está bem ali na frente, tentando passar uma mensagem ao vivo?

Por que as pessoas atendem o telefone para dizer que não podem falar?

Por que 99,9% dos SUV, esses carrões gigantescos que bebem hectolitros de combustível e ocupam um lugar absurdo no trânsito, estão sempre com apenas um ocupante? Em geral mulheres falando ao celular?

Por que metade das pessoas que participaram de enquete no site do Senado Federal disseram que são contra um projeto de lei que prevê punição a quem discrimina homossexuais?

Por que livro custa tão caro no Brasil? Por que o novo best seller de Dan Brown "O Símbolo Perdido" custa R$ 40 (US$ 22) aqui e US$ 12 lá?

Por que o sistema de som do shopping avisa a toda hora que as vagas de estacionamento destinadas a deficientes físicos são destinadas a deficientes físicos?

Por que tanta gente continua tendo problema com telefone para pagar, transferir, cancelar, reclamar é preciso ficar horas falando com alguém que não resolve nada?

Por que o Rio de Janeiro voltou no tempo e está hoje como na marchinha do Carnaval de 1954: Rio de Janeiro/ cidade que nos seduz/ de dia falta água/ de noite falta luz"?

Por que São Paulo para no tempo e ainda permite que que calçadas da cracolândia continuem tomadas por centenas de detritos humanos largados como panos sujos, apodrecendo em vida?

Por que tucano não é capaz de enxergar alguma coisa positivo no governo Lula, assim como petista é incapaz de enxergar alguma coisa positiva nos dois mandatos de FHC?

Por que o policial mineiro matou com 12 (doze) tiros o rapaz enlouquecido por causa do crack?

Aliás, por que tem tanta gente louca, ou com distúrbios psicológicos e de comportamento, zanzando pelas ruas das grandes cidades?

Por que não escrever sobre temas mais agradáveis num sabadão de quase dezembro?

 
baseado em texto de Luiz Carvesan

E-mail: caversan@uol.com.br

Corumbá

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Ahmadinejad e Lula

Por causa de todas as barbaridades defendidas pelo Presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, a visita deste ao Brasil foi atacada por todos os lados. Pessoas de diferentes ideologias afirmam que é um absurdo que nosso País tenha recebido, com pompa e circunstância, um homem que nega o Holocausto, entre outras coisas.

Muitos comentários a respeito do caso dão conta de que se trata de mais uma desventura da política externa brasileira. Estes somam a visita de Ahmadinejad a uma lista que conta com a conivência com relação às FARCs, o apoio a Hugo Chávez, o recebimento de Zelaya na embaixada brasileira em Honduras e a defesa de Cesare Battisti (quanta loucura!).

Pois bem. Acontece que a visita do Presidente iraniano torna necessário que se tenha muito mais maturidade do que a suficiente para analisar os casos de Zelaya, Battisti, etc, com precisão.

Por quê? Perguntarão alguns. Respondo: Porque as relações com as FARCs, com Chávez, com Zelaya e com Battisti têm uma visão fortemente ideológica. A visita de Ahmadinejad tem visão econômica.

Quando cito a maturidade quero dizer que é preciso deixar o asco nutrido por Ahmadinejad de lado por alguns instantes e analisar friamente o que a visita do iraniano representa. Sei que não é fácil, mas vamos tentar por uns momentos.

É fato que as declarações de Ahmadinejad são absurdas? Sim, é. É impossível respeitar alguém que diz que o Holocausto não existiu e que em seu país não existem homossexuais? Com certeza.

Contudo, a questão não é essa. O ponto crucial a ser analisado é: Receber Ahmadinejad em seu País respalda as declarações deste Presidente e as suas teses abomináveis?

Quem critica Ahmadinejad e responde à minha pergunta com um sim reforça sua crítica. Mas é possível criticar Ahmadinejad e responder à minha pergunta com um não, o que não enfraquece a crítica ao líder iraniano.

O quero dizer é que, dependendo de como é gerenciada, uma visita de um líder estrangeiro condenável não representa defesa de seus valores. Justamente por ser econômica e diplomática, e não ideológica. É preciso que se tenha a noção de que esse ângulo analítico é plausível.

O que Ahmadinejad defende é em grande parte absurdo, com certeza. Mas o Presidente Lula não declarou nada que reforçasse os absurdos, ao contrário, alfinetou um deles, quando afirmou que o programa nuclear deve ser utilizado para fins pacíficos.

Nesse momento surgirá o comentário: Ora, mas Ahmadinejad foi eleito em um pleito fraudado e recebê-lo como líder iraniano legitima as eleições!

Isso é uma verdade. Inquestionável. Daí a dizer que isso reforça as teses de Ahmadinejad são outros quinhentos. Até porque a realidade é a de que Mahmoud é, infelizmente, o Presidente do Irã, doa a quem doer. E o Brasil não romperá relações com o Irã por conta disso.

Alguns poderão dizer: Ora, mas deveria romper!

Deveria? Será mesmo? Quando o Brasil era uma ditadura, que defendia um regime autoritário que fazia, mandava e desmandava, seria correto que rompessem com o Brasil? Talvez no que tange os princípios sim. Mas na prática não, porque isso não nos ajudaria em nada, ao contrário.

Em suma, o Brasil não passa a defender o que defende o Irã por se colocar como seu interlocutor. Ahmadinejad é abominável, mas recebê-lo ou não no Brasil é irrelevante quanto a isso.

Por outro lado, para a política externa brasileira, é sinal de crescimento receber em menos de um mês o líder israelense e o líder iraniano. Quando Bill Clinton recebeu tanto israelenses como palestinos em Camp David foi elogiado. Se os EUA recebessem Kim Jong Il para um diálogo estariam defendendo o regime esquizofrênico da Coreia do Norte?

E tudo isso que digo tem a explicação que é citada por mim no início: A relação é econômica e diplomática, e não ideológica.

Por isso é preciso maturidade. Por isso a crítica ao relacionamento com Chávez e com Zelaya não é a mesma que diz respeito a Ahmadinejad.

Com Chávez e Zelaya a relação do governo é ideológica. Há apoio das ações e dos ideais. A mesma coisa vale para a defesa de Battisti. O governo brasileiro atual é criticável nestes casos porque demonstra claramente apoiar o pensamento, ao invés de apenas estar se relacionando com a devida distância.

Com Ahmadinejad há mera conexão com a nação do Irã, que não pode ser extirpada de nossas relações por ser liderada por um idiota. Até porque, se assim fosse, em diversos momentos da história romperiam relações com o Brasil. Alguns diriam que isso valeria até mesmo para hoje.

Enfim, o encontro de Lula e Ahmadinejad é um caso para se pensar. Profundamente. A crítica superficial deve ser deixada de lado. O ponto principal é saber se receber o iraniano é, necessariamente, defender suas teses.

Talvez não seja.

É até complicado para mim levantar essa questão. Eu mesmo tenho certas reticências morais contra qualquer relação com Ahmadinejad.

Acontece que em certos casos é preciso, respeitados todos os princípios éticos, olhar além do óbvio.

Corumbá

baseado em texto do Perspectiva Política

 

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Carta de Gilberto Geraldo Garbi para Lula.

Por oportuno, publico esta carta.

Gilberto Geraldo Garbi foi um dos alunos classificados a seu tempo como UM DOS MELHORES ALUNOS DE MATEMÁTICA que já haviam adentrado o ITA, entre outras honrarias que recebeu daquela instituição.
Depois de graduado, desenvolveu carreira na TELEPAR, onde chegou a Diretor Técnico e Diretor Presidente, sendo depois Presidente da TELEBRAS.

Como nosso presidente, Senhor Lula, já afirmou várias vezes que não gosta de ler porque lhe dá azia, vamos torcer para que muita gente leia, que conte para mais muita gente, que comente com mais gente e que acabe chegando aos ouvidos do endereçado. E que mais gente fique entendendo. Faço votos. Com a palavra, Gilberto Geraldo Garbi:

 
Há poucos dias, a imprensa anunciou amplamente que, segundo as últimas pesquisas de opinião, Lula bateu de novo seus recordes anteriores de popularidade e chegou a 84% de avaliação positiva. É, realmente, algo "nunca antes visto nesse país" e eu fiquei me perguntando o que poderemos esperar das próximas consultas populares.

Lembro-me de que quando Lula chegou aos 70% achei que ele jamais bateria Hitler, a quem, em seu auge, a cultíssima Alemanha chegara a conceder 82% de aprovação.

Mas eu estava enganado: nosso operário-presidente já deixou para trás o psicopata de bigodinho e hoje só deve estar perdendo para Fidel Castro e para aquele tiranete caricato da Coreia do Norte, cujo nome jamais me interessei em guardar. Mas Lula tem uma vantagem sobre os dois ditadores: aqui as pesquisas refletem verdadeiramente o que o povo pensa, enquanto em Cuba e na Coreia do Norte as pesquisas de opinião lembram o que se dizia dos plebiscitos portugueses durante a ditadura lusitana: SIM, Salazar fica; NÃO, Salazar não sai; brancos e nulos sendo contados a favor do governo...(Quem nunca ouviu falar em Salazar, por favor, pergunte a um parente com mais de 60).

Portanto, a popularidade de Lula ainda "tem espaço" para crescer, para empregar essa expressão surrada e pedante, mas adorada pelos economistas. E faltam apenas cerca de 16% para que Lula possa, com suas habituais presunção e imodéstia, anunciar ao mundo que obteve a unanimidade dos brasileiros em torno de seu nome, superando até Jesus Cristo ou outras celebridades menores que jamais conseguiram livrar-se de alguma oposição...

Sim, faltam apenas 16% mas eu tenho uma péssima notícia a dar a seu hipertrofiado ego: pode tirar o cavalinho da chuva, cumpanhero, porque de 99,9999995% você não passa.

Como você não é muito chegado em Aritmética, exceto nos cálculos rudimentares dos percentuais sobre os orçamentos dos ministérios que você entrega aos partidos que constituem sua base de sustentação no Congresso, explico melhor: o Brasil tem 200.000.000 de habitantes, um dos quais sou eu. Represento, portanto, 1 em 200.000.000, ou seja, 0,0000005% enquanto os demais brasileiros totalizam os restantes 99,9999995%. Esses, talvez, você possa conquistar, em todo ou em parte.

Mas meus humildes 0,0000005% você jamais terá porque não há força neste ou em outros mundos, nem todo o dinheiro com que você tem comprado votos e apoios nos aterros sanitários da política brasileira, não há, repito, força capaz de mudar minha convicção de que você foi o pior dentre todos os presidentes que tive a infelicidade de ver comandando o Brasil em meus 65 anos de vida.

E minha convicção fundamenta-se em um fato simples: desde minha adolescência, quando comecei a me dar conta das desgraças brasileiras e a identificar suas causas, convenci-me de que na raiz de tudo está a mentalidade dominante no Brasil, essa mentalidade dos que valorizam a esperteza e o sucesso a qualquer custo; dos que detestam o trabalho e o estudo; dos que buscam o acesso ao patrimônio público para proveito pessoal; dos que almejam os cabides de emprego, as sinecuras e os cargos fantasmas; dos que criam infindáveis dinastias nepotistas nos órgãos públicos; dos que desprezam a justiça desde que a injustiça lhes seja vantajosa; dos que só reclamam dos privilégios por não estar incluídos entre os privilegiados; dos que enriquecem através dos negócios sujos com o Estado; dos que vendem seus votos por uma camiseta, um sanduíche ou, como agora, uma bolsa família; dos que são de tal forma ignorantes e alienados que se deixam iludir pelas prostitutas da política e beijam-lhes as mãos por receber de volta algumas migalhas do muito que lhes vem sendo roubado desde as origens dos tempos; dos que são incapazes de discernir, comover-se e indignar-se diante de infâmias.

Antes e depois de mim, muitos outros brasileiros, incomparavelmente melhores e mais lúcidos, chegaram à mesma conclusão e, embora sejamos minoria, sinto-me feliz e honrado por estar ao lado de Rui Barbosa. Já ouviu falar nele? Como você nunca lê, eu quase iria sugerir-lhe que pedisse a algum de seus incontáveis assessores que lhe falasse alguma coisa sobre a Oração aos Moços... Mas, esqueça... Se você souber o que ele, em 1922, disse de políticos como você e dos que fazem parte de sua base de sustentação, terá azia até o final da vida.

Pense a maioria o que quiser, diga a maioria o que disser, não mudarei minha convicção de que este País só deixará de ser o que é - uma terra onde as riquezas produzidas pelo suor da parte honesta e trabalhadora são saqueadas pelos parasitas do Estado e pelos ladrões privados eternamente impunes - quando a mentalidade da população e de seus representantes for profundamente mudada.

Mudada pela educação, pela perseverança, pela punição aos maus, pela recompensa aos bons, pelo exemplo dos governantes.

E você Lula, teve uma oportunidade única de dar início à mudança dessa mentalidade, embalado que estava com uma vitória popular que poderia fazer com que o Congresso se curvasse diante de sua autoridade moral, se você a tivesse.

Você teve a oportunidade de tornar-se nossa tão esperada âncora moral, esta sim, nunca antes vista nesse País.


Mas não, você preferiu o caminho mais fácil e batido das práticas populistas e coronelistas de sempre, da compra de tudo e de todos.
Infelizmente para o Brasil, mas felizmente para os objetivos pessoais seus e de seu grupo, você estava certo: para que se esforçar, escorado apenas em princípios de decência, se muito mais rápido e eficiente é comprar o que for necessário, nessa terra onde quase tudo está à venda?

Eu não o considero inteligente, no nobre sentido da palavra, porque uma pessoa verdadeiramente inteligente, depois de chegar aonde você chegou, partindo de onde você partiu, não chafurdaria nesse lamaçal em que você e sua malta alegremente surfam, nem se entregaria a seu permanente êxtase de vaidade e autoidolatria.
Mas reconheço em você uma esperteza excepcional: nunca antes nesse País um presidente explorou tão bem, em proveito próprio e de seu bando, as piores qualidades da massa brasileira e de seus representantes.

Esse é seu legado maior, e de longa duração: o de haver escancarado a lúgubre realidade de que o Brasil continua o mesmo que Darwin encontrou quando passou por essas plagas em 1832 e anotou em seu diário: "Aqui todos são subornáveis".

Você destruiu as ilusões de quem achava que havíamos evoluído em nossa mentalidade e matou as esperanças dos que ainda acreditavam poder ver um Brasil decente antes de morrer.
Você não inventou a corrupção brasileira, mas fez dela um maquiavélico instrumento de poder, tornando-a generalizada e fazendo-a permear até os últimos níveis da Administração.
O Brasil, sob você, vive um quadro que em medicina se chamaria de septicemia corruptiva.
Peça ao Marco Aurélio para lhe explicar o que é isso.

Você é o sonho de consumo da banda podre desse País, o exemplo que os funcionários corruptos do Brasil sempre esperaram para poder dar, sem temores, plena vazão a seus instintos.
Você faz da mentira e da demagogia seu principal veículo de comunicação com a massa.

A propósito, o que é que você sente, todos os dias, ao olhar-se no espelho e lembrar-se do que diz nos palanques? Você sente orgulho em subestimar a inteligência da maioria e ver que vale a pena?

Você mentiu quando disse haver recebido como herança maldita a política econômica de seu antecessor, a mesma política que você manteve integralmente e que fez a economia brasileira prosperar. Você mentiu ao dizer que não sabia do Mensalão Mentiu quando disse que seu filho enriqueceu através do trabalho. Mentiu sobre os milhões que a Ong 13, de sua filha, recebeu sem prestar contas. Mentiu ao afastar Dirceu, Palocci, Gushiken e outros cumpanheros pegos em flagrante

Mente quando, para cada platéia, fala coisas diferentes, escolhidas sob medida para agradá-las
Mentiu, mente e mentirá em qualquer situação que lhe convenha.

Por falar em Ongs, você comprou a esquerda festiva, aquela que odeia o trabalho e vive do trabalho de outros, dando-lhe bilhões de reais através de ONGs que nada fazem, a não ser refestelar-se em dinheiro público, viajar, acampar, discursar contra os exploradores do povo e desperdiçar os recursos que tanta falta fazem aos hospitais. Você não moveu uma palha, em seis anos de presidência, para modificar as leis odiosas que protegem criminosos de todos os tipos neste País sedento de Justiça e encharcado pelas lágrimas dos familiares de tantas vítimas.

Jamais sua base no Congresso preocupou-se em fechar ao menos as mais gritantes brechas legais pelas quais os criminosos endinheirados conseguem sempre permanecer impunes, rindo-se de todos nós.
Ao contrário, o Supremo, onde você tem grande influência, por haver indicado um bom número de Ministros, acaba de julgar que mesmo os condenados em segunda instância podem permanecer em liberdade, até que todas as apelações, recursos e embargos sejam julgados, o que, no Brasil, leva décadas.
Isso significa, em poucas palavras, que os criminosos com dinheiro suficiente para pagar os famosos e caros criminalistas brasileiros podem dormir sossegados, porque jamais irão para a cadeia.

Estivesse o Supremo julgando algo que interessasse a seu grupo ou a suas inclinações ideológicas, certamente você teria se empenhado de corpo e alma.
Aliás, Lula, você nunca teve ideais, apenas ambições.
Você jamais foi inspirado por qualquer anseio de Justiça. Todas as suas ações, ao longo da vida, foram motivadas por rancores, invejas, sede pessoal de poder e irrefreável necessidade de ser adorado e ter seu ego adulado.

Seu desprezo por aquilo que as pessoas honradas consideram Justiça manifesta-se o tempo todo: quando você celeremente despachou para Cuba alguns pobres desertores que aqui buscavam a liberdade; quando você deu asilo a assassinos terroristas da esquerda radical; quando você se aliou à escória do Congresso, aquela mesma contra quem você vociferava no passado; quando concedeu aumentos nababescos a categorias de funcionários públicos já regiamente pagos, às custas dos impostos arrancados do couro de quem trabalha arduamente e ganha pouco; quando você aumentou abusivamente as despesas de custeio, sabendo que pouquíssimo da arrecadação sobraria para os investimentos de que tanto carece a população; quando você despreza o mérito e privilegia o compadrio e o populismo; e vai por aí... Justiça, ora a Justiça, é o que você pensa...

Você tem dividido a nação, jogando regiões contra regiões, classes contra classes e raças contra raças, para tirar proveito das desavenças que fomenta.
Aliás, se você estivesse realmente interessado, como deveria, em dar aos pobres, negros e outros excluídos as mesmas oportunidades que têm os filhos dos ricos, teria se empenhado a fundo na melhoria da saúde e do ensino públicos...

Mas você, no íntimo, despreza o ensino, a educação e a cultura, porque conseguiu tudo o que queria, mesmo sendo inculto e vulgar. Além disso, melhorar a educação toma um tempo enorme e dá muito trabalho, não é mesmo?

E se há coisa que você e o Partido dos Trabalhadores definitivamente detestam é o trabalho: então, muito mais fácil é o atalho das cotas, mesmo que elas criem hostilidades entres as cores, que seus critérios sejam burlados o tempo todo e que filhos de negros milionários possam valer-se delas.

A Imprensa faz-lhe pouca oposição porque você a calou, manipulando as verbas publicitárias, pressionando-a economicamente e perseguindo jornalistas. O que houve entre o BNDES e as redes de televisão? O que você mandou fazer a Arnaldo Jabor, a Boris Casoy, a Salete Lemos?

Essa técnica de comprar ou perseguir é muito eficaz. Pablo Escobar usou-a com muito sucesso na Colômbia, quando dava a seus eventuais opositores as opções: "O plata, o plomo". Peça ao Marco Aurélio para traduzir. Ele fala bem o Espanhol.

Você pode desdenhar tudo aquilo que aqui foi dito, como desdenha a todos que não o bajulem. Afinal, se você não é o maior estadista do planeta, se seu governo não é maravilhoso, como explicar tamanha popularidade?
É fácil: políticos, sindicatos, imprensa, ONGs, movimentos sociais, funcionários públicos, miseráveis, você comprou com dinheiro, bolsas, cotas, cargos e medidas demagógicas.
Muita gente que trabalha, mas desconhece o que se passa nas entranhas de seu governo, satisfez-se com o pouco mais de dinheiro que passou a ganhar, em consequência do modesto crescimento econômico que foi plantado anteriormente, mas que caiu em seu colo.

Tudo, então, pode se resumir ao dinheiro e grande parte da população parece estar disposta a ignorar os princípios da honradez e da honestidade e a relevar as mentiras, a corrupção, os desperdícios, os abusos e as injustiças que marcam seu governo em troca do prato de lentilhas da melhoria econômica.

É esse, em síntese, o triste retrato do Brasil de hoje... E, como se diz na França, "l´argent n´est tout que dans les siècles où les hommes ne sont rien".
Você não entendeu, não é mesmo? Então pergunte à Marta. Ela adora Paris e há um bom tempo estamos sustentando seu gigolô franco-argentino...


Gilberto Geraldo Garbi

Fonte:
http://www.grupos.com.br/group/alunosadvogados/Messages.html?action=message&id=1246553176852087&year=09&month=7
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OBS:
Dr. Gilberto Geraldo Garbi é engenheiro e empresário
E-mail: ggarbi@terra.com.br

Corumbá

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

À “esquerda” de Lula, Dilma?

Quando Lula liderava as pesquisas para a eleição presidencial de 2002, o mercado estava receoso. Temia o que um Presidente “de esquerda” poderia fazer no comando do País.

Sabendo disso, o PT arregaçou as mangas. Divulgou a Carta aos Brasileiros, que nada mais era do que um documento onde o partido assumia certos compromissos, visando deixar o mercado e a sociedade em geral mais calmos quanto aos rumos que um possível governo petista daria ao País. A noção de que Antonio Palocci seria o Ministro da Fazenda alentava o empresariado. O fato de o candidato a Vice-Presidente ser um empresário bem-sucedido, José Alencar, também ajudava.

O resto todos já sabem. O PT venceu as eleições presidenciais, manteve a agenda econômica tucana salvo algumas mudanças, Palocci foi confirmado na Fazenda, Henrique Meirelles, um tucano, foi colocado no Banco Central que, ainda bem, continuou autônomo e a estabilidade foi mantida. Tudo muito diferente do que Lula pregava no início de sua carreira política. Tudo muito afastado do que poderia ser chamado de “esquerda”.

Um governo predominantemente de centro surgiu e ele, somado aos escândalos, expulsou a esquerda mais radical do PT. O PSOL se formou e passou a ocupar um lócus já ocupado pelo PSTU, outra dissidência petista mais radical.

Pois bem. Acontece que Lula nunca fora, realmente, um radical. Lula adveio do sindicalismo, e não da esquerda revolucionária. Lula via com bons olhos o crescimento das fábricas que empregavam os sindicalistas, ao invés de defender a revolução armada.

Contudo, Dilma Rousseff não tem as mesmas raízes. Ao contrário, foi guerrilheira. Cometeu crimes que foram anistiados. Aparentemente, matou. Ou estava pronta para fazê-lo.

Longe de mim querer espalhar algum tipo de temor, até porque sabemos que, em um eventual governo de Dilma, o controle continuaria sendo de Lula e sua equipe. O “establishment” não seria muito alterado.

Porém, é passível de questionamento se haverá ou não uma guinada à esquerda. Recentemente, como na questão do pré-sal, velhos jargões foram ressuscitados, o nacionalismo versus entreguismo voltou à baila e a ampliação do Estado vem se fazendo latente. Voltamos a ouvir o jargão “estado-forte e controlador”.

Muito desse posicionamento advém da intenção de diferenciar o governo Lula do governo FHC, polarizando a eleição, que é vista pelos petistas, por conta da má avaliação popular de FHC, como uma boa ideia. Lula quer transformar as eleições de 2010 em um plebiscito, considerando que os resultados de seu governo não dependeram do governo anterior – como se isso fosse possível.

Ao mesmo tempo, um pouco deste posicionamento é, sim, ideológico, o que pode nos levar a imaginar que Dilma pode, realmente, representar alguém mais “à esquerda” que Lula. Na verdade, é praticamente unânime a visão de que ela é alguém mais esquerdista que nosso atual Presidente. Independentemente do que significa hoje no Brasil e no mundo a palavra “esquerdista”. Se é que significa alguma coisa.

Não sei até que ponto é interessante para o Brasil discutir temas como reestatizações, Consenso de Washington, etc. Eles pareciam superados e seria bom que estivessem. Não é Lula que se gaba tanto de agora sermos credores do FMI?

Por fim, vale citar que Hugo Chávez já disse, mais de uma vez, que Dilma Rousseff é sua candidata, se intrometendo onde não deve e, com certeza, dando armas à oposição pois, ao contrário do que o bolivariano pode pensar, ele não é bem visto no Brasil.

Em suma, parece que Dilma pode representar a instalação de um cenário ruim: Intensificação dos defeitos do discurso petista antigo e diminuição dos posicionamentos corretos e cautelosos. Afinal, Lula não deixa exatamente um legado, e sim um pragmatismo, que pode, ou não, ser seguido por sua sucessora.

Corumbá

terça-feira, 17 de novembro de 2009

O “driblador” de caráter

Em reunião com prefeitos, Lula disse que obras suspeitas de irregularidades, não devem ser paralisadas. Claro, pelo bem da campanha eleitoral de 2010. Que se dane se o dinheiro público estiver sendo roubado.

Ele está errado? Depende. Mas depende de que? Depende da ótica. Para meus conceitos de ética ele está dando carta branca aos ladrões. Para os conceitos de ética dele…mas quais conceitos e qual ética Lula tem?

Quanto mais passa o tempo cada vez mais me convenço que este Luiz Inácio é um salafrário, ou pelo menos age como se fosse. Há tempos citei em um artigo a infame teoria que rege a vida de Lula, segundo suas próprias palavras, de que achado não é roubado. Em maio deste ano li uma matéria da revista IstoÉ com Denise Paraná, uma escritora que nada sei a seu respeito além de que é amiga de Lula e o admira, o que pra mim já basta para ter as piores impressões e acreditar que ela vê luzes quando Lula fala. A matéria é sobre o livro escrito pela Denise sobre a vida de Lula e como ele, segundo ela, “driblou o destino”.

Ôpa! Qual foi o drible? E o destino, qual é? Uma das tristes lembranças de Lula, diz a escritora, foi que ele e sua família nunca comiam carne. “A carne que a gente comia era a mortadela que meu irmão roubava na padaria em que ele trabalhava”, relatou Lula no livro.

Não é lindo? Quando o irmão roubava. Veja a singeleza do ato! Isto é de um drible fenomenal. Drible no caráter, na ética, na honestidade e na polícia. O irmão roubava do patrão, mas sempre se safou e nunca foi preso.

Esse mesmo irmão, um sortudo!!!, foi responsável pela mudança na vida da família. Sortudo, achou um pacote de dinheiro (cerca de 34 salários mínimos) embrulhado num jornal, embaixo de um carrinho. Como ninguém reclamou ele roubou o dinheiro. Mas ai a escritora amiga de Lula arremata, “usou-o para quitar o aluguel atrasado em cinco meses e financiar a mudança da família para a Vila Carioca, em São Bernardo do Campo”. Como se fizesse diferença usar para pagar aluguel ou para beber com prostituta. Roubo é roubo, não interessa a causa nem a quantia. Ladrão é ladrão.

Ou seja, Lula foi criado em um ambiente delinquente onde o roubo e o desvio de conduta eram encarados como sorte, como drible. Não tem em sua programação princípios fundamentais como o respeito ao próximo.

Lula não driblou seu destino, como afirma a escritora. Ele forjou uma vida se apossando do que não é dele. Foi programado para isso. Para não ter caráter.

Lula é uma massa amorfa moldada pelo que há de pior no ser humano

O texto acima foi reproduzido do blog da Adriana Vandoni  pelo direito de termos ideias e opiniões e de poder divulgá-las. Liberdade não se conquista, ela é um direito natural  e inerente ao homem e pode sim ser restrita ou extinta pelos “poderosos” que não conseguem conviver com a verdade. Aquele que troca sua liberdade por segurança não merece nenhuma das duas.

A respeito da censura ao blog da Adriana, veja postagem "Por falar em liberdade de expressão", publicada nesse blog, domingo 15.

Corumbá

domingo, 15 de novembro de 2009

Por falar em liberdade de expressão…

Reproduzo aqui, pela importância do momento e, também, por significar um risco que todos nós blogueiros – para não falar brasileiros - ,  sofremos ao usarmos o direito de  expressarmos livremente nossa opinião neste país. Parece que está começando uma subversão de valores, quem comete o delito tem direito de a todos calar, quem quer falar sobre o mesmo delito tem que se calar. Não sou jurista, mas algo me parece invertido. Como diz a nossa amiga Adriana, o jogo, enfim, começou.

Com a palavra, Adriana Vandoni:

Recebi no final da tarde desta sexta-feira (13), um mandado de cumprimento de liminar concedida pelo juiz Pedro Sakamoto, ao deputado estadual José Riva (PP), presidente da assembléia legislativa de Mato Grosso, afastado das funções de ordenador de despesas por determinação do juiz Luiz Bertolucci, da Vara Especializada em Ação Civil Pública e Ação Popular de Mato Grosso.

O deputado entrou com uma ação contra mim e mais quatro pessoas alegando que nós “maculamos a sua honra” ao relatarmos em nossos blogs, processos que os Ministérios Públicos Estadual e Federal movem contra ele. Ok, cada um com sua queixa. Ele se queixa disso contra mim. O Ministério Público Estadual e o Federal se queixam de outras coisas contra ele. Cada um na sua.

O interessante é a decisão do juiz Sakamoto, que em tempos de grandes questionamentos da Liberdade de Expressão, e logo após o Presidente do Supremo Tribunal Federal dizer que tentativas de censura podem ser recorridas diretamente no STF, concede uma liminar nos seguintes termos:

“[...] se abstenham [os réus] de emitir opiniões pessoais pelas quais atribuam àquele [Riva] a prática de crime, sem que haja decisão judicial com transito em julgado que confirme a acusação, sob pena de multa de R$ 1.000,00 (mil reais) por ato de desrespeito a esta decisão e posterior ordem de exclusão da notícia ou opinião”. (em anexo)

O juiz nos proíbe emitir opinião. Cada cabeça, uma sentença. Na semana passada o ministro do STF, Celso de Mello, em uma sentença proferida em favor do jornalista Juca Kfouri, escreveu: “o texto da Constituição da República assegura ao jornalista, o direito de expender crítica, ainda que desfavorável e mesmo que em tom contundente, contra quaisquer pessoas ou autoridades”.

É claro que esta decisão do juiz será respeitada por mim, pois não tenho o costume de transgredir as leis e as normas de boa conduta, quer em situações como esta, quer no trato com bens públicos. Da mesma forma que nunca fui sequer suspeita de receber ilicitamente nenhum vintém, não serei acusada de desrespeitar a decisão de um juiz, mesmo considerando censora e opressora. Irei recorrer pelos meios legais, como uma cidadã de bem faz.

Continuo, se assim ainda me permitir o nobre magistrado juiz Pedro Sakamoto, com a mesma opinião que já tinha antes de José Riva e continuo esperando o dia de vê-lo respondendo às acusações que lhe são feitas pelos Ministério Público Estadual e Ministério Público Federal como qualquer cidadão deste país que vive conforme as leis brasileiras.  Não será esta concessão de liminar que me acovardará ou intimidará.

Eu, diferente do homem citado por Rui Barbosa, não me apequeno ou me encolho “de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus”, pelo contrário. Sinto-me grande, forte e confiante que o caminho que escolhi trilhar é o certo, o da honradez, da honestidade e da justiça. E por este caminho estou disposta a superar toda e qualquer adversidade que possa aparecer, e ei de transpô-las, uma a uma, sem nunca lançar mão de métodos ilícitos, tortuosos ou nebulosos.

Como já escrevi dias atrás, volto a escrever: o jogo, enfim, começou.

Adriana Vandoni

Corumbá

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O apagão e suas mentiras

Quem tinha um rádio de pilha na noite e madrugada do apagão pôde ouvir o que a princípio pareciam apenas informações desencontradas das autoridades federais a respeito das causas do problema.

Como apagões deixam todo mundo nervoso, como a rede de energia brasileira é enorme, como 96,6% da produção de eletricidade entra no sistema nacional interligado e todo esse assunto é tecnicamente muito complicado, a confusão parecia a normal das primeiras reações a desastres.

O desencontro começou a parecer desorientação e então negligência quando se percebeu que não havia aparentemente controle da situação. Ninguém parecia centralizar informações, ninguém passava orientações sobre o que esperar ou não esperar sobre o retorno da luz.

Hospitais, policiais, bombeiros, empresas de abastecimento de água e de transporte, serviços essenciais, precisam planejar emergências. Alguns telefonemas para vários desses serviços confirmaram a impressão da noite, de que não havia comunicação federal sobre a extensão do problema.

Mas o que era confusão desencontrada e, a seguir, desorientação e negligência confirmou-se a politicagem desprezível de sempre. Autoridades chutavam causas disparatadas para o acidente e procuravam se eximir da responsabilidade. E, como diria Lula, passaram a dar chutões para “se livrar da bola”.

Até o final da tarde de ontem, pelo menos, verificava-se que não havia autoridade a centralizar informações e orientações sobre o caso.

Isso é desgoverno, coisa de esperar de uma administração que nomeia Edison Lobão como ministro da área e entrega as estatais de energia à bocarra do PMDB.

Quando o dia já clareava, mas a escuridão politiqueira cobria o governo, a oposição acesa pelo oportunismo deu sua contribuição às trevas. Um senador tucano comparava o blecaute ao apagão de FHC. Um deputado "demo" dizia que estavam enterradas a imagem de gerente e da candidatura de Dilma Rousseff, ex-ministra da área e executiva-mor de Lula. Ninguém dessa oposição rastaquera foi procurar técnicos a fim de cobrar boas explicações do governo. Dilma, por sua vez, deu o vexame de fugir e sumir.

O apagão de FHC, na verdade um longo racionamento mesmo em período de baixo crescimento econômico, foi uma combinação extraordinária de descaso grosseiro, ideologia mercadista e azar climático.

Hoje não falta energia no país, até um pouco por sorte - a crise deu tempo de recompor "reservas" de energia (como a de gás e de água nas hidrelétricas), choveu muito etc. E houve muito mais investimento, especial em transmissão de energia - a rede cresceu cerca de 29% nos anos Lula, expansão 60% maior que a dos anos FHC. Há mais gás, canos de gás, grandes hidrelétricas em construção. No atacado da eletricidade, ao menos, Lula tem desempenho muito melhor que o de FHC.

Ainda não se sabe a causa do apagão, nem ainda é possível acreditar no governo, que ontem não conseguia confirmar nem se houve garoa na região onde o tempo ruim teria estragado a linha de transmissão, no Paraná.

Para piorar, falaram de novo em queda de raios, história suspeita desde o apagão de 1999, dos raios de Bauru. Na minha opinião, a pior das desculpas (ou das causas) visto que pode voltar a ocorrer se chover novamente – transmite intranquilidade.

Não dá para dizer que houve inépcia técnica. Na política, a carga de mentiras é alta e ainda chocante.

baseado em texto de Vinícius Freire

Corumbá

terça-feira, 10 de novembro de 2009

A crítica é necessária

Bastou um artigo mais forte (mas vazado em termos políticos) do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, publicado no jornal O GLOBO de 1/11, para que a fúria do Olimpo desabasse sobre a oposição.

O presidente Lula apelou para Hitler. A ministra Dilma Rousseff, que ainda não é candidata mas já age como candidata (o que não é muito correto), engrossou o caldo: "Forças do passado, patéticas e desconexas, usam de esmurradas (sic) táticas para confundir as pessoas, dizendo que os oito anos de governo do PSDB no país são semelhantes aos oito anos de governo do PT. Eles morrem de medo de comparar nossos governos com os deles e os nossos projetos com os deles. São países completamente diferentes."

Ficamos no plano dos adjetivos, e de uma retórica, esta sim, ultrapassada. Será que é isto o que espera o eleitorado brasileiro, numa campanha que, tecnicamente, ainda nem começou?

O povo brasileiro tem as suas intuições na hora de votar, e cada eleição é uma eleição. Em 1994 e 1998, preferiu Fernando Henrique a Lula - porque o Plano Real tinha mudado profundamente a vida do país, e Lula era contra o Plano Real. Em 2002 e 2006, preferiu Lula a Serra e depois a Alckmin - porque deve ter achado que era a hora de dar uma chance à oposição. E essa alternância de poder é a própria alma da democracia; impede que esquemas políticos envelheçam e até apodreçam.

Mas o Lula de 2002 já não era o de 1989; e, com grande sabedoria, resolveu manter a política econômica então vigente, enfrentando, para isso, todas as instâncias ideológicas do seu próprio partido. Só ultimamente é que ele parece mudar de rumo, o que deve ser, em boa parte, fruto da embriaguez do sucesso. Mas o sucesso não teria vindo sem a base sólida - política e econômica - que ficou dos oito anos de FHC. Nesse caso, como falar em "dois países", em dois projetos totalmente diferentes?  Parece que o PT está sem argumento nessa campanha.

O presidente Lula parece ter alguma diferença pessoal com o ex-presidente FHC. Daí voltarem sempre as comparações entre operário e professor, que teriam sido resolvidas a favor do operário. São questões pessoais. Mas as próximas eleições não vão pôr frente a frente o operário e o professor. É impróprio e inútil ficar repisando o que já passou, e insistir em que o mérito está todo de um lado. A verdade é que, de 1994 a 2009, o Brasil avançou muito, até a posição realmente privilegiada que desfruta hoje. Esse crescimento do país é incontestável!

O que o eleitor vai querer saber, a partir de agora, é o que vai ser feito desse legado. A oposição já está descobrindo alguns temas - como os que o ex-presidente FHC levantou.

Mesmo sendo o cenário, hoje, favorável, vamos continuar insistindo no rumo de agora - o de uma hiperpresidência que açambarca todo o quadro político, que achata os partidos, atropela outros poderes da República (como se viu na grande crise do Senado)? É de um homem (ou mulher) providencial que precisamos? Ou vale a pela retomar, o quanto antes, a evolução institucional que permitiu, em 2002, uma tranquilíssima transferência de poder? Será antipatriótico fazer críticas ao modelo vigente? Ou a crítica, como em qualquer país bem resolvido, é parte essencial do processo político?

São as questões que, logo logo, precisarão ser debatidas. Desqualificar de antemão qualquer crítica é um cacoete fascista, que tínhamos abandonado, e que não fará bem algum ao país.

E o debate é fundamental num regime democrático. Vamos torcer para que prevaleça a apresentação de ideias, os projetos e as propostas para mantermos em crescimento esse novo país que é de todos nós.

Corumbá

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Que risco?

Quando você pensa que, de tanto ler os clássicos, de Machado de Assis a João do Rio e a Rubem Braga, já adquiriu domínio suficiente da língua para dormir tranquilo, a mídia o atropela com novidades. Como na primeira vez que li que Fulano estava correndo "risco de morte". Pensei que tivesse lido errado.

Ninguém mais corre risco de vida, só de morte. Ou seja, não é mais a vida que está em perigo. Suponha que alguém resolva atravessar uma avenida com o sinal fechado, zanzando entre os carros. Até outro dia esse gesto poria sua vida em risco. Não mais. Hoje, segundo a nova língua - adotada por jornais, rádios, TVs, internet e o locutor da pamonha -  o sujeito corre risco de morte. Quer dizer: está ameaçado de não morrer nunca, mesmo que os carros lhe passem por cima.

Outra praga: a palavra "pontual". Era usada para descrever uma pessoa ou fato que chegava ou acontecia na hora marcada. Agora significa algo isolado, específico: "A falta de remédio no hospital xis é pontual". Um amigo me perguntou: "Quer dizer que a falta de remédio chegou na hora certa?".

E tenho gastrite no avião quando a aeromoça anuncia: "Para informações adicionais, procure nosso pessoal de terra". Ela quer dizer "para mais informações". E não consigo conter o riso ao ouvir: "Fulaninha me adicionou como sua amiga no Orkut". Note bem, adicionar não está errado - é latim para somar. Mas, da maneira como a turma o usa, é internetês castiço, traduzido diretamente do burrês.

O bom do ridículo é que ele não se enxerga. Um filme de 1929, "A Megera Domada", com Mary Pickford, baseado em Shakespeare, foi lançado em duas versões: muda e falada. Nesta última, era preciso dar um crédito na tela para as falas. O produtor sapecou: "Diálogos adicionais por William Shakespeare".

Ridículo é pouco!

baseado em texto de Ruy Castro

Corumbá

domingo, 8 de novembro de 2009

Caetano novamente patrulhado

Vinte anos depois da queda do Muro de Berlim, a “esquerda” brasileira (seja lá o que for isso) volta a patrulhar Caetano Veloso.

Se na ditadura lhe cobravam posição, agora o atacam por tê-la. Os críticos são os mesmos, as situações, inversas.

Caetano revelou-se dos poucos machos políticos dessa era Super Lula. Na semana passada, corajoso, chamou Lula de "analfabeto" e "grosseiro" após ser questionado sobre as eleições presidenciais de 2010:

"Pode botar aí. Não posso deixar de votar nela [Marina Silva]. É por demais forte, simbolicamente, para eu não me abalar. Marina é Lula e é Obama ao mesmo tempo. Ela é meio preta, é uma cabocla, é inteligente como o Obama, não é analfabeta como o Lula que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro."

No, digamos, subperonismo que nos encontramos, são raros os políticos que questionam Lula e seus 70%. Os artistas, então, viciados em Petrobras, Eletrobrás, isenções fiscais e vales culturais, ou se calam ou bajulam (ou estou enganado?). Só sobrou a imprensa independente, que por isso é acusada de partidária, e Caetano Veloso.

Mas Lula não aceita (mais) desaforo. Do pedestal que a história lhe ergueu, acima de tudo e todos, parte sempre para o ataque.

Falando em festa do PC do B em São Paulo, no mesmo discurso em que comparou táticas do PSDB às de Hitler, Lula, o aliado de Ahmadinejad, disparou contra Caetano:

"Tem gente que acha que a inteligência está ligada à quantidade de anos de escolaridade que você teve. Não tem nada mais burro que isso. A universidade te dá conhecimento. Inteligência é outra coisa", disse o petista, acrescentando, com o seu tom cada vez mais vingador do futuro: "Quem diz o que quer ouve o que não quer".

Mas Caetano, que não disse o que Lula disse que ele disse, não se intimidou. Respondeu ao presidente, com elegância, um dia depois, em show em São Paulo.

Disse à plateia que a semana havia sido marcada pela morte de duas grandes personalidades, Neguinho do Samba, fundador do Olodum, e o antropólogo judeu-francês Claude Lévi-Strauss.

Disse que, apesar de todos os títulos e cadeiras acadêmicas de Lévi-Strauss, Neguinho do Samba, sem quase estudo, foi mais importante para ele e tanta gente brasileira por ter inventado a seminal batida do Olodum, depois espalhada por Paul Simon e Michael Jackson.

(Aproveitou ainda para reclamar, com razão, que ninguém da imprensa o ligou para falar de Neguinho do Samba, enquanto foi muito procurado para comentar sobre o antropólogo. Pelo menos a crítica à imprensa o une a Lula.)

A música é a grande arte do Brasil, e a mais popular, tanto na fonte criadora como no consumo.

Caetano é o mais inventivo de nossos músicos vivos, o mais inquieto, inteligente, corajoso. Devemos ouvi-lo, agora roqueiro, com um power trio de sonoridade máxima.

Seu show está muito bem calibrado, com revisitas marcantes a clássicos como "Irene", "Não Identificado", "Maria Bethânia". Isso me fez lembrar que Caetano poderia ter reivindicado, como muitos dos patrulheiros petistas, uma Bolsa Ditadura por ter se exilado em Londres na ditadura militar, em pleno sucesso. Como tem feito muito petista que era menino de 10 anos à época.

Mas o genial Caetano quer cantar, quer opinar. E seu espírito inquieto bate de frente com esse quase autoritarismo popular.

O rolo compressor lulista está pronto para esmagar toda voz dissonante que questione o governo, seus feitos, seus planos e sua retórica. Os políticos estão com medo, calados, o povo, extasiado com os carros e lavadoras no crediário.

Mas Caetano falou. E foi aplaudido de pé em Moema.

Por isso ele canta, não pode parar. E os cães ladram.

participação Sérgio Malbergier

Corumbá