quarta-feira, 18 de novembro de 2009

À “esquerda” de Lula, Dilma?

Quando Lula liderava as pesquisas para a eleição presidencial de 2002, o mercado estava receoso. Temia o que um Presidente “de esquerda” poderia fazer no comando do País.

Sabendo disso, o PT arregaçou as mangas. Divulgou a Carta aos Brasileiros, que nada mais era do que um documento onde o partido assumia certos compromissos, visando deixar o mercado e a sociedade em geral mais calmos quanto aos rumos que um possível governo petista daria ao País. A noção de que Antonio Palocci seria o Ministro da Fazenda alentava o empresariado. O fato de o candidato a Vice-Presidente ser um empresário bem-sucedido, José Alencar, também ajudava.

O resto todos já sabem. O PT venceu as eleições presidenciais, manteve a agenda econômica tucana salvo algumas mudanças, Palocci foi confirmado na Fazenda, Henrique Meirelles, um tucano, foi colocado no Banco Central que, ainda bem, continuou autônomo e a estabilidade foi mantida. Tudo muito diferente do que Lula pregava no início de sua carreira política. Tudo muito afastado do que poderia ser chamado de “esquerda”.

Um governo predominantemente de centro surgiu e ele, somado aos escândalos, expulsou a esquerda mais radical do PT. O PSOL se formou e passou a ocupar um lócus já ocupado pelo PSTU, outra dissidência petista mais radical.

Pois bem. Acontece que Lula nunca fora, realmente, um radical. Lula adveio do sindicalismo, e não da esquerda revolucionária. Lula via com bons olhos o crescimento das fábricas que empregavam os sindicalistas, ao invés de defender a revolução armada.

Contudo, Dilma Rousseff não tem as mesmas raízes. Ao contrário, foi guerrilheira. Cometeu crimes que foram anistiados. Aparentemente, matou. Ou estava pronta para fazê-lo.

Longe de mim querer espalhar algum tipo de temor, até porque sabemos que, em um eventual governo de Dilma, o controle continuaria sendo de Lula e sua equipe. O “establishment” não seria muito alterado.

Porém, é passível de questionamento se haverá ou não uma guinada à esquerda. Recentemente, como na questão do pré-sal, velhos jargões foram ressuscitados, o nacionalismo versus entreguismo voltou à baila e a ampliação do Estado vem se fazendo latente. Voltamos a ouvir o jargão “estado-forte e controlador”.

Muito desse posicionamento advém da intenção de diferenciar o governo Lula do governo FHC, polarizando a eleição, que é vista pelos petistas, por conta da má avaliação popular de FHC, como uma boa ideia. Lula quer transformar as eleições de 2010 em um plebiscito, considerando que os resultados de seu governo não dependeram do governo anterior – como se isso fosse possível.

Ao mesmo tempo, um pouco deste posicionamento é, sim, ideológico, o que pode nos levar a imaginar que Dilma pode, realmente, representar alguém mais “à esquerda” que Lula. Na verdade, é praticamente unânime a visão de que ela é alguém mais esquerdista que nosso atual Presidente. Independentemente do que significa hoje no Brasil e no mundo a palavra “esquerdista”. Se é que significa alguma coisa.

Não sei até que ponto é interessante para o Brasil discutir temas como reestatizações, Consenso de Washington, etc. Eles pareciam superados e seria bom que estivessem. Não é Lula que se gaba tanto de agora sermos credores do FMI?

Por fim, vale citar que Hugo Chávez já disse, mais de uma vez, que Dilma Rousseff é sua candidata, se intrometendo onde não deve e, com certeza, dando armas à oposição pois, ao contrário do que o bolivariano pode pensar, ele não é bem visto no Brasil.

Em suma, parece que Dilma pode representar a instalação de um cenário ruim: Intensificação dos defeitos do discurso petista antigo e diminuição dos posicionamentos corretos e cautelosos. Afinal, Lula não deixa exatamente um legado, e sim um pragmatismo, que pode, ou não, ser seguido por sua sucessora.

Corumbá

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