sábado, 5 de setembro de 2009

Candidatura Dilma em quarentena

A candidatura Dilma Rousseff está fechada para balanço. O desgaste provocado pelo embate com a ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, que resultou em crise e demissões em cascata naquela estratégica repartição, superou as estimativas do governo.

Constata-se que houve uma sucessão de inabilidades políticas, a que o próprio Lula deu sua contribuição – e que contribuição! - ao envolver-se diretamente no bate-boca, desafiando a ex-secretária a exibir sua agenda. Em política, primeiro escalão não polemiza com o terceiro: pune ou silencia.

Ao profanar essa regra, Lula deu ao caso a dimensão política que está tendo – e que, em circunstâncias normais, não teria. Se a intervenção de Dilma já era excessiva, e desnecessária, imagine-se a do presidente da República. Na sequência, houve o depoimento de Lina no Senado e a desastrada intervenção do Gabinete de Segurança Institucional, sustentando a inexistência no Palácio de registros de visitas havidas há mais de um mês, o que é tecnicamente questionável, para não dizer improvável.

O resultado é o desgaste, político e moral, que tem gerado enormes preocupações dentro do PT. Figuras de alto coturno do partido questionam a candidatura de Dilma, que, antes mesmo da polêmica, já não entusiasmava.

Dilma, na verdade, foi (e é) uma invenção pessoal de Lula. Não seria jamais cogitada espontaneamente pelo partido, por não reunir as condições básicas para tal. Antes de mais nada, não se trata de uma petista histórica. Dilma é egressa do PDT, não tem perfil político e é vista tão-somente como uma técnica, sem carisma e sem simpatia pessoal.

Com toda a exposição pública que ganhou por meio de Lula, comparecendo há meses a todos os lançamentos do PAC em todo o país, não conseguiu aproximar-se nas pesquisas do governador de São Paulo, José Serra, que ainda não se lançou candidato, nem se expôs em viagens nacionais.

Como se não bastasse, expôs-se, ao longo do tempo, a sucessivos desgastes, como o episódio do dossiê contra o ex-presidente Fernando Henrique e sua mulher, dona Ruth Cardoso, e o caso da incorreção de seu currículo, que a dava indevidamente como mestra e doutora em economia.

Para agravar o quadro, a senadora Marina Silva deixou o partido e será candidata pelo PV, o que ameaça o principal ativo eleitoral de Dilma: sua condição feminina. Nesse quesito, Marina Silva apresenta trunfos mais sedutores: uma biografia rica, semelhante à de Lula, acrescida de ingredientes mais glamorosos, como o de ser negra, ter superado já adulta a condição de analfabeta e de não portar mácula em sua trajetória política.

Lula, mesmo assim, ainda aposta na sua ministra. Entende que a fervura política a que se expôs é passageira, circunscreve-se a um público limitado e em breve estará superada. Por isso mesmo, decidiu que a deve manter à distância do burburinho, em quarentena. E é como está. A oposição, porém, não pensa em largar o caso.

Quer levá-lo às últimas consequências, insistindo em que o Planalto, tendo em vista os termos do contrato com a empresa responsável pelo registro de imagens de visitantes – que prevê guarda de seis meses dos registros e posterior backup - forneça as informações que nega possuir. Pode não dar em nada (e não dará), mas prorroga a exposição do caso. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o sucessor de Lina na Receita, Otacílio Cartaxo, com declarações desastradas, auxiliam nessa estratégia.

Não há dúvida de que o caso chegará aos palanques da campanha do ano que vem, se Dilma for mesmo a candidata. Embora não haja outro nome disponível, nem Lula dê sinais de que recuará, já há dúvidas. O PT vive o paradoxo de possuir um presidente popularíssimo, num governo com alto índice de aprovação, sem um nome capaz de capitalizar esse patrimônio eleitoral.

O balanço a que a candidatura Dilma está submetido embute a discussão em torno de nomes alternativos. Pretendentes a substituí-la, não faltam. Falta, sim, um nome consistente, capaz de agradar a Lula, ao alto comando do partido e, sobretudo, ao eleitor. Lula, que precipitou a campanha ao lançar Dilma antes mesmo que a legislação eleitoral o autorizasse, vê-se forçado pelos fatos a perder a pressa.

O processo, porém, não recua. Serra, esta semana, pela primeira vez, admitiu formalmente que é candidato, enquanto Ciro Gomes e Marina Silva já falam nessa condição.

Baseado em texto de Ruy Fabiano

jornalista

Corumbá

A saúde e a incompetência

Informa o jornal O Globo:

“O governo defende a Contribuição Social para a Saúde (CSS), a nova CPMF, mas não está disposto a enfrentar o desgaste político de criar um novo tributo em ano eleitoral sem ter certeza de que a proposta seria aprovada no Congresso. Para que isso ocorra, avalia, seria necessária a pressão de governadores e prefeitos, incluindo os da oposição. O que o Palácio do Planalto teme é que se repita a votação da CPMF no Senado, quando o imposto do cheque foi derrotado e o governo sofreu o desgaste.”

É totalmente equivocada a vontade do governo de poder contar com mais um imposto. O sofrido contribuinte já dá uma parcela de seu suor que é suficiente para cobrir os gastos governamentais.

O que deve ser feito é gastar com mais competência e com mais critério, além de lutar para que sejam reduzidos ao mínimo os sumidouros de verbas públicas e para que as sonegações dos impostos já existentes sejam coibidas.

Infelizmente, a verdade é que o problema não é falta de dinheiro, e sim, uso errôneo desse dinheiro somado ao desvio do mesmo que se dá pela corrupção endêmica que presenciamos. Sendo assim, o que adiantaria sacrificar mais ainda o bolso do cidadão brasileiro?

Na realidade, é boa a notícia de que o governo teme ser derrotado no Congresso. Tomara mesmo que esse temor perdure. Quem sabe, assim, o governo busque outras alternativas para fechar suas contas que não sejam sugar mais do contribuinte. Dessa forma, pode acabar escolhendo a alternativa correta: A austeridade.

Sobre os tributos como um todo, sou partidário de que eles são, sim, necessários. Porém, como tudo, deve ter retorno compatível. Não acho correto o paradigma de estado mínimo, mas também não está correta a tributação excessiva, principalmente sem o necessário retorno de serviços à população. Os tributos praticamente inexistentes fariam com que não fosse possível para o Estado proteger os menos abastados quando fosse preciso. Os tributos excessivos retirariam mais do que o necessário do cidadão para que, mais tarde, a compensação fosse, como sabemos, precária.

Todos nós sabemos que a melhoria da saúde não passa pelo aumento dos impostos. Paremos com a hipocrisia. Há dinheiro, tanto é que os gastos públicos estão explodindo. Se o funcionalismo está podendo ser inchado, por que a saúde necessita que as movimentações financeiras dos brasileiros sejam mais tributadas ainda? Se o governo está cometendo o absurdo de não respeitar o superávit primário, por que somos nós que devemos pagar a fatura? Por que o governo só usou R$ 200mil quando tinha R$ 3,4 milhões à sua disposição para investir em saúde? Está faltando dinheiro ou competência administrativa?

A aprovação da CSS, a nova CPMF, seria um erro. No Brasil são pagos impostos demais para prestação estatal de menos. Quem sabe se os serviços públicos brasileiros fossem de alta qualidade a discussão tomasse outros rumos, mas não é o caso.

Sendo realistas, constataremos que isso não mudará no curto prazo, seja com ou sem CSS. Portanto, está provado que este não é o cerne da questão.

Concluindo, se o imposto não traria melhoria, mas seria causador de mais um furo nos bolsos tupiniquins, porque defendê-lo?

É simples lógica.

E não me venham dizer que saúde é sagrada e que para ela não se podem negar contribuições. Esse argumento não cola. Também acredito na sacralidade da saúde, assim como na da educação. Apenas creio que já contribuímos com o necessário e que, talvez, o novo tributo nem mesmo gerasse melhorias na saúde.

Que tal um imposto para financiar uma central autônoma, totalmente apolítica e suprapartidária, independente e honesta de combate à corrupção? Essa tributação daria, com certeza, retorno. Seriam recuperadas cifras maiores do que as dispendidas. Mas algo assim ninguém cogita, não é mesmo?

E para os que argumentam que o governo faria bom uso do dinheiro desta vez, apresento uma palavra:

Precedente.

Corumbá