quinta-feira, 10 de junho de 2010

O Operário padrão volta a atacar

Enviado por Giulio Sanmartini  em 10/06/2010

Uma pesquisa de opinião coloca  o índice aprovação do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Pernambuco, num patamar fantástico de 95%

Os dados constam de pesquisa feita pelo instituto Exatta entre os dias 29 de maio e 1º de junho. Ouviram-se 2.002 pessoas. A margem de erro da sondagem é de 2,2 pontos, para cima ou para baixo.

Esse número beira a unanimidade que é típica nas eleições em países onde existem ditaduras tipo da Coréia do Norte, mas esse não é caso. Se seguirmos a linha do pensamento do dramaturgo Nelson Rodrigues, que “toda a unanimidade é burra”, podemos  imaginar no estado de Pernambuco  existam quase 9 milhões de imbecis o que também não é o caso, logo, sobra somente uma das inúmeras e atuais falhas dos institutos de opinião que favorecem quem as paga.

Toinho de Passira faz uma interessante observação sobre esse fato: “A máquina publicitária do governo tem posto na cabeça do povo, que Lula fez muito por Pernambuco. Quando esbarramos com alguns desses crentes, costumamos por uma folha em branco e uma caneta em suas mãos e pedir que eles elenquem o que o presidente fez pelo estado”.

O resultado é que o papel sai tão imaculado como chegou. “A verdade é que Lula tem lançado pedras fundamentais de projetos que nunca saem dos alicerces e costuma inaugurar assinaturas e promessas da vinda de milhões e bilhões em projetos que nunca acabam acontecendo”.

Em seu programa radiofônico “Café com o Presidente” (7/6) Lula disse: “Nós temos muitas coisas para inaugurar, o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] está a todo vapor”.

Mas isso é papo furado, Toinho acertou em cheio nas inaugurações. Em sua agenda de quarta feira (*) o presidente Lula foi a Natal (RN) e Maceió (AL) e, em pouco mais de 3 horas, inaugurou quatro assinaturas e a  abertura do 82º Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic).

“Trabalho digno de um operário padrão”.

Foto: Lula nos trabalhos.

(*) A agenda diária divulgada Secretaria de Imprensa e Porta-Voz da Presidência para o dia 9/6/2010..

13h10 – Cerimônia de assinatura do decreto de concessão do aeroporto de São Gonçalo do Amarante, entrega de equipamentos aos Territórios da Cidadania, assinatura de decreto de criação de Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs) nos municípios de Açu e Macaíba e assinatura de convênio entre o Ministério do Turismo e o Governo do Rio Grande do Norte Centro de Convenções de Natal, Via Costeira

15h20 – Partida para Maceió (AL)

Base Aérea de Natal

16h20 – Chegada a Maceió

Aeroporto Internacional Zumbi dos Palmares

17h – Cerimônia de assinatura de ordem de início da duplicação de seis lotes da BR-101 BR-101, Km 130

19h45 – Cerimônia de abertura do 82º Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic) Centro de Convenções e Exposições Ruth Cardoso

Corumbá

Causa perdida

Enviado por Merval Pereira, em 10/06:

A decisão do Brasil de votar contra as sanções ao Irã no Conselho de Segurança da ONU nos isola politicamente não apenas naquele órgão colegiado, mas no mundo ocidental do qual fazemos parte.

A Turquia tem até suas razões geopolíticas para atuar como vem atuando, é vizinho do Irã, um de seus maiores parceiros econômicos, tem interesse em entrar para a Comunidade Europeia e joga com sua relação com os países muçulmanos para ganhar peso político.

O Líbano, com toda a força do Hezbollah, foi mais sensato e se absteve.

Claro que, ao intermediar o acordo nuclear com o Irã, o Brasil se colocou na arena internacional, houve uma mudança de patamar, porque o mundo mudou. Já não existem mais potências hegemônicas, as lideranças das negociações têm que ser divididas entre os países, e a política externa brasileira arrojada tenta tirar proveito dessa mudança.

Arrojada até demais, a ideia de negociar a paz do Oriente Médio é despropositada e tratada com escárnio pelos envolvidos.

Invadiu a internet nos últimos dias um filmete com um programa humorístico identificado como sendo da televisão israelense onde uma turma do Casseta e Planeta de lá goza nosso presidente de maneira cruel.

O que não é possível é aceitar uma política externa irresponsável apenas por "patriotismo", sem nenhuma razão realista que a justifique. Não é possível aceitar que o presidente, qualquer que seja ele, possa usar o país para aventuras personalistas.

Apoiar o Irã, uma ditadura teocrática completamente fora das leis internacionais e do respeito aos direitos humanos, é um absurdo, ainda mais quando todo o Ocidente está trabalhando em conjunto para tentar controlar esses aiatolás atômicos, e conseguindo até apoio de China e Rússia.

Nem mesmo um pragmatismo comercial justificaria tamanho comprometimento, pois nossas exportações para o Irã representam menos de 1% de nosso comércio internacional, ao contrário da Rússia e da China, que mesmo tendo grandes interesses econômicos e políticos na relação com o Irã, aderiram às sanções como prova de que a situação é considerada realmente grave.

Corumbá

domingo, 6 de junho de 2010

País assiste à flexibilização das fronteiras ideológicas

Enviado por Josias de Souza:

Prisioneiros do próprio impudor, PSDB e PT baniram do debate eleitoral de 2010 um tema antes obrigatório: corrupção. Desapareceu da cena política brasileira a presunção de superioridade moral. As legendas que polarizam a disputa integraram-se à perversão comum a todas as siglas.

Nos últimos 16 anos - dois mandatos de Fernando Henrique e dois de Lula - o brasileiro assistiu a uma notável flexibilização das fronteiras éticas e ideológicas. A "social-democracia" tucana e o "socialismo" petista provaram-se capazes de ceder a todas as tentações -da maleabilidade nos costumes às alianças esdrúxulas.

Impossível, por exemplo, mencionar o mensalão sem especificar o sobrenome. Há o mensalão do PT, o mensalão do PSDB mineiro, o mensalão do DEM de Brasília.

Na composição das alianças, a integridade dos ovos não vale mais nada. Só importa o proveito da omelete, convertida em tempo de TV. Os candidatos nem se preocupam em varrer as cascas para baixo do tapete. Acham que não devem nada para o eleitor, muito menos explicações.

A união do impensável com o inacreditável não assusta mais. Até a imprensa trata as coligações com notável indulgência.

Sobre o pano de fundo da decomposição, a ex-militante Dilma Rousseff é uma nova mulher. Dá as mãos a José Sarney, um sobrevivente da ditadura que ela se jacta de ter combatido.

José Serra abraça Orestes Quércia. E esquece que, junto com FHC, Franco Montoro e Mario Covas, deixara o PMDB para não chamar de companheiro quem agora admite como aliado.

O PT de Dilma converte em heróis da resistência políticos incontroversos como Renan Calheiros e Jader Barbalho. O PSDB de Serra silencia. A reação soaria a pantomima. Renan foi ministro de FHC. Da Justiça! Jader mandou e, sobretudo, desmandou na Sudam e no Senado da era tucana.

Quem observa a sucessão de 2010 tem a impressão de que a política perdeu pelo caminho algo essencial: o recato. Quem se assombra com o já visto não imagina o que está por vir.

Institucionalizou-se a impudência sem culpa. A adesão de ex-puros a ex-inimigos, mais que estratégia, tornou-se comunhão de estilos.

A corrupção virou uma bandeira órfã porque, generalizada, a desfaçatez fez da anomalia algo, por assim dizer, normal. Formou-se um insuperável déficit estético.

Corumbá