sábado, 16 de janeiro de 2010

Por que o Haiti é tão pobre?

Enviado por Míriam Leitão - 16.1.2010

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Em 1804 parecia que a história tinha afinal sorrido para a rica colônia francesa do Caribe. Uma revolução dos escravos levou-os a conquistar o poder e instalar uma república negra nas Américas, a segunda república independente das Américas, depois dos Estados Unidos.

Até então ela havia sido explorada radicalmente pela França. Era tão produtiva que era chamada "a jóia das Antilhas". No sistema escravocrata, numa terra altamente produtiva, a França extraiu tudo do que podia da colônia. Lá se produzia café, cacau, tabaco, algodão, índigo entre outros produtos que eram refinados na França e reexportado para o resto da Europa. O cálculo é que a França retirava de lá 50% do seu PIB da época.

A independência parecia ser um brilhante recomeço. Não foi. O mundo inteiro decretou boicote à nova república. As potências coloniais achavam subversivo aquele modelo. Os Estados Unidos que já eram uma ex-colônia independente eram um país escravocrata. O Haiti assustava a todos. Sob boicote do mundo, o país entrou em dificuldades extremas. Não podia exportar nem importar. A França passou a cobrar do Haiti uma suposta divida para indenizar os ex-donos de terras, ex-donos de escravos. A contenda com a França só acabou quando em 1838 o governo haitiano aceitou pagar 150 milhões de francos. Durante 80 anos essa divida, que foi paga incontáveis vezes através de juros intermináveis, drenou a economia haitiana. A dívida só foi considerada paga em 1922.

Mas aí o país já estava sob jugo de outro opressor: os Estados Unidos ocuparam militarmente o país em 1915 e lá ficaram até 1938. Mesmo após o fim da ocupação física, os Estados Unidos apoiaram as escolhas trágicas dos haitianos como o poder à dinastia dos Duvalier, o Papa Doc  e Baby Doc que desde os anos 60, por décadas, dominaram a população pelo terror através da mais violenta das polícias políticas de que se tem notícia nas Américas, os Tonton Macoute.

Para completar a explicação da pobreza, os indicadores educacionais são os piores. Todos esses governantes ou líderes, sejam eles de opressores estrangeiros ou opressores locais,  jamais fizeram qualquer esforço para educar a população e retirá-la da ignorância.

A democracia quando chegou lá, chegou tarde e vulnerável.

Para completar o quadro produzido por essa história, há ainda os fatores climáticos. A destruição impiedosa do meio ambiente, desde a época colonial, no país que tinha uma intensa biodiversidade, foi empobrecendo o solo, produzindo erosões, aumentando os riscos de desastres ambientais. Hoje restam apenas 2% da rica cobertura vegetal original. Furacões e terremotos fizeram o resto da tragédia haitiana.

Haverá futuro para o Haiti se os haitianos e o mundo aprenderem com essa história. É hora de os países de boa vontade se unirem em torno do Haiti para do meio do caos atual começar a construir uma nova história.

Corumbá

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Lula guerra e ódio.

Ao declarar que levará para a campanha eleitoral de 2010 um "Lula Guerra e Ódio", o presidente mostra a sua verdadeira face.

"Pelos sinais que eu vi, pela ausência de discurso programático, vale chutar do peito para cima. O que eles não sabem é que eu sou capoeirista e, portanto, estou muito preparado para não deixar a coisa chegar no meu peito".

O debate faz mal para Lula. Os olhos ficam vermelhos e arregalados. O pescoço incha. As veias saltam. O suor escorre pela testa.

Lula está mordido por pequenos e grandes detalhes. Pelo filme que é um fracasso de bilheteria. Pela polêmica do PNDH III. E até por ter escolhido a babushka stalinista mudinha para ser a sua sucessora.

Lula é um burro esperto. É um analfabeto com doutorado em povo. Ele está enlouquecendo aos poucos porque sabe que a sua popularidade não vai adiantar absolutamente nada.

Ele não é candidato e o povo vai escolher o melhor, independente dele. Além disso, Lula está irritado porque ele está em franca campanha, a oposição não.

Por isso, é preciso respeitar a lucidez de José Serra. Quanto mais tarde, melhor. E que Lula fique tocando o seu berimbau desafinado.

Corumbá

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Ideias de jerico - PNDH

Diz em seu blog o jornalista Ricardo Kotscho,  ligado estreitamente ao governo – inclusive tendo sido Secretário de imprensa da Presidência petista - e amigo pessoal de Lula:

É natural que haja reação contra o governo quando apresenta um projeto polêmico que afeta os interesses de determinados setores.

Em sete anos de governo Lula, no entanto, não houve caso de tamanha unanimidade contrária como está acontecendo agora em relação ao Programa Nacional dos Direitos Humanos.

Numa só tacada, o plano solenemente anunciado ao país pelo presidente Lula, na antevéspera do Natal, conseguiu colocar na mesma trincheira as Forças Armadas, a Igreja, a Imprensa, os ruralistas e setores do próprio governo, provocando uma reação em cadeia na última semana, quando se tornaram conhecidos detalhes das 521 medidas previstas para as mais diferentes áreas da vida nacional.[...]

O que não dá para entender é qual a motivação do governo para comprar tantas brigas com cachorro grande ao mesmo tempo, justamente na abertura de um ano eleitoral, já na reta final do segundo mandato, depois de fechar 2009 navegando num mar de almirante, com o presidente Lula batendo recordes de popularidade e sua candidata, Dilma Roussef [sic], subindo nas pesquisas.[...]

Sem entrar no mérito de cada proposta, até porque são tantas que se torna impossível analisar uma a uma no espaço de um blog, o fato é que antes mesmo de chegar ao Congresso Nacional em forma de projeto de lei, o conjunto da obra do decreto sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos, da forma como foi apresentado, até agora só trouxe sérios problemas para o governo e deu de graça uma bandeira e um discurso que faltavam à oposição.

O estrago já está feito como o presidente Lula irá constatar ao encontrar uma quitanda de problemas em sua mesa de trabalho nesta segunda-feira, mas ainda é tempo de chamar sua equipe e colocar ordem em campo, retirando este assunto de pauta até a maré baixar. Tem coisa ali que pode ser encaminhada diretamente ao MIJ (Memorial das Idéias de Jerico).”

Ricardo Kotscho tem, claramente, sua tendência. Ele não é imparcial, porém, não há problema algum nisso, pois ele, por ser franco, não diz ser.

O jornalista tem sua ideologia e não é hipócrita. Além disso, como se pôde perceber no trecho reproduzido acima, não coloca seus companheiros em um pedestal, não se torna irracional para defendê-los, não faz malabarismos retóricos. Resumindo, ele sabe, mesmo sendo petista, que o PT também erra. Grande vantagem sobre outros que escrevem por aí com a mesma inclinação, mas com menos bom senso.

É por essas e por ele aparentar ser uma pessoa do bem que o respeito. É por ele ter a sensatez de apontar os erros do seu próprio grupo, que o leio sem medo de me decepcionar com o material.

Portanto, quando Ricardo Kotscho diz que muita coisa do decreto que instituiu o Programa Nacional de Direitos Humanos, elaborado pelo Ministro Paulo Vannuchi, poderia ser caracterizado como “ideia de jerico”, isso quer dizer que há, realmente, muita coisa a criticar ali.

E ele não tem pudor de afirmar isso.

Ainda bem. É disso que precisamos.

Corumbá

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

China usa arma desleal no comércio

Enviado por Míriam Leitão - 11.1.2010 - |CBN

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A China não joga limpo no comércio internacional. Ela desvaloriza artificialmente a sua moeda e isso aumenta a competitividade de seus produtos.

Aqui no Brasil e na maior parte do mundo, o câmbio é flutuante. Com a crise internacional, o real acabou se valorizando em relação ao dólar. Já na China, o yuan ficou praticamente estável, e isso fez com ele, na prática, ficasse desvalorizado em relação às outras moedas, porque elas se valorizaram.

No comércio internacional, ter câmbio fraco facilita a exportação. A moeda mais fraca faz com que o produto do exportador fique mais barato no país que compra o produto. Ou seja, há um ganho de competitividade.

A China, em 1999, tinha 3% do mercado internacional. Hoje, tem 10%. Aumentou numa faixa de 23% ao ano, nos últimos anos. Muito mais do que cresceu no resto do mundo. Se continuar neste ritmo, daqui a 10 anos, a China terá 25% do mercado internacional.

É como se fosse um campeão olímpico que fizesse uso de anabolizantes.

Corumbá

domingo, 10 de janeiro de 2010

Longe da luz

Enviado por J.R. Guzzo

"Se a Aeronáutica não tem condições de entender os altos propósitos estratégicos do país, nem de tomar uma decisão sobre os caças que deve utilizar em sua própria frota, por que, então, pedir a sua opinião sobre o assunto?"

 

Qualquer manual de instruções sobre o bom exercício da chefia, mesmo os que não são lá nenhuma obra-prima, traz sempre uma regra clara. Toda vez que o chefe diz "aqui quem manda sou eu", cuidado - é sinal de que alguma coisa está errada, para ele, para os subordinados ou para ambos.

Quem manda de verdade não precisa ficar dizendo isso; se diz, é porque acha que não está mandando como gostaria, ou, pior ainda, é porque os outros não acreditam que mande mesmo, a começar pelos que deveriam obedecer a suas ordens.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nestes últimos tempos, está começando a falar muito que quem manda é ele. Por que será?

Aconteceu mais uma vez na semana passada, agora em relação a essa esquisita história dos 36 jatos que o Brasil quer comprar, mas parece não estar conseguindo, para renovar a frota de caças da Força Aérea Brasileira.

Concorrem como vendedores três modelos, um americano, um sueco e um francês; o governo não quer o americano porque é americano, e não quer o sueco porque está querendo mesmo o francês.

Trata-se do modelo mais caro, com o menor alcance e a característica de não ter sido comprado até agora por nenhum país, salvo a própria França. A Índia resolveu, numa concorrência pública, excluir o caça Francês por falta de qualidade técnica.

Nada disso, assegura o governo brasileiro, tem nenhuma importância; há outras questões a considerar, complicadas demais para o entendimento dos leigos que pagarão essa conta, sendo a principal delas a formação de uma "parceria estratégica" com a França.

Só Deus sabe o que seria essa "parceria estratégica" na vida real - espera-se que seja coisa boa, pois se for coisa ruim não vai dar para consertar mais tarde, quando os aviões estiverem comprados e pagos.

Em todo caso, Lula e os cérebros internacionais do governo estão convencidos de que a compra do avião francês é fundamental para os seus projetos de reorganização geopolítica do planeta.

O diabo é que a Aeronáutica brasileira, a quem cabe voar com os jatos, preparou um relatório técnico no qual fica claro, conforme antecipou a coluna Radar na última edição de VEJA, que o modelo com mais vantagens é o sueco.

Pronto: o presidente ficou bravo, partiu para um "aqui quem manda sou eu" e avisou que a FAB vai comprar, no fim das contas, o modelo que ele achar melhor.

Eis aí, é claro, o tumulto formado. "Essa visão da Aeronáutica é equivocada e parcial", disse o deputado e líder petista José Genoino, recém-saído do purgatório para onde fora enviado pelas desventuras do homem-cueca, personagem inesquecível do mensalão. "Não se pode comprar equipamento militar como se fosse um objeto de prateleira num shopping."

É um alívio para todos, realmente, receber essa informação do deputado; os brasileiros podem, a partir de agora, ficar sossegados, pois ele nos garante que ninguém do governo, ou da FAB, vai entrar numa loja das Casas Bahia e sair de lá com 36 jatos supersônicos no carrinho de compras.

Muito justo, mas, se a Aeronáutica não tem condições de entender os altos propósitos estratégicos do país, nem de tomar uma decisão sobre os caças que deve utilizar em sua própria frota, por que, então, pedir a sua opinião sobre o assunto?

Para que perder tempo, fazer viagens de estudo, gastar dinheiro e escrever relatórios se o presidente da República já resolveu que modelo o Brasil vai comprar? É como se os oficiais envolvidos no processo tivessem recebido a seguinte instrução: aprovem o modelo que quiserem, desde que seja o francês.

Quando resolveu fechar esse negócio do seu jeito, e de nenhum outro, o presidente Lula bem que poderia ter ficado quieto, dado as ordens que caberia dar e anunciado, um belo dia, que a compra estava feita.

Em vez disso, saiu falando em público de suas preferências, deixou promessas no ar e agora tem de escolher entre dois males: ou desautoriza a força aérea que comanda ou não cumpre o que prometeu aos franceses ou deu a entender que estava prometendo.

A situação não melhora em nada, é claro, quando se considera a tenebrosa reputação que o governo vem construindo sempre que se dispõe a comprar alguma coisa e pagar por ela; conforme demonstrado na mesma VEJA da semana passada, o metro cúbico pago numa obra federal tem a mania de custar o dobro, o triplo ou muito mais do que custa pelos preços correntes no mercado, seja em fundações, drenagem de areia ou tubos de aço-carbono.

Para quebrar essa escrita, uma transação de impacto mundial como a dos jatos da FAB deveria estar sendo feita com a maior exposição possível à luz do sol. É o contrário, justamente, do que se vê.

Corumbá