sábado, 18 de dezembro de 2010

Nas salas de aula não existe presença obrigatória

Texto do professor José Predebon, organizador e co-autor do livro Profissão Professor (Cia dos Livros).
E-mail: jose@predebon.com.br

Nenhum aluno fica em classe se não estiver interessado. Pode até estar lá, sentado, para não ter falta. Mas seu coração e mente não estão presentes, só seu corpo. Problema do professor? Claro que grande parte dos mestres pensa que desinteresse de alunos não é seu problema, e lhes basta ter a consciência tranquila de estar cumprindo o programa de sua disciplina.

A questão não é simples. Uma série de fatores presentes na atualidade fez surgir agora uma geração que contesta o sistema como nunca acontecera antes. Penso que não se trata de uma degenerescência social, mas do produto do cruzamento entre a era da comunicação, agora com a internet, com o ímpeto do desejo de mudança dos jovens, melhor percebido desde 1968.

Nossos alunos de hoje, pesquisados, declaram que a maior utilidade que encontram na escola é a formação de sua rede de relacionamentos. Vemos que são também atraídos pelo diploma que, de alguma forma, pensam, deve facilitar sua vida. De resto, franzem o nariz: “não quero seguir o caminho de meus pais, que não são felizes”. Como esses jovens receberão o bastão do revezamento social?

Nesse contexto, nós, professores, só poderíamos mesmo nos sentir pouco desejados, e, por isso, pouco ouvidos e respeitados como mestres. Esse panorama, claro, não é geral, há ressalvas. A primeira é de uma parcela (estima-se em 20%) de jovens com vocação para o aprendizado – os curiosos que procuram informações, de todo tipo. Outra exceção é a de alunos de universidades públicas, na qual entraram por meio de uma rigorosa seleção, e que por isso tendem a valorizar o aproveitamento das aulas. Algo parecido acontece em escolas muito procuradas, onde o ingresso também é difícil. Finalmente, também são mais interessados os que se sacrificam, trabalhando de dia e estudando à noite, e entendem a necessidade do conhecimento para sua carreira.

Entretanto, no geral, vemos que quando a maioria dos alunos está na escola para “cumprir tabela”, a contragosto, não se pode esperar boa disposição deles para com os professores. Eles fazem parte da “chatice da escola”. São uma extensão dos pais, que dizem uma coisa e fazem outra. Jamais pode ocorrer ao aluno, nessa condição, procurar estabelecer com o professor uma relação que não seja a obrigatória, pouco mais do que responder a chamada. Por isso, se houver possibilidade de mudança, esta precisa vir do professor. Só ele pode tomar a iniciativa de estabelecer uma relação diferente. Ou constrói uma ponte e a atravessa para chegar ao aluno, ou fica deste lado falando sozinho, também cumprindo sua tabela, dentro de um contexto perverso. Cabe ao professor tomar a iniciativa, ainda que ele, pessoalmente, nada tenha a ver com a culpa de sua geração que construiu uma sociedade problemática. Cabe a ele, portanto, também usar a criatividade como uma ferramenta para que suas aulas possam ser mais aproveitadas.

Colegas professores, claro, a criatividade não resolve os problemas do ensino brasileiro, mas pode se tornar a ferramenta para fazer a diferença no seu trabalho pessoal. Sempre há campo para nós, mestres, nos colocarmos muito além da “obrigação básica do programa”. Se nos posicionarmos assim, e também a favor dos alunos, nunca nos conformando de antemão com seu pouco interesse, e se adicionarmos a magia da criatividade ao planejar nossas aulas, aí sim, teremos feito a nossa parte. Concluímos lembrando que mudanças não são fáceis, mas muitas vezes são necessárias.

Corumbá

domingo, 12 de dezembro de 2010

Emergente? Só a cabeça

Enviado por CLÓVIS ROSSI em 12/12/10

PARIS - Eis o país que Dilma Rousseff vai receber:

1 - Os brasileiros que ganham mais de R$ 10.200 são apenas 3 milhões. Os brasileiros que sobrevivem com menos de R$ 1 mil vão a 79 milhões. Detalhe: estamos falando de renda familiar, não individual.
Ou, em porcentagens: apenas 1,5% dos brasileiros habitam o que Elio Gaspari chamaria de andar de cima. Uma massa formidável de 41% mora mesmo é no porão. Outros 40%, pouco mais ou menos, ocupam o andar de baixo.
Estatística à parte, o mais elementar sentido comum manda chamar de pobres esses 80%.

2 - Por incrível que possa parecer, há brasileiros em condição ainda pior, conforme constatou o jornal "O Estado de São Paulo", ao visitar dados do Ministério de Desenvolvimento Social:
"Entre as 12,7 milhões de famílias beneficiárias do Bolsa-Família, 7,4 milhões (58%) encontram-se na faixa de renda entre R$ 70 e R$ 140 mensais por pessoa da família. Dessas, 4,4 milhões (35% do total dos beneficiários) superaram a condição de extrema pobreza com o pagamento do benefício. Mas ainda restam 5,3 milhões (42%) de miseráveis no programa".
Posto de outra forma, quase a metade dos pobres entre os pobres não levanta cabeça nem mesmo com a ajuda do governo, de resto indispensável para que pelo menos não morram de fome.

3 - Dispenso-me de rememorar os dados desastrosos sobre educação, divulgados esta semana e já abundantemente comentados. Fico apenas na constatação de que o desnível educacional entre a escola dos mais ricos e a dos mais pobres é uma forma de perpetuar as condições acima descritas.
Dá para dizer que um país assim é emergente? Só pelo critério usado pelo pesquisador Francisco Soares (UFMG): "É como se tivéssemos tirado a cabeça fora d'água, mas a praia ainda está muito longe".

Corumbá

A verdade que restou

Metade das obras do PAC não foi concluída. Só depois de pronto o muito que falta o PAC 2 tentará sair do papel. A conta da gastança chegou, e a alternativa para os cortes anunciados pelo ministro Guido Mantega é o colapso dos investimentos públicos. Domada há 16 anos pelo Plano Real, a inflação anda regurgitando e não será sufocada por falatórios. O legado de Lula enfim começa a mostrar o que há por trás da enganadora embalagem.

A quatro anos da Copa do Mundo, a seis dos Jogos Olímpicos, os cartolas que exploram os principais eventos esportivos do planeta já desconfiam de que parcerias com sócios brasileiros são um negócio de altíssimo risco. Os colossos urbanísticos e os milagres arquitetônicos prometidos pelo maior dos governantes desde Tomé de Souza seguem confinados na discurseira em mau português.

Refeito o balanço de 2009, o IBGE descobriu que os estragos decorrentes da crise econômica foram bem mais severos que arranhões provocados por marolinhas. Números divulgados pelo FMI acabam de revelar que o crescimento do PIB durante os dois mandatos de Lula foi de 4% ao ano. A média é inferior às registradas no mesmo período na China (10,95%), na Índia (8,2%) e na Rússia (4,8%). O lanterninha no BRIC também ficou abaixo da média da América Latina (4,64%). No ranking do desenvolvimento de educação organizado pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), o Brasil apareceu numa constrangedora 53ª colocação entre os 65 países incluídos na pesquisa.

O lote mais recente de notícias inquietantes não mudou o tom do mais extenso palavrório ufanista desde o Dia da Criação. Começou com a posse de Lula e vai terminar com a posse de Dilma. Teria durado exatamente oito anos se não fossem as três ou quatro semanas de férias em praias isoladas e 10 ou 15 dias de silêncio malandro: não havia o que dizer. O falante incontrolável ficou foragido da imprensa depois do estouro do escândalo do mensalão, depois do acidente com o avião da TAM no aeroporto de Congonhas e depois do primeiro turno da eleição presidencial deste ano. Descontados esses períodos de silêncio, a discurseira não respeitou sequer domingos, feriados e dias santos.

Assim será até a última fala do trono. Sem dinheiro sequer para pagar as  indenizações devidas aos parentes dos militares mortos no Haiti, o presidente que deveria estar afivelando malas embarcou outra vez no trem-bala, anunciou a compra de um avião novo e ordenou a Guido Mantega que mantenha o ritmo da gastança durante a interinidade de Dilma Rousseff. O Brasil que Lula inventou é um pobretão que se faz de rico usando um fraque puído nos fundilhos.

Corumbá

domingo, 21 de novembro de 2010

Vida normal em Brasília

Enviado por Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

Com notável rapidez, a vida política brasileira se normalizou depois das eleições. Há apenas três semanas, o clima era de intensas emoções. Hoje, tudo está calmo.

Se Serra tivesse vencido, o quadro seria, com certeza, diferente. Os três poderes da República teriam entrado em compasso de espera, ninguém sabendo como ficariam e qual seria o jogo entre eles. O mais afetado seria o Executivo, por razões evidentes. O Planalto e a Esplanada estariam no meio de um turbilhão.

Para dizer uma coisa óbvia, a facilidade com que a rotina voltou a Brasília é um sinal de nosso amadurecimento democrático. Vivemos quase o século XX inteiro atravessando instabilidades, golpes, contragolpes, ditaduras. Nas poucas eleições mais livres que fizemos até 1964, ainda era possível dizer que “se Fulano disputar a eleição, não vence; se vencer, não toma posse; se tomar, não governa”.

Após a volta das eleições diretas, já passamos por quatro transições presidenciais, algumas traumáticas, outras pacíficas. A passagem do poder de Sarney para Collor teve o imenso simbolismo do reencontro com a democracia, depois da mais longa ditadura de nossa história. Tudo naquele momento era extraordinário.

A posse de Itamar tampouco se compara às seguintes, pois aconteceu no auge da crise do impeachment. Ali, as jovens instituições da nova democracia brasileira se tornaram adultas.

De Itamar para Fernando Henrique, houve apenas uma mudança de guarda, sem sobressaltos. Embora entre os dois as coisas nunca tivessem sido tranquilas, para fins externos tudo parecia simples: um presidente saía e entrava outro, os dois farinha do mesmo saco, pois Fernando Henrique era o ex-ministro que Itamar havia indicado para sucedê-lo. À primeira vista, seria apenas uma continuidade ortodoxa, mas ela nada tinha de trivial, pois representava a bem-sucedida conclusão de um longo processo de recuperação da normalidade institucional.

Já a transição de Fernando Henrique para Lula teve mais drama. A biografia e a trajetória do eleito faziam com que a perspectiva de sua chegada ao poder deixasse o sistema político e a sociedade sob tensão. A incerteza sobre como seria seu governo levantou o valor do dólar e fez com que a inflação disparasse, mesmo depois da Carta aos Brasileiros e de sua garantia de que honraria os contratos e os compromissos assumidos.

Mas o mais importante era o sentimento da originalidade daquela transição, com o primeiro líder popular que chegava à Presidência. Tudo nela despertava a curiosidade e atraía a atenção do país.

Este ano, as coisas andam tão tranquilas em Brasília que o assunto da passagem de governo ocupa espaço relativamente pequeno na imprensa. Especulações a respeito do ministério, dúvidas quanto a mudanças de prioridades, fofocas sobre quem sobe e quem desce nas apostas relativas à composição do futuro governo, continuam a existir, mas estão longe de ser a maior preocupação do momento.

Os temores de muitas pessoas sobre Dilma começam a se dissipar. Nada do que ela disse e fez depois de eleita os justifica: não está “escondida” sob a sombra de Lula, mostra ter iniciativa e capacidade de liderar, coordena (sem precisar de avalistas) o processo de montagem e de formulação das metas de sua administração.

Parece que Dilma será uma presidente diferente. Agora mesmo, na hora em que seus antecessores dedicavam a maior parte do tempo a conversações a respeito de nomes para integrar o governo, ela prefere se concentrar na discussão de programas. Ao invés de tratar as promessas de campanha como águas passadas, tem cobrado dos assessores projetos que assegurem que sejam cumpridas.

Enquanto isso, a vida também segue normal no Congresso. As movimentações de alguns peemedebistas para fazer o “blocão” com outros partidos da base nada têm de novo e não significam que Dilma terá mais dificuldades que Lula para dialogar com senadores e deputados. São apenas brigas por espaço no próprio Congresso, que lá dentro serão resolvidas.

Por mais que alguns torçam para que a presidente enfrente problemas desde o início do governo, não é isso que a maioria da sociedade deseja. (O que é mais um fator favorável a que ela comece bem seu mandato).

Corumbá

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Vitória de Pirro

Rodrigo Constantino, para a Revista Voto

Após a batalha de Ásculo contra os romanos, o rei de Épiro, Pirro, teria dado uma declaração que se tornou famosa. Ao felicitar seus generais depois de verificar as enormes baixas sofridas por seu exército, ele teria dito que com mais uma vitória daquelas estaria acabado. Desde então, a expressão "vitória de Pirro" é usada para expressar uma conquista cujo esforço tenha sido penoso demais. Uma vitória com ares de derrota.

É exatamente isso que foi a vitória de Dilma Rousseff nesta eleição. O esforço para elegê-la, especialmente por parte do presidente Lula, sacrificou tantos valores, tantos princípios, que sua vitória só pode ser considerada um fracasso. Se Marina Silva “perdeu ganhando”, pois seu capital político saiu fortalecido com sua postura e seus vinte milhões de votos, então Dilma “venceu perdendo”. A que custo o PT conseguiu se manter no poder? A resposta resumida é bastante clara: ao custo de enfraquecer bastante nossa jovem democracia.

O presidente Lula foi o grande responsável por isto. Sua postura durante as eleições foi típica de um populista de olho somente no poder, custe o que custar. Um estadista saberia se manter mais afastado do embate eleitoral, lembrando ser o representante de todo o povo da nação, e não um simples chefe de partido. Um estadista, enfim, estaria de olho nas próximas gerações, lutando pelo fortalecimento de nossa democracia. Lula passou muito longe disso, focando somente nas eleições.

O presidente não só ignorou as funções de seu cargo, como foi o mais empolgado garoto-propaganda de sua candidata, ainda que para isso tenha ignorado diversas leis e as regras básicas de um jogo limpo. O uso da máquina estatal como instrumento partidário foi simplesmente escandaloso. Não obstante, o presidente Lula ainda desceu o nível, ridicularizou as leis eleitorais, banalizou a agressão sofrida pelo candidato tucano por manifestantes petistas, enfim, deu claros sinais de que o velho sindicalista das bravatas estava de volta. Tudo pelo poder.

O PT soube explorar o terrorismo eleitoral também, alegando de forma mentirosa que José Serra iria acabar com o programa Bolsa Família, ou que privatizaria a Petrobras. A tática de “acusar” os tucanos de privatistas, usada em toda eleição pelo PT, demonstra como a mentira é um método sistemático do partido. Afinal, o próprio PT fez diversas concessões ao setor privado, até mesmo no setor petrolífero, e incluindo empresas estrangeiras.

A bilionária OGX, de Eike Batista, só existe porque o governo Lula vendeu concessões de exploração do pré-sal. Se o PT fosse oposição, esta seria a típica arma usada para conquistar nacionalistas retrógrados e “acusar” o opositor de privatista. Como o PT é governo, então prefere jogar a coerência para escanteio. Perde o país, que continua preso numa corrente ideológica que joga contra o progresso.

A base aliada do PT também é prova de como o discurso ético do partido foi totalmente abandonado. Na verdade, a bandeira ética já havia sido totalmente destroçada com o “mensalão”. Restou focar apenas na economia mesmo. As velhas oligarquias nordestinas estavam todas com o PT. Para piorar, os inúmeros escândalos de corrupção, alguns envolvendo Erenice Guerra, braço-direito de Dilma que comandava a Casa Civil, foram simplesmente ignorados pelos eleitores, como Dirceu fora em 2006.

Este completo abandono da questão ética representa um enorme perigo para nossa democracia. A crença de que são “todos iguais”, que o próprio PT tentou espalhar, acaba sendo perigosa. Passa a ser uma carta branca aos corruptos, mesmo que pegos com a boca na botija. Atualmente, nenhum petista tem a mínima condição de defender uma bandeira ética, sem cair no ridículo. Perde a democracia, quando os eleitores mandam às favas a ética em troca de migalhas. Votar com o bolso, sem levar em conta aspectos éticos, representa dar passos na direção da servidão. A China cresce muito mais que o Brasil, e nem por isso devemos aplaudir seu regime político ditatorial .

Em suma, vencer uma eleição não deveria ser a única meta de um partido. Ao menos não de um partido que pretende colaborar com o regime democrático no país. Infelizmente, o PT vem dando claros sinais de que topa tudo por poder. O presidente Lula, após esta eleição, ficou mais parecido com Hugo Chávez, caudilho venezuelano que é seu camarada e que conseguiu destruir de vez a democracia em seu país, apesar de Lula ter dito que há “excesso de democracia” por lá. Foi Aécio Neves quem resumiu de forma sucinta: “O presidente Lula sai menor do que entrou desta eleição”. E eu acrescentaria: nossa democracia também.

Corumbá

Governadores aliados são o “cavalo de tróia” da CPMF

Enviado por João Bosco Rabello – 05/11

Só uma equivocada certeza sobre a ingenuidade política do cidadão brasileiro médio pode levar um governo com dois presidentes – um em fim de mandato, outra eleita – a fingir que nada tem a ver com a proposta de recriação da CPMF.

O movimento dos governadores aliados pela recriação do imposto tem a nítida digital do presidente Lula, até hoje inconformado com o único momento de oposição efetiva ao seu governo que também representou o fim da  perspectiva de um  terceiro mandato.

Com uma das maiores cargas tributárias do planeta, o Brasil viveu bem sem a CPMF porque já no ano seguinte à sua eliminação, seu valor de R$ 40 bilhões/ano foi reposto por uma arrecadação recorde.

O time de governadores que propõe sua volta funciona como uma espécie de “cavalo de tróia” para a vingança pessoal de Lula, iniciada ainda na campanha eleitoral, quando trabalhou intensamente para “extirpar” o partido que capitaneou sua derrota e, individualmente, candidatos à reeleição que se associaram à iniciativa.

Para ser fiel à uma das promessas de campanha que respondem pela sua eleição, a presidente eleita, Dilma Rousseff, precisaria ir além da singela declaração de que não tomará a iniciativa da recriação do imposto, mas que não desconhecerá o movimento dos governadores. Precisaria ter condenado a idéia.

Não criar impostos foi uma declaração formal da candidata que parece agora fazer uma sutil distinção entre a garantia dada ao eleitor e o comportamento pós-eleição: não estaria criando, mas permitindo a re-criação de um imposto. Dá no mesmo e sinaliza negativamente para sua independência com relação ao pai de sua candidatura.

O episódio serve também como primeiro teste para uma oposição que ainda lava a roupa suja de uma campanha em que entrou dividida e tardiamente e que pretende se reconstruir em bases mais orgânicas.

A proposta, com forma e conteúdo de traição ao eleitorado, só guarda coerência com a definição de “governo da continuidade” decisiva para a vitória de Dilma, pela associação com um país de economia estável e  de resgate social. Ainda que os alicerces desse cenário sejam negados ao governo antecessor.

Se for esse o conceito de continuidade, ele só prosperará se a sucessora de Lula também contar com  uma oposição omissa, o que parece mais remoto agora, em que pese o adjetivo “generosa” com o qual o senador Aécio Neves a definiu.

O que resta é a óbvia conclusão de que começa mal um governo que admite discutir aumento de imposto, principalmente se elegeu-se pregando o contrário.

Corumbá

sábado, 23 de outubro de 2010

Desvio e dever

Enviado por Míriam Leitão e Alvaro Gribel – 23/10

A grande questão não é o que acertou a cabeça de José Serra em Campo Grande, mas o que há na cabeça do presidente Lula. É assustador que ele não perceba o perigo de usar toda a sua vasta popularidade para subestimar um episódio de conflito físico entre grupos que disputam o poder. Se ele brinca com fato grave, o que está avisando é que esse tipo de atitude é aceitável.

Não é. Cada lado tem que ter segurança e garantia de fazer a sua festa, a sua passeata, o seu comício em paz. Quem organiza um grupo para interceptar a caminhada do grupo concorrente na disputa política sabe que há risco de que tudo fuja ao controle. O que houve já foi sério o suficiente, mas poderia ter sido ainda pior. Felizmente, há tempo de aprender com esse episódio.

A paixão eleitoral é natural, o maniqueísmo do segundo turno é emburrecedor, o confronto entre as partes só é aceitável se ficar no campo das ideias e propostas. Quem vai com um grupo organizado para hostilizar o adversário no meio da sua caminhada sabe que os ânimos podem ficar exaltados. Desta vez, foi uma pedra na cabeça de uma jornalista, e o rolo de fita na cabeça do candidato José Serra. Esse episódio deve ser visto pelo risco potencial de conflito generalizado. As imagens falam por si. O que mais poderia acontecer numa refrega de rua? No Paraná, a candidata Dilma Rousseff, no dia seguinte, foi alvo — felizmente quem lançou errou a pontaria — de balões de água. Esse é exatamente o ponto em que o chefe da Nação precisa pedir calma aos dois lados, lembrar os valores democráticos, e a melhor atitude na disputa política. Mas é exatamente neste momento que o presidente ofende quem foi atingido e convalida o comportamento desviante de quem agrediu. Ao tratar com leviandade um assunto sério, incentivou a militância a repetir o comportamento, escalou o conflito e deseducou o cidadão.

Essa campanha eleitoral está deixando cicatrizes nas instituições. Um presidente da República não deve fazer o que o presidente Lula tem feito. Não deve usar a máquina, a Presidência, o poder em favor de um dos candidatos dessa forma e com essa força. Claro que Lula tem um lado, um partido e uma candidata. Pode e deve explicitar isso. Seria estranho se não o fizesse. Mas a Presidência da República não pode ser usada como braço do comitê de campanha. Existe uma linha divisória que Lula nunca quis ver. E esse comportamento errado do ponto de vista institucional se repetiu durante toda a campanha. Em alguns momentos, os atos inadequados do presidente ficaram evidentes. Esse episódio deixou claríssimo o que não se deve fazer. Que as pessoas que vierem a ocupar este cargo no futuro vejam nas atitudes do presidente Lula de 2010 exemplos do que não fazer, não repetir.

O risco é que seja visto como natural daqui para frente o governo usar órgãos públicos para espionar adversários políticos; órgãos públicos, estatais e agências serem partidarizadas de maneira abusiva; o presidente não ter freio institucional. Não se acostumar com o erro repetido é a única garantia que se tem em momentos assim.

Quem já viveu sem democracia sabe o valor de cada ritual, limite, processo. Quem nunca viveu não tem como ver os riscos quando eles surgem com seus sinais antecedentes. Por isso é natural que os mais jovens pensem ser um exagero da oposição ou concluam que o episódio de Campo Grande não foi nada. Afinal, como ninguém se feriu seriamente, que problema tem? Podem pensar que se o presidente acha que o candidato da oposição é um farsante como aquele jogador de futebol isso é só mais um jogo, mais uma pelada no campo político. Se os mais jovens forem displicentes, é até compreensível. Um homem nos seus 65 anos, que viu o que o presidente Lula já viu no país, só brinca se não estiver levando a sério o cargo que ocupa, a faixa que recebeu, o poder que tem.

Hoje, os riscos institucionais não vêm mais dos quartéis, como se sabe. As Forças Armadas não conspiram contra a ordem democrática e isso é um salto extraordinário que o país deu com a contribuição de inúmeras pessoas e com o sacrifício de muita gente. Hoje, os riscos são outros, tem novas origens, e métodos diferentes.

Está em moda na América Latina demolir as instituições por dentro, minar a democracia, enfraquecendo o sistema de pesos e contrapesos, descaracterizar os poderes até eles ficarem irreconhecíveis, controlar a imprensa para não ouvir o contraditório. Felizmente, isso não acontece em todos os países, mas os casos em que esse processo está em curso são tão notórios e assustadores que qualquer pessoa que tenha passado pela experiência da ausência de democracia é capaz de ver. Certos governantes começam fazendo chacota de coisas graves, como Hugo Chávez. Ele xingou adversários políticos ou contou piadas e pôs apelidos supostamente engraçados para desacreditá-los. Isso, no princípio. Depois, ficou muito pior. Cristina Kirchner começou falando mal dos jornais e agora fala em estatizar a imprensa. Todos os que escolhem esse desvio político tentam intimidar a oposição para depois tentar exterminá-la.

Nenhum desses governantes do barulho da América Latina sabe o limite no uso dos órgãos e empresas públicas para objetivos políticos porque essa é uma poderosa ferramenta para minar o que mais os ameaça: o princípio da alternância no poder.

Como já escrevi nesse espaço, numa democracia não importa quem ganha a eleição, mas como se ganha a eleição. Se o presidente Lula conseguir seu objetivo tão almejado de fazer Dilma Rousseff sua sucessora, que seja pelos méritos de ambos, e não pelos erros e desvios dessa triste campanha.

Corumbá

domingo, 17 de outubro de 2010

Resposta a Ângela…sobre o PT, Lula e Dilma

Realmente, o PT não vai entregar o poder sem luta e muita luta. Passou anos tentando convencer que era um partido ético e honesto - o único do país - e, quando deixou a violência de lado e aproveitando um momento de alívio do Brasil pelo fim da hiperinflação, convenceu a classe média que valia a pena tentar.

Mostrou que era aético, além de desonesto ao extremo e o Lula mostrou como se governa sem respeitar as instituições democráticas.

E roubou, roubou muito e equipou todo o poder do Estado com forças do partido. Agora não pode perder e não pode perder para não ter seus oito anos de poder contestados perante a lei e a justiça. No poder, o PT tem o Congresso, a militância, a mídia e parte da justiça sobre controle. E comanda as dissenções com linha dura e muito dinheiro (vide mensalão). Sem o poder, o vazio...

Não pode perder e, em se tratando de um partido corrupto, aético, sem leis e sem medidas de comportamento, tudo, significa tudo mesmo, até tumultos generalizados. Não há limites para o PT e Lula não perderem o poder, isso tem sido constantemente discutido nos bastidores. Como ainda não sabem o que dará ou não certo, não há limites.
Deus permita que eu esteja errado!

Corumbá

PT busca fato novo e Lula intensifica mais ainda sua participação na campanha de Dilma

As pesquisas de intenção de voto e o comportamento de Dilma Rousseff e da cúpula de sua campanha comprovam que a candidatura presidencial petista está em um mau momento.

A diferença entre José Serra e Dilma Rousseff se reduz rapidamente e ambos os lados sabem disso. Os tucanos lutam para não permitir o famigerado “salto alto” e os petistas tentam, aflitos, estancar a perda de votos.

Tanto Serra quanto Dilma focarão os maiores colégios eleitorais nesse momento. O tucano visa compensar a vantagem de Dilma no Nordeste abrindo vantagem em São Paulo e em Minas Gerais. A petista quer intensificar a ação nestes estados justamente para não permitir que isso ocorra. Além disso, quer reduzir a vantagem de Serra no Paraná e vencer no Rio Grande do Sul.

De qualquer forma, é fato que o momento é melhor para Serra e que Dilma busca um fato novo. Algo que surja para modificar a agenda da campanha que tem constrangido a petista.

Pois bem. Enquanto este fato novo não surge, as informações de bastidores e alguns novos comerciais eleitorais de Dilma demonstram que uma mudança já foi feita: Lula vai intensificar mais ainda sua participação na campanha de Dilma.

A exposição de Lula foi a resposta encontrada por alguns petistas para estancar a perda de votos de Dilma. Entre os que defendem correções de rumo e criticam o marqueteiro João Santana por algumas escolhas está o próprio Lula.

Acontece que as mesmas pessoas que defendem esta tese de tomar alguns caminhos novos têm um forte receio de que os opositores desta tese estejam corretos.

Os petistas que defendiam menos Lula e mais Dilma afirmam que quanto mais o Presidente for utilizado, mais a população terá a certeza de que Dilma não consegue se defender sozinha.

Daí para pensarem que ela não consegue governar sozinha é um “pulo”.

Muitos petistas morrem de medo deste “pulo”, mas não sabem o que mais podem fazer além de exibir Lula ao extremo, maior e único real avalizador da candidatura de Dilma.

Enquanto petistas batem cabeça, o tucanato opera o milagre de fazer Geraldo Alckmin e Aécio Neves se empenharem por José Serra.

Definitivamente o “momentum” não é do PT.

Para tentar mudar esse quadro, alguns gritaram: “Lula neles!”

Foram atendidos.

Vejamos o resultado.

Corumbá

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A nova postura de Dilma Roussef

A candidata petista Dilma Rousseff deixou bem claro no debate da Rede Bandeirantes que sua postura no segundo turno será bem diferente da utilizada na primeira etapa da eleição presidencial.

Já está nítido que a campanha do PT será mais agressiva a partir de agora, com acusações ao tucano José Serra, críticas duras à gestão FHC e o retorno à já conhecida estratégia de colar na imagem do adversário o rótulo de “entreguista defensor das privatizações”.

Ocorre que, para muitos, a nova estratégia petista é um tanto questionável. Normalmente parte para o ataque mais franco o competidor que está em desvantagem. O que lidera tende a ser mais conservador, evitando errar. É assim até mesmo nos esportes.

Com a nova postura, Dilma corre o risco de se mostrar como rude e desequilibrada e não como uma pessoa indignada com os boatos que envolvem seu nome e sua defesa passada da descriminalização do aborto que busca defender sua honra, como afirmam os correligionários que apóiam a estratégia.

Prova de que a estratégia petista é duvidosa é o fato de que na própria cúpula do partido existem reticências. Aparentemente o posicionamento mais agressivo seria defendido por nomes como Ciro Gomes e José Dirceu, mas questionado por Antonio Palocci e o marqueteiro João Santana, homens fortes da campanha durante o primeiro turno.

Fica a sensação de que novos protagonistas foram adicionados à coordenação da campanha e que, com eles, veio a subida do tom. Quem sabe ela tenha se dado mais por ser do agrado destes novos integrantes da cúpula da campanha do que por ser importante para neutralizar os boatos que atingem a candidata, demonstrar a indignação dela e/ou animar uma militância que sentiu um gosto de derrota após a confirmação da existência do segundo turno.

Portanto, não se sabe ao certo se a correção do rumo será positiva e nem o porquê de alguém que lidera as pesquisas estar correndo riscos e ouvindo seus conselheiros mais belicosos.

Alguns dizem que na realidade o PT já sabe de algo que nós não sabemos, como por exemplo a existência de uma curva ascendente de Serra ou algo parecido, tentando estancar o processo desde já.

Me parece, hoje, a explicação mais plausível.

Afinal, por que mais Dilma deixaria de lado o caminho “paz e amor” que elegeu Lula, podendo com isso perder votos, afastar os eleitores de Marina Silva de vez e abrir brechas para ser questionada? Alguns já dizem que ela não mudou a postura – ela está mostrando agora quem é.

Conclui-se que é lógica a resposta de que o PT saiu da zona de conforto e busca uma guinada que altere o rumo da campanha.

Contudo, visa alterar os rumos de uma campanha o lado que está perdendo e as pesquisas apontam vantagem para Dilma, embora reduzida se comparada com a do primeiro turno.

Logo, não parece absurdo imaginar que tenha sido diagnosticado pelo PT, tanto através de pesquisas qualitativas como pela repercussão de temas como o escândalo envolvendo Erenice Guerra e a defesa dos valores cristãos, um viés de alta de Serra.

Isso explicaria tudo. Parece ser a única explicação.

Não é possível que a candidata e sua equipe tenham sido, simplesmente, tirados do sério de forma amadora.

E não se trata aqui de defender um factóide de que a subida de Serra estaria preocupando os petistas, e sim, de constatar que realmente poucas explicações além dessa podem ser apresentadas para o fato de Dilma estar se comportando como pouquíssimos líderes de pesquisa se comportaram ao longo dos anos.

Corumbá

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Novos candidatos?

Enviado por Ateneia Feijó – em 12/10/10

O aparecimento inesperado de uma outra Dilma Rousseff no debate de domingo na TV Bandeirantes causou espanto. A aparição foi logo no minuto inicial. A mulher-Lula meiga e sorridente das campanhas eleitoral e publicitária desincorporou o presidente divinizado dando lugar a uma Dilma até então desconhecida do grande público.

Agressiva, partiu para cima de José Serra querendo lhe cortar as asas logo de saída. Visivelmente espantado com a metamorfose da candidata petista, o tucano revidou com algumas bicadas cuidadosas, evitando que ela se transformasse também em uma personagem "vitimizada".

Como estariam se sentindo, em suas casas, os eleitores telespectadores? Assim, apanhados por aquela onda propagada no ar, transportando estratégias novas no segundo turno da campanha eleitoral à presidência da República?

Seria o efeito Marina Silva? Parece que sim. Seus 20 milhões de votos que derrubaram previsões de institutos de pesquisa teriam convencido os responsáveis pelas campanhas do PT e do PSDB de que o melhor caminho é outro: menos marketing e mais autenticidade.

Entretanto, para esse tipo de movimento é necessário equilíbrio racional e emocional. Nada fácil. Principalmente para quem pratica uma política do século passado dependente, entre outras coisas, de militantes aprisionados ideologicamente a um mundo inteiramente reduzido ao binário direita e esquerda. Que induz ao desejo obsessivo de poder e à busca de unanimidade. Qualquer que seja.

Voltando à Dilma aflorada no debate da Band... O que mais parecia lhe importar naquele momento era acabar com a polêmica sobre o aborto, na qual a envolveram manchetes de jornais, capas de revistas e internet. Tinha ainda o resultado da pesquisa Datafolha mostrando-lhe 48% das intenções de voto contra 41% de Serra. Uma diferença bem menor do que a imaginada. Havia também a constatação de que a maior parte dos votos de Marina teria se transferido para Serra.

Há quem considere a polêmica sobre o aborto motivo da queda de Dilma. Não é bem assim. Afinal, as igrejas mais conservadoras e o fundamentalismo religioso estão presentes principalmente no seu reduto eleitoral: Norte e Nordeste. Onde é Deus no céu e Lula na terra. Além do mais, entre os evangélicos, ela tem o apoio do vice-presidente José Alencar e do reeleito senador Marcelo Crivela, da "poderosa" Igreja Universal.

Independentemente do sensacionalismo na mídia, a discussão sobre o tema foi dimensionada nas ruas e nos lares das classes emergentes exatamente por ser de natureza íntima; mexer com família e sentimentos. Em um país cuja população tem dificuldade em falar sobre temas que envolvam entendimento histórico, econômico, político, científico... posicionar-se em relação a um tabu é uma oportunidade de dar sua opinião. E exercê-la apaixonadamente.

No primeiro turno houve uma tentativa de constranger Marina Silva com a questão do aborto, tentando desqualificá-la como fundamentalista. Ela tirou de letra, assumindo com sinceridade sua posição pessoal, ao mesmo tempo em que se declarava cidadã candidata a presidência de um Estado laico e, portanto, disposta a fazer um plebiscito para a própria sociedade decidir a questão. Sem estresse. Apenas foi ela mesma.

Ateneia Feijó é jornalista

Corumbá

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O súbito encanto de Marina Silva

Enviado por ARNALDO JABOR – 05/10/2010

Não, o Palácio de Inverno de São Petersburgo da Rússia em 1917 ainda não será tomado pela onda vermelha.
Não. Agora, o PT vai ter de encarar: estamos num país democrático, cultural e empresarialmente complexo, em que os golpes de marketing, os palanques de mentiras, os ataques violentos à imprensa não bastam para vencer eleições... (Por decência, não posso mostrar aqui os emails de xingamentos e ameaças que recebo por criticar o governo). O Lula vai ter de descobrir que até mesmo seu populismo terá de se modernizar. O povo está muito mais informado, mais online, mais além dos pobres homens do Bolsa-Família, e não bastam charminhos e carismas fáceis, nem paz e amor nem punhos indignados para a população votar. Já sabemos que enquanto não desatracarmos os corpos públicos e privados, que enquanto não acabarem as regras políticas vigentes, nada vai se resolver. Já sabemos que mais de R$ 5 bilhões por ano são pilhados das escolas, hospitais, estradas e nenhum carisma esconde isso para sempre. Já sabemos que administração é mais importante que utopias.
A campanha à que assistimos foi uma campanha de bonecos de si mesmos, em que cada gesto, cada palavra era vetada ou liberada pelos donos da "verdade" midiática. Ninguém acreditava nos sentimentos expressos pelos candidatos. Fernando Barros e Silva disse na Folha uma frase boa: "Dilma parece uma personagem de ficção e Serra a ficção de uma personagem." Na mosca.
Serra. Os erros da campanha do Serra foram inúmeros: a adesão falsa ao Lula, que acabou rindo dele: "O Serra finge que me ama"...
Serra errou muito por autossuficiência (seu defeito principal), demorando muito para se declarar candidato, deixando todo mundo carente e zonzo, como num coito interrompido; Serra demorou para escolher um vice-presidente (com a gafe de dizer que vice bom é o que não aporrinha), fez acusações ligando as Farc à Dilma, esculachou o governo da Bolívia ainda no início, avisou que pode mexer no Banco Central e, quando sentiu que não estava agradando, fez anúncios populistas tardios sobre salário mínimo e aposentados. Nunca vi uma campanha tão desagregada, uma campanha antiga, analógica numa época digital, enlouquecendo cabos eleitorais e amigos, todos de bocas abertas, escancaradas, diante do óbvio que Serra ignorou. Serra não mudou um milímetro os erros de sua campanha de 2002. Como os Bourbon, "não esqueceu nada e não aprendeu nada".
A campanha do primeiro turno resumiu-se a dois narcisismos em luta.
Dilma. Enquanto o Serra surfava em sua autoconfiança suicida, a Dilma, fabricada dos pés ao cabelo, desfilava na certeza de sua vitória, abençoada pelo "Padim Ciço" Lula.
Seus erros foram difíceis de catalogar racionalmente, mas os eleitores perceberam sutilezas na má interpretação da personagem, como atrizes ruins em filmes.
O sorriso sem ânimo, riso esforçado, a busca de uma simpatia que escondesse o nítido temperamento autoritário, suas palavras sem a chama da convicção, ocultando uma outra Dilma que não sabemos quem é, sua postura de vencedora, falando em púlpitos para jornalistas, sua arrogância que só o salto alto permite: ser pelo aborto e depois desmentir, sua união de ateia com evangélicos, a voracidade de militante - tarefeira, para quem tudo vale a pena contra os "burgueses de direita" que são os adversários, os esqueletos da Casa Civil, desde os dossiês contra FHC, passando pela Receita Federal (com Lina Vieira e depois com os invasores de sigilos), sua tentativa de ocultar o grande hipopótamo do Planalto que foi seu braço direito e resolveu montar uma quadrilha familiar. Além disso, os jovens contemporâneos, mesmo aqueles cooptados pelo maniqueísmo lulista, não conseguem votar naquela ostentada simpatia, pois veem com clareza uma careta querendo ser cool.
Marina. Os erros dos dois favoritos acabaram sendo o grande impulso para Marina. No meio de uma programação mecânica de marketing, apareceu um ser vivo: Marina. Isso.
Uma das razões para o segundo turno foi a verdade da verde Marina. Sua voz calma, sua expressão sincera, o visível amor que ela tem pelo povo da floresta e da cidade, tudo isso desconstruiu a imagem de uma candidata fabricada e de um candidato aferrado em certezas de um frio marqueteiro.
Marina tem origem semelhante à do Lula, mas não perdeu a doçura e a fé de vencer pelo bem. Isso passa nas imperceptíveis expressões e gestos, que o público capta.
Agora teremos um segundo turno e talvez vejamos um PSDB fortalecido pela súbita e inesperada virada. Desta vez, o partido terá de ser oposição, se defendendo e não desagregado como foi no primeiro turno, onde se esconderam todos os grandes feitos do próprio PSDB, durante o governo de FHC.
Desde 2002, convencionou-se (Quem? Por quê?) que o Lula não podia ser atacado e que o FHC não poderia ser mencionado. Diante dessa atitude, vimos o Lula, sua clone e seus militantes se apropriarem descaradamente de todas as reformas essenciais que o governo anterior fez e que possibilitaram o sucesso econômico do governo Lula, que cantou de galo até no Financial Times, assumindo a estabilização de nossa economia. E os gringos, desinformados, acreditam.
Além disso, com "medinho" de desagradar aos "bolsistas da família", ninguém podia expor mentiras e falsos dados que os petistas exibiam gostosamente, com o descaro de revolucionários "puros". Na minha opinião, só chegamos ao segundo turno por conta dos deuses da Sorte. Isso - foi sorte para o Serra e azar para a Dilma.
Ou melhor, duas sortes:
O grande estrago causado pela súbita riqueza da filharada de Erenice, ali, tudo exibido na cara do povo, e o reconhecimento popular do encanto sincero de Marina.
Isso salvou a campanha errática e autossuficiente do José Serra, que apesar de ser um homem sério, competentíssimo, patriota, que conheço e respeito desde a UNE, mas que é das pessoas mais teimosas do mundo.
Duas mulheres pariram o segundo turno. Se ouvir seus pares e amigos, poderá ser o próximo presidente. Se não...

Corumbá

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Como a vitória de Dilma no primeiro turno foi abortada

Análise de  José Roberto de Toledo – O Estado de São Paulo

A queda de Dilma Rousseff (PT) na pesquisa Ibope foi homogênea. Ela caiu praticamente em todos os segmentos de renda e escolaridade, perdeu eleitores no Sul, no Sudeste e no Nordeste, e entre homens e mulheres. Há sinais de que a internet e a religião podem ter tido papel chave nesse movimento.

A consistência na queda sinaliza que não se trata de oscilação eventual da candidata do PT, mas, possivelmente, a retomada de uma tendência de queda que ela havia demonstrado no começo da semana passada. Sugere também que a causa é algo que atinge indiscriminadamente eleitores de todas as classes sociais e regiões do País.

A novidade da reta final da campanha foi a queda de Dilma entre os eleitores evangélicos. Até o começo da semana, a petista havia perdido 7 pontos nesse segmento. Entre outros motivos, por causa da polêmica na internet sobre sua opinião a respeito do aborto.

Vários vídeos explorando a mudança de posição da petista sobre o assunto viraram hits de audiência no YouTube. Em um deles, ela aparece defendendo, durante entrevista em 2007, a descriminação da prática. Em outro vídeo, um pastor pede aos fiéis para não votarem em ninguém do PT, por causa das posições do partido sobre o aborto. O clipe de 11 minutos tinha sido visto 2,8 milhões de vezes até ontem.

A grande beneficiária da queda de Dilma foi a evangélica Marina Silva (PV), que cresceu entre irmãos de fé e empatou com José Serra (PSDB) nesse segmento, que soma 20% do eleitorado.

A campanha de Dilma acusou o golpe e agiu rápido para estancar a sangria de votos. Organizou uma reunião de última hora com líderes religiosos na quarta-feira e estimulou bispos e pastores evangélicos, como Edir Macedo, da Igreja Universal, a pregarem o voto na petista.

Num primeiro momento, a estratégia pareceu funcionar e as pesquisas realizadas no meio da semana passada mostraram Dilma estabilizada, inclusive entre os evangélicos.

A pesquisa de véspera indica que a onda de rejeição à petista se estendeu dos evangélicos para os católicos. Dilma manteve sua intenção de voto entre os primeiros, mas caiu entre os fiéis da Igreja. Bispos e padres católicos também pregaram contra a descriminação do aborto nas últimas semanas.

O efeito só está aparecendo agora.

Corumbá

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Pesquisa eleitoral e ‘opinião pública’

Editorial do jornal “O Globo” – 30/09/2010

Mesmo que a candidata Dilma Rousseff ganhe a eleição no primeiro turno, como confirmado pela pesquisa Ibope/CNI divulgada na manhã de ontem, a sinalização dada por sondagens anteriores de que a fatura poderá não ser liquidada no domingo merece uma reflexão sobre a democracia brasileira.

E ela deve ser feita à luz dos recentes arroubos do presidente Lula, cabo eleitoral-chefe da candidata, em relação à imprensa profissional e ao que ele entende sobre “opinião pública”.

Parece claro que, mais uma vez, como em 2006, quando os aloprados petistas assustaram eleitores, a questão moral surge como fantasma para o candidato oficial.

Em 2006, era Lula em busca da reeleição. Agora, Dilma é atingida, em alguma medida, por estilhaços da implosão de sua ex-braço direito Erenice Guerra junto com uma casamata de lobby edificada na Casa Civil.

Se a comprovada invasão criminosa de arquivos fiscais de tucanos e cidadãos comuns na Receita, área da máquina pública em que se abrigam aparelhos sindicalistas ligados ao PT, parece não ter sido compreendida pela população, o uso da Casa Civil para a venda de facilidades a empresários teve, pelo menos num primeiro momento, algum impacto no eleitorado.

Mesmo que o prejuízo para a candidata Dilma seja absorvido até domingo, fica a conclusão que mesmo o presidente mais popular da História republicana do Brasil não pode tudo, felizmente.

É preocupante que na esteira da campanha eleitoral, em que Lula se joga por inteiro, sem maiores cuidados com limites institucionais e leis, surja a ideia inaceitável de que o apoio popular dá sinal verde ao poderoso de turno.

De visível contaminação chavista, esta percepção do poder do homem público de alta popularidade é perigoso e crasso equívoco.

Sem respeito à Carta e instituições, resvala-se para a barbárie, o regime da lei do mais forte nas ruas. Se assim fosse, teríamos de nos curvar a Hitler e Mussolini apenas porque chegaram ao poder nos braços do povo.

Há no Brasil de hoje, além de instituições que dão mostras de solidez — Poder Judiciário, Ministério Público, por exemplo —, uma classe média em fase de expansão que serve de suporte para estas mesmas instituições.

Arroubos como o do presidente ao se declarar dono da “opinião pública” rendem dividendos negativos.

A opinião pública não tem donos, ela se forma à medida que se informa, e das mais diversas maneiras, inclusive pela imprensa profissional, cujo coração é a credibilidade construída, em alguns casos, em mais de um século de atuação.

É por isso que o discurso ameaçador da estabilidade, capaz de projetar nuvens negras no futuro, é logo rejeitado pelas faixas mais instruídas e de renda mais elevada da população.

Alvejar a imprensa independente, defender o “radicalismo” da época de resistência à ditadura não é discurso de fácil trânsito junto às classes médias. Elas sabem que Dilma não é “a mulher de Lula”, querem tranquilidade e crescimento econômico para continuar a ascender na escala social. Portanto, não importa se vença Dilma, Serra ou Marina, a sociedade está madura para rejeitar salvadores da pátria, hipnotizadores de rebanhos sem opinião própria.

O clima de bem-estar econômico se revela cabo eleitoral poderoso. Mas daí a se projetar um Brasil dominado pelo cesarismo, vai grande distância.

Corumbá

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O juiz da imprensa

Enviado por Sandro Vaia – em 24.09.2010

 

alt Lula sabe melhor do que ninguém o quanto de sua mística ele deve à imprensa. Um dos primeiros grandes perfis do herói, talvez um dos mais importantes, sobre o operário pragmático que dirigia um movimento sindical sem se atrelar aos interesses do Partido Comunista (coisa rara na época) foi escrito por Ruy Mesquita - insuspeito de progressismo - na revista “Senhor Vogue” , um ícone da imprensa cult no final dos anos 70.

Aquele líder proletário autêntico sem contaminação ideológica que começava a crescer no imaginário popular, deu, na entrevista a Ruy Mesquita, uma resposta premonitória sobre a importância que a imprensa teve para sua projeção:

-A imprensa é uma ajuda muito grande que eu tive, mas se ela deixar de existir hoje, nós vamos continuar fazendo a mesma coisa. Eu nunca fiz a coisa em função da imprensa.

Essa frase pode resumir, de certa forma, a percepção utilitária que o ex-líder metalúrgico e hoje presidente da República tem a respeito da função da imprensa numa sociedade aberta e democrática.

Nesta última semana o presidente usou seu método morde-e-assopra e, do alto dos palanques nos quais passou uma boa parte desse final de mandato, depois de fazer a ressalva de que “a liberdade de imprensa é intocável”, vociferou contra ela as suas mais rudes críticas, e liberou a senha para que as suas falanges saíssem a fazer manifestações contra o “golpismo midiático”.

O motivo da fúria presidencial: as reportagens de jornais e revistas denunciando quebras de sigilo fiscal de adversários ou tráfico de influência nos corredores palacianos,que poderiam prejudicar a trajetória de sua candidata rumo à consagradora vitória eleitoral no primeiro turno.

O que é que leva grupos de militantes movidos por preconceitos ideológicos ou pela convivência promíscua com a generosa distribuição de verbas públicas a considerar a denúncia da existência nos corredores palacianos de negociatas, propinas e tráficos de influência como “golpismo midiático” é um desses mistérios que estão acima da compreensão racional e devem ser creditados ao estado de excitação histérica provocado pelas emoções da campanha eleitoral.

Tanto os fatos são fatos que o governo os confirmou com a demissão dos envolvidos. Não é lícito acreditar o governo tenha demitido inocentes apenas por interesseiro cálculo eleitoral. A imprensa independente e profissional não fez mais do que cumprir a sua obrigação. É a mesma imprensa fazendo as mesmas coisas que os atuais críticos aplaudiam quando as denúncias eram sobre a compra de votos para a reeleição de FHC, a Pasta Rosa, o Sivam, os grampos das conversas dos articuladores da privatização da Telebrás, as denúncias de Pedro Collor contra a corrupção do governo do irmão Fernando, a compra do Fiat Elba com o dinheiro de PC Farias - etc,etc,etc. A imprensa de então, embora fosse a mesma e fizesse as mesmas coisas, não era golpista - era altiva, isenta, equilibrada e independente.

A imprensa só deve ser livre, no entendimento do presidente, quando informa “corretamente”. E só deve ser livre para ser correta, dentro do seu raciocínio, quando quem decide o que é correto ou não é ele mesmo.

Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de São Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez.. E.mail: svaia@uol.com.br

Corumbá

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Tempos petistas

Enviado por Merval Pereira – em 23.9.2010

 

"Por ironia do destino, os militares estão organizando um evento para defender a liberdade de imprensa no mesmo dia em que os sindicatos e os movimentos sociais organizam uma manifestação para atacar a liberdade de imprensa. Os tempos mudaram". O comentário de Paulo Uebel, diretor-executivo do Instituto Milennium, é sintomático dos tempos que estamos vivendo.

O Clube Militar está realizando no Rio um painel intitulado "A democracia ameaçada: restrições à liberdade de expressão", hoje à tarde, do qual participarei com Reinaldo Azevedo, da "Veja", e o diretor de assuntos legais da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Rodolfo Machado Moura.

Na outra ponta, está programada também para hoje em São Paulo uma manifestação contra a chamada "grande imprensa", com o apoio do PT, da CUT, da UNE e várias organizações não governamentais, e os que se autointitulam "blogueiros independentes", todos, sem exceção, financiados pelo dinheiro público.

Um fato inédito em uma democracia, só registrado na antiga União Soviética — quando os sindicatos tomavam a si a tarefa de controlar seus associados para que atuassem de acordo com as diretrizes governamentais —, é que o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo está apoiando o movimento.

Antônio Felício, secretário sindical nacional do PT e secretário de Relações Internacionais da CUT, em artigo publicado no blog do Partido dos Trabalhadores, explicita o que seria essa conspiração, no mais puro chavismo, ou ao estilo do que o governo dos Kirchner está fazendo na Argentina.

Segundo ele, "a verdadeira ditadura do pensamento único" está sendo implantada no país pelas "oito famílias que dominam mais de 80% da mídia impressa, falada e televisionada, e seus satélites".

As ações teriam sido deliberadas "na malfadada reunião do Instituto Millenium, em São Paulo, no mês de março deste ano". E quais seriam as evidências dessa conspiração da "grande imprensa"?

As diversas reportagens publicadas recentemente denunciando tráfico de influência, corrupção e o aparelhamento do Estado com a utilização de órgãos estatais para fins políticos, como a quebra de sigilo fiscal de pessoas ligadas ao PSDB e ao próprio candidato da oposição à Presidência, José Serra, ou simplesmente para empregos de parentes e amigos em órgãos públicos.

A mais recente denúncia sobre tráfico de influência alcançou o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins. A estatal Empresa Brasil de Comunicação (EBC), cujo Conselho de Administração ele preside, contratou por R$ 6,2 milhões uma empresa onde seu filho trabalha como representante comercial.

Também ontem se descobriu que uma filha do presidente dos Correios havia sido contratada pelo Gabinete Civil, uma prática nepotista de contratações cruzadas, já que foi Erenice Guerra quem indicou o presidente dos Correios.

São essas denúncias, que já provocaram a demissão de uma ministra de Estado e meia dúzia de dirigentes estatais, que os sindicalistas consideram exemplares da manipulação do noticiário com o objetivo de levar a eleição para o segundo turno.

Esse ambiente de tensão política está sendo alimentado pelo próprio presidente Lula, que vem desfilando de palanque em palanque, dedicado a eleger sua candidata no primeiro turno e a tentar jogar o eleitorado petista contra os meios de comunicação, que estariam unidos em uma conspiração contra seu projeto político.

A sua atuação na campanha eleitoral, que não leva em conta a ética pública nem respeita a chamada "liturgia do cargo", está sendo denunciada por um documento que foi lido ontem pelo jurista Hélio Bicudo, um fundador do PT, assinado por personalidades como o cardeal arcebispo emérito de São Paulo Dom Paulo Evaristo Arns, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Carlos Velloso e intelectuais como Ferreira Gullar.

O manifesto fala nos riscos do autoritarismo e critica a ação de grupos que atuam contra a imprensa: "É aviltante que o governo estimule e financie a ação de grupos que pedem abertamente restrições à liberdade de imprensa, propondo mecanismos autoritários de submissão de jornalistas e de empresas de comunicação às determinações de um partido político e de seus interesses".

A preocupação generalizada é com a escalada personalista do presidente Lula, que transforma em inimigos todos os que discordam de seu governo. "É constrangedor também que ele não tenha a compostura de separar o homem de Estado do homem de partido, pondo-se a aviltar os seus adversários políticos com linguagem inaceitável, incompatível com o decoro do cargo, numa manifestação escancarada de abuso de poder político e de uso da máquina oficial em favor de uma candidatura. Ele não vê no "outro" um adversário que deve ser vencido segundo regras da democracia, mas um inimigo que tem de ser eliminado".

O documento lembra as diversas ocasiões nesta campanha eleitoral em que o presidente da República escarneceu da Justiça Eleitoral, e seu propósito de eleger uma maioria para poder controlar o Senado: "É um insulto à República que o Poder Legislativo seja tratado como mera extensão do Executivo, explicitando o intento de encabrestar o Senado. É um escárnio que o mesmo presidente lamente publicamente o fato de ter de se submeter às decisões do Poder Judiciário".

O documento finaliza afirmando que é dever dos democratas, para "brecar essa marcha para o autoritarismo", combater uma "visão regressiva do processo político, que supõe que o poder conquistado nas urnas ou a popularidade de um líder lhe conferem licença para rasgar a Constituição e as leis".

Corumbá

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Governo tenta controlar Vale, uma empresa privada

Enviado por Míriam Leitão – em 22.09.2010

O mandato do atual presidente da Vale, Roger Agnelli, termina no ano que vem, e os acionistas vão tomar a decisão sobre quem será o próximo. Mas há algum tempo, o presidente Lula, pessoalmente, tem pressionado a Vale, acha que a empresa não faz as opções empresariais certas, queria que investisse mais em siderurgia no Brasil, para parar de vender matéria-prima. Mas tem de ser uma decisão tomada pela empresa, por razões profissionais, olhando as opções de mercado para o aço. Enfim, não pode ser tomada a partir do Palácio do Planalto.

Agora, o que estão falando, é que eles vão aproveitar essa mudança para que o governo interfira mais diretamente na escolha do novo presidente. Como se daria isso? Através de outro acionista, a Previ, que tem participação grande.

Mas o que interessa a todo mundo é que o governo sempre repete essa confusão: acha que um fundo de pensão pertence ao governo; não, ele é dos funcionários do Banco do Brasil; portanto, entidade de direto privado, não empresa estatal.

O governo não pode decidir isso. Pode ser que a decisão mais acertada seja essa, de investir em siderurgia, mas o que é estranho, do ponto de vista do que chamam de governança, é a insistência com que o governo quer controlar e decidir o que se passa dentro de uma empresa privada, de capital aberto, que tem muitos acionistas. Se soubesse muito bem dirigir suas empresas, não aconteceriam essas barbaridades que ocorrem, por exemplo, nos Correios.

O governo Lula tem dificuldade de entender exatamente o que é empresa totalmente estatal, empresa de economia mista e empresa privada. Mistura tudo como se fossem braços do governo. É uma distorção.

Corumbá

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Em defesa da democracia e da liberdade de imprensa

Nota assinada por Sérgio Guerra, presidente nacional do PSDB, que acaba de ser distribuída:

Merece total repúdio do povo brasileiro a tentativa de intimidação da imprensa, por parte do PT, da campanha Dilma e de setores sindicais. A convocação de um ato destinado a esse fim explicita a vocação autoritária desses apoiadores.

Não se espantam com a corrupção e com os malfeitos, queixam-se das notícias que revelam corrupção. Querem uma imprensa e uma opinião pública subordinadas. Não é coincidência que os mesmos que preconizam um “controle da imprensa” se juntem para tentar tirar legitimidade de uma vitória de José Serra.

Nunca antes na história deste país se viu tanta desfaçatez. O presidente da República apequena e mancha a investidura que recebeu para jogar-se numa aventura ilegal, subvertendo as leis e as normas básicas do jogo democrático.

Sob o pretexto da popularidade, os patrocinadores da chapa oficialista consideram-se inimputáveis. Instituíram o vale-tudo: abuso da máquina, uso de dinheiro público e violações de direitos constitucionais.

Ao convocar um ato para intimidar a imprensa, têm a cara-de-pau de evocar a democracia, quando o que querem é abalar um dos seus pilares: a liberdade de expressão e de informação.

Causa perplexidade que chamem de jogo sujo o direito à informação, ao mesmo tempo em que inundam o país com panfletos mentirosos a respeito dos adversários.

O povo brasileiro não é bobo. Não se deixará intimidar, nem se deixará levar por previsões que dão como terminada, e com resultado apurado, uma eleição em que ninguém ainda votou. Querem ganhar no grito, na pressão e na ameaça.

Não passarão. No dia 3 de outubro, longe das pressões do Poder e de seus asseclas, os eleitores brasileiros se manifestarão. Livres. Das urnas sairá a vontade popular.

Em defesa da democracia, da liberdade, em defesa de um país decente.

Corumbá

domingo, 19 de setembro de 2010

Crime e reparação

Acharam uma mamadeira e uma seringa com um pó branco (...) Os policiais disseram ser cocaína (...) Na prisão, desfiguraram meu rosto (...) Só vi o túmulo da minha filha quando comprovaram que era remédio que ela tomava


RESUMO
A desempregada Daniele Toledo do Prado, 25, de Taubaté, foi presa em 2006 acusada de matar a filha ao fazê-la ingerir cocaína. Ficou 37 dias na cadeia, onde foi agredida. Perdeu visão e audição do lado direito. Hoje, move ação de indenização contra o Estado. Quer usar o dinheiro para montar uma ONG de ajuda a crianças com doenças raras, com tinha sua filha.

ROGÉRIO PAGNAN DE SÃO PAULO

Quando o oxímetro passou a fazer píííííííííííííííí, sabia que minha filha tinha partido. Meu corpo todo gelou.
Vi a médica Érika Skamarakis caminhar em minha direção. Ela me pegou pelo braço, me arrastou para a sala de emergência e me empurrou sobre a maca onde minha filha estava deitadinha, só de calça, toda entubada. Morta.

Eu não tive reação. Ela, a médica Érika, começou a gritar. "Olha o que você fez com sua filha, assassina. Você a matou com overdose de cocaína". Eu olhava para todos, médicos e enfermeiros, mas não conseguia dizer nada. Estava em estado de choque.

Ali mesmo, na sala de emergência, um policial disse que eu estava presa.

Acharam na minha casa uma mamadeira e uma seringa. Dentro tinha pó branco, o mesmo recolhido da boca de minha filha por uma enfermeira do pronto-socorro.

Os policiais fizeram um teste nesse pó e decretaram ser cocaína. Para eles, o caso estava esclarecido: eu havia posto por maldade cocaína na mamadeira de minha filha e ela morreu de overdose.

O delegado Paulo Roberto Rodrigues chamou a imprensa. Passei a ser chamada de "monstro da mamadeira". Apareceu tudo nas TVs da cadeia para onde fui levada, lá em Pindamonhangaba.

De um grupo de 21 presas, pelo menos 12 delas passaram a espancar o "monstro" e a "vagabunda" que matou "sua própria filha". Eu ainda não conseguia falar nada. Puxaram meu cabelo, me jogaram no chão. Recebi chutes, muros e pauladas.

Quebraram minha clavícula, meu maxilar e desfiguraram todo meu rosto. Diziam que eu precisava sofrer muito antes de morrer.

Uma presa colocou uma caneta dentro do meu ouvido, com a ponta virada para o meu tímpano. Ela pretendia bater naquilo com um objeto. Uma outra presa a convenceu a parar. Ela seguiu o conselho, mas antes quebrou a caneta dentro de mim. Os funcionários me recolheram no pátio na manhã seguinte.

Não sei quantos dias fiquei desacordada no hospital. Sei que fiquei presa por 37 dias.
Desses, 28 deles passei sem ver a luz do dia, comendo bolacha de água e sal, com suco de saquinho. Tinha medo de ser envenenada.

REMÉDIO
Perdi a audição e a visão do lado direito do rosto. Ainda sinto dores e precisarei passar por novas cirurgias porque os ossos foram calcificados em posição errada.

Só consegui ver o túmulo da minha filha quando os laudos comprovaram que o pó branco, aquele que a polícia afirmou ser cocaína, era resíduo dos remédios que ela estava tomando.

Minha vida foi destruída dessa forma porque 11 dias antes de minha filha morrer, fui estuprada dentro do hospital universitário da Unitau, a Universidade de Taubaté.

Minha filha estava internada para tratamento de saúde, rotina que vivíamos havia três meses. Ela tinha uma doença rara. No seu cérebro surgiam feridas e, em razão delas, ficava inconsciente.

Os medicamentos do misterioso pó branco eram justamente para tratar isso.

Fui estuprada por um aluno-médico. Ele usou um pano com produto químico que me deixou amolecida.
Enquanto estuprava meu corpo, também violentava minha dignidade. Dizia saber que eu precisava do hospital para tentar salvar minha filha e, caso eu o denunciasse, não teria mais ajuda.

A direção do hospital pediu para que retirasse a queixa, mas não aceitei. Ofereceram até um quarto particular para ficar com minha filha.

No dia 28 de outubro de 2006, na véspera de sua morte, minha filha teve uma nova crise. Fui para o mesmo hospital universitário, como havia sido orientada antes.

Mesmo com um encaminhamento assinado por três médicos, não me deixaram entrar. Disseram ter uma ordem para que não fosse atendida ali. Corri para outro pronto-socorro, onde minha filha morreu horas depois.

FUTURO
Minha filha se chamava Victória. Dei esse nome porque a gravidez foi complicada. Sobrevivemos por milagre. Tive pressão alta, crises convulsivas e eclampsia. Ela nasceu de 7 meses. Nós ficamos internadas na UTI.

Ela morreu quando tinha 1 ano e 3 meses de idade. Ainda não sei a causa da morte.

Tento, na Justiça, que parte de todo esse meu sofrimento seja reparado. Movo uma ação de indenização contra o Estado e ainda aguardo o resultado desse pedido. Peço dinheiro.

Com ele, quero criar uma ONG para ajudar crianças com problemas de saúde - em especial aquelas com diagnóstico complicado.

Quero pagar pelos diagnósticos, oferecer assistente social e pagar pela internação. Isso custa caro.

Quero tentar dar às mães a ajuda que eu precisei, mas não tive. Que minha filha precisou, mas não teve.

Quero tentar ajudar um pouco das mães violentadas todos os dias nesse país por conta de sua classe social.

Veja postagem a respeito no Blog do Corumbá

Corumbá

Mães, Brasil e a fome

Enviado por DANUZA LEÃO, em 19/09

A FOME NO MUNDO diminuiu; boa notícia? Em termos. Saber que do 1 bilhão de pessoas que passavam fome o número baixou para 925 milhões não chega a ser um grande consolo.

Quem vê na televisão, em pequenas cidades do Nordeste, famílias morando em casebres com chão de terra batida, em volta de uma sopa rala feita numa lata de querosene, sem um pedaço de carne, ou as pobres vítimas das enchentes deixando seus barracos desmoronados, percebe que todos têm algo em comum, além da miséria: uma enorme quantidade de filhos. Mas ainda não ouvi nenhum candidato falando de controle da natalidade.

Em 1970, éramos 90 milhões (sei disso porque me lembro do hino da Copa -90 milhões em ação). Hoje, 40 anos depois, somos, segundo o IBGE, 192 milhões.
Se o número mais do que dobrou, em 2050 pode perfeitamente alcançar 400 milhões. E como alimentar, educar e dar emprego para essa gente toda que não para de nascer?

Em cada família (quanto mais pobres, mais procriam) são seis, oito, dez crianças. É preciso explicar, sobretudo às mulheres pobres e analfabetas, que é possível decidir quantos filhos querem ter. Elas não sabem que com menos filhos é mais fácil alimentar a família, porque nunca pensaram nisso.

Um programa desses é para ser feito em duas etapas: na primeira, mais educativa, explicando que existem opções; a mulher pode até mesmo não ter filho nenhum, se não quiser. Mostrar que elas têm esse direito, talvez o primeiro da vida.

Na segunda, ensinando os vários procedimentos possíveis e fornecer os meios para as mais pobres e menos esclarecidas. Diu, pílula, pílula do dia seguinte, camisinha; a escolha é vasta, e que fique bem claro: ninguém está falando em laqueadura geral.

Os países mais pobres não podem ter a ilusão de melhorar vendo sua população dobrada ou triplicada em alguns anos. Não adianta: sem o controle da natalidade país nenhum vai resolver seus problemas.

Não pode existir cidadania enquanto a panela estiver vazia e um punhado de crianças descalças, analfabetas e sub-alimentadas, sem esperança de um futuro melhor.

Adolescentes também precisam ter acesso a essas informações, para que meninas de 12, 13 anos evitem a gravidez, como é tão frequente em zonas mais carentes, sobretudo no Nordeste - e daí para a prostituição infantil e para a delinquência, é apenas um pulo. Se elas não sabem, é fatal que engravidem -ou alguém vai falar em abstinência sexual com adolescentes com os hormônios à flor da pele?

Nenhum Bolsa Família vai resolver o problema, e quando uma dessas mães olha de maneira tão triste para suas filhas, ela está pensando, sem nem saber que está pensando, que a vida delas vai ser exatamente igual à sua: miserável e sem perspectiva.

A verdadeira mãe de todos os brasileiros deveria ser Erenice Guerra - e que mãe! Ninguém jamais cuidou melhor de sua família do que a ex-ministra da Casa Civil (e foi pra ela que sobrou).

Mas Dilma não sabia de nada, claro.

danuza.leao@uol.com.br

Corumbá

Gaspari: ‘Companheira Dilma e comissária Rousseff’

Enviado por Elio Gaspari em 19/09:

Num primeiro momento, Dilma Rousseff dissera que o ‘Erenicegate’ era problema do governo, não de sua campanha.

Neste sábado (18), a candidata atualizou o bordão de Lula ‘Não sabia de Nadinha’ da Silva: “Não cheguei a tomar conhecimento”, disse ela.

Até aqui, o Brasil vinha sendo apresentado a uma presidenciável extraordinária, gerente impecável, gestora de êxitos retumbantes. Ao dizer que não sabia o que se passava ao redor de Erenice Guerra, Dilma pede para ser vista como boba involuntária, não como cúmplice espontânea.

Todo mundo tem o direito de dizer o que bem entende. Mas aquela personagem da propaganda eleitoral perdeu o nexo.

Todo mundo tem o direito de votar e eleger quem quiser. Mas tem que ter noção do que virá em seguida.

Um artigo levado às páginas deste domingo (19) pelo repórter Elio Gaspari ajuda a entender o porquê. Vai abaixo o texto:

“Segundo a superstição petista, Dilma Rousseff é uma executiva altamente qualificada. Que seja. Ela teve um loja de cacarecos panamenhos chamada ‘Pão e Circo’, no centro comercial Olaria, em Porto Alegre, mas a aventura durou 17 meses.

Fora daí, seu currículo ficou na barra da saia da viúva. Nele, embutiu um doutorado pela Unicamp que nunca foi concluído, mas deixou de mencionar sua única, banal e pitoresca passagem pela atividade privada.

Nomeada ministra de Minas e Energia, por Nosso Guia, assistiu ao loteamento de sua pasta e a ida do engenheiro Silas Rondeau para a presidência da Eletronorte. Qualificava-se com títulos da Universidade Sarney, onde teve como orientador o eletrizante empresário Fernando, filho do ex-presidente.

Em 2004, a ministra fritou o presidente da Eletrobrás, Luiz Pinguelli Rosa, engenheiro nuclear, doutor pela UFRJ, com passagens por sete universidades estrangeiras. Para o seu lugar, turbinou Rondeau, que acabou substituindo-a no ministério.

Em maio de 2007, um assistente do doutor foi preso pela Operação Navalha. Acusado pela Polícia Federal de ter recebido R$ 100 mil de uma empreiteira, Rondeau deixou o cargo. Denunciado por gestão fraudulenta e corrupção passiva, ele se tornou o sétimo ministro de Nosso Guia apanhado pelo Ministério Público.

Rondeau subiu na vida por conta da aliança política com José Sarney, Erenice foi para a Casa Civil com credenciais típicas do comissariado: a fidelidade ao aparelho petista e à comissária Rousseff. Juntas, deixaram as impressões digitais no episódio da montagem de um dossiê com as despesas de Fernando Henrique Cardoso no Alvorada.

Há dias, um cálculo da Rede Guerra de Trabalho e Emprego informava que, em 15 anos, Erenice, seus três irmãos e dois filhos passaram por pelo menos 14 cargos.

Há mais: foram pelo menos 17, distribuídos pelos setores de urbanismo, educação, saúde, transportes, segurança, energia, planejamento e pela burocracia legislativa. Israel, filho da doutora, tinha uma boquinha na Terracap e José Euricélio, irmão dela, bicou na editora da Universidade de Brasília e estava na teta da Novacap..

Corumbá

sábado, 11 de setembro de 2010

15 minutos de fama

Editorial da Folha de São Paulo – 11/09
editoriais@uol.com.br

Líder de uma insignificante comunidade religiosa do interior da Flórida, o pastor norte-americano Terry Jones ganhou mais atenção do que mereceria com a infeliz ideia de promover hoje o que chamou de "dia internacional da queima do Alcorão".

A data escolhida marca o nono aniversário dos sangrentos ataques desfechados contra o World Trade Center, em Nova York, e outros alvos nos EUA por fundamentalistas islâmicos ligados à rede extremista Al Qaeda.

Sem separar o joio do trigo, Jones decidiu agredir os sentimentos de toda a comunidade muçulmana, com mais de 1 bilhão de pessoas, afixando à porta da sua igreja um cartaz com os dizeres "o islã é do Diabo". Foi o início de uma escalada que levou à decisão de queimar o livro sagrado da religião maometana.

Dada a importância diminuta do personagem -a igreja de Jones tem apenas 50 fiéis- era de esperar que a iniciativa passasse despercebida. Mas os planos do pastor americano chegaram ao conhecimento de muçulmanos no Afeganistão, palco de ofensiva militar dos EUA.

Os protestos que começaram a ocorrer no país centroasiático - e que já custaram ao menos uma vida - levaram o chefe das tropas americanas no país, general David Petraeus, a alertar para um potencial risco a seus soldados caso Jones levasse adiante o plano. O próprio presidente Barack Obama se viu forçado a comentar o caso e disse que a empreitada do pastor favoreceria uma onda de recrutamento para a Al Qaeda.

Depois de todos os apelos, Jones recuou anteontem de seus planos após suposto compromisso - a seguir negado - de que a comunidade muçulmana desistiria da intenção de construir uma mesquita nas proximidades do Marco Zero, palco dos principais atentados de 11 de setembro de 2001.

A liberdade de expressão, valor fundamental da Constituição dos EUA e das verdadeiras democracias, dá ao pastor o direito de denunciar o Alcorão ou mesmo de queimá-lo. Mas o que é legítimo nem sempre é recomendável.

A memória do 11 de Setembro e suas duradouras consequências, como a própria guerra no Afeganistão, não precisam ser inflamadas por atitudes literalmente incendiárias de um pastor obscuro em busca de seus 15 minutos de fama.

Corumbá

terça-feira, 7 de setembro de 2010

COMPETÊNCIAS

Enviado por Jânio de Freitas - Folha de São Paulo

Ex-governador de Pernambuco, ex-prefeito de Recife, o senador peemedebista Jarbas Vasconcelos está sob o risco de protagonizar o grande vexame eleitoral. Só a diferença de 56 pontos entre os seus 17% e os 73% de Eduardo Campos já é maior do que o necessário para uma eleição em primeiro turno.

Jarbas Vasconcelos não queria candidatar-se. José Serra precisava, porém, de candidatos com posição forte para ajudá-lo no Nordeste. Depois de muita recusa seguida de muita relutância, Jarbas cedeu ao compromisso de que o PSDB lhe daria todo o apoio material e o suporte político possível. Continua esperando.

Nunca foi provável que impedisse a reeleição de Eduardo Campos, mas ninguém imaginava o que se passa. E os competentes do PSDB ainda se queixam do Nordeste.

Corumbá

domingo, 5 de setembro de 2010

SITUAÇÃO AINDA INCONCLUSA

Enviado por Carlos Chagas, em 05/09

Há que aguardar as novas pesquisas eleitorais a ser divulgadas nas próximas horas, promovidas depois de conhecido o escândalo da quebra de sigilos fiscais,  promovido no âmbito da Receita Federal. Salvo engano, os números não  deverão variar, quer dizer, Dilma Rousseff manterá folgada vantagem sobre José Serra.

Lembram os tucanos aquele ditado popular, de que “água mole em pedra dura tanto  bate até que fura”. Mesmo sem repetir que nada pega no Lula e consequentemente em Dilma,  replicam os companheiros estar o eleitorado consciente das determinações feitas pelo presidente à Polícia Federal para que tudo seja apurado, “doa a quem doer”.

O episódio parece ainda inconcluso, tantas são as dúvidas. Por certo que uma quadrilha atuava para promover o vazamento da documentação de montes de  cidadãos protegidos pelo sigilo fiscal. Agiam assim para ganhar dinheiro, em busca de compradores.

Estão identificados alguns bandidos  que ofereciam o produto a muita gente, inclusive grupos políticos e partidários. Ou até poderiam receber encomendas.   Ao contrário da lambança  dos aloprados de 2006, em São Paulo, destes até agora não surgiram nomes.  Parece prematuro dizer que são do PT, como  aqueles  de quatro anos atrás, ou que pertencem a setores dissidentes do PSDB, ambos os lados interessados em atingir José Serra.

O grave na história é que ninguém foi afastado, na alta administração federal. Continuando as coisas sem consequências palpáveis e imediatas, logo a própria Dilma Rousseff  irá  cobrá-las.

Temos protestado sempre que o presidente Lula investe sobre a imprensa,  por falta de assunto ou de conhecimento, alegando que os meios de comunicação só divulgam coisas ruins, evitando notícias positivas, em especial de seu governo. Jornalismo não é publicidade, tornando-se verdade secular que a mídia existe  para divulgar o inusitado. Aquela velha história de que se um cachorro  morde um homem, não sai no jornal, mas se um homem morde um cachorro, sai.

Esta semana, em Foz do Iguaçu, porém, o presidente teve razão ao sustentar que conta na sua mão de quatro dedos as vezes em que a televisão transmite programas educativos. Acrescentou ser apenas sexo o que se vê nas telinhas, das sete horas da manhã ao meio-dia e à meia-noite. Noves fora os exageros, o Lula tem razão. Aumenta em progressão geométrica o lixo oferecido à população.

Só que o problema  é mais complicado. As emissoras são empresas comerciais, ainda que desempenhando uma função  pública. Precisam dar lucro, senão fecham e desempregam. Para isso necessitam publicidade, aferida em função dos índices de audiência. Muitas  apelam para o noticiário policial, ,  transformando em verdadeiros espetáculos a desgraça alheia. Outras optam pelo caminho mais simples, do sexo desproporcionado.

Fazer o quê? Os programas educativos geralmente dão traço. Apelar para o poder público será sempre um perigo. Educar os telespectadores levará um tempo  enorme.  Estrilar, talvez seja a solução, como fez o presidente.

Corumbá

sábado, 28 de agosto de 2010

Guerrilheiros Virtuais

Enviado por Carlos Vereza em 26 de agosto de 2010

Mais três sigilos da receita federal foram violados pelos bucaneiros do PT que, como sempre, negam, como negaram o mensalão, os assassinatos de Celso Daniel, Toninho de Campinas, e, agora, a estranha morte do escritor Ives Hublet.

Eles não têm limites: a sordidez deformou-lhes o caráter, o próprio períspirito, "deificaram-se", cínicos, como o  Capo que lhes dá a linha de atuação!

Como ficou claro para mim, espirita, que nem sempre a voz do povo é a voz de Deus; que o norte e o nordeste, são, por circunstâncias históricas, o campo fértil dos reacionários!

A Bahia, por exemplo, foi o único estado que atirou contra a Coluna Prestes, que, entre outras causas, lutava por eleições limpas...E o que vemos agora? Exatamente o foco explorado pelo Grande Guia, são essas regiões, mantidas através dos séculos em estado de miséria, sem noção de cidadania, que anestesiadas pelas inúmeras bolsas, poderão levar à presidência do país a nova burguesia sindical!

Esta corja não acredita em Deus, não acredita na lei matemática de causa e efeito. Megalômanos, egos inflados pela sede de poder, não sabem que são finitos na matéria e que terão de prestar contas aos senhores do Carma!

Não duvidem: eles serão capazes de tudo! Das mais abjetas ações terroristas à calunia, difamação, quebras de sigilos, "guerrilheiros virtuais", como se autodefinem, enfim, o mais puro fascismo travestido de "esquerda!"

Aguardem novos golpes baixos! O repertório é inesgotável!

Que José Serra denuncie à nação o verdadeiro significado do cataclisma chamado Lula da Silva!

Estamos Juntos!

Carlos Vereza

"Nas veredas do Vereza"

Corumbá

sábado, 21 de agosto de 2010

Imagine

Imaginem um presidente brasileiro conservador. Aliás, mais do que isso: imaginem um presidente de extrema-direita. Sim, eu sei que não é fácil, afinal o Brasil está acostumado a ter há décadas, uma disputa entre as várias matizes da esquerda, sem que haja um representante sequer da direita.

Mas, ainda assim, peço um esforço a vocês. Tentem imaginar, apenas por um momento, que o Brasil tem um presidente extremista de direita. Feito isso, imaginem que o sujeito tenha escrito uma carta mais ou menos nos seguintes termos:

“Queridas Companheiras e Companheiros

Há 20 anos, 42 partidos e movimentos conservadores da América Latina e do Caribe reuniram-se em São Paulo – convidados por nós – para um Encontro sem precedentes na recente história política de nosso Continente.

Nascia o que um anos depois, no México, seria chamado de Foro de São Paulo.

Vivíamos tempos difíceis no início dos anos noventa.

Em muitos países começava a ganhar força um discurso radical de esquerda, alimentado por líderes oposicionistas carismáticos, como Lula da Silva e Hugo Chávez, inspirados no exemplo do tirano homicida chamado Fidel Castro. Esses caudilhos ameaçavam as democracias vigorosas e dificultavam a luta dos trabalhadores.

Pairava sobre nosso Continente a ameaça de um novo espectro comunista.

(…) A predominância dessas idéias de extrema-esquerda, era reforçada pela profunda crise das referências tradicionais da direita radical. Suas políticas não permitiam explicar a realidade mundial mas, sobretudo, mobilizar as grandes massas.

A reunião de São Paulo e tantas outras que se seguiram nestes 20 anos tiveram como mérito fundamental criar um espaço democrático de conhecimento e de discussão das extremas-direitas. Esse espaço não existia, muitas vezes, nem mesmo em nossos países.

(…) Hoje, nossa região vive uma situação radicalmente diferente daquela de vinte anos atrás. Muitos dos que nos encontramos no passado nas reuniões do Foro de São Paulo como forças de oposição, hoje somos Governo e estamos desenvolvendo importantes mudanças em nossos países e na região como um todo.

(…) Uns poucos tentam caracterizar o Foro de São Paulo como uma organização autoritária. É o velho discurso de uma esquerda que foi apeada do poder pela vontade popular. Não se conformam com a democracia de que se dizem falsamente partidários.

A contribuição de meu partido e outros partidos de extrema-direita do Brasil para esta nova realidade do Continente é de todos conhecida.

(…) O Brasil mudou e vai continuar mudando nos próximos anos.

Mudou junto com seus países irmãos do Continente.

Mudou como está mudando a Argentina que agora acolhe mais este encontro do Foro de São Paulo.

Recebam, queridos amigos, o abraço do seu irmão e companheiro”

Continuando o nosso exercício de imaginação, considerem que os destinatários da carta acima, assinada pelo presidente brasileiro de extrema-direita, sejam integrantes de partidos com inspiração em Mussolini, Pinochet, Franco, bem como em herdeiros políticos dos militares que governaram Brasil e Argentina durante décadas de ditadura. Imaginem, assim, que tais movimentos políticos sejam as forças políticas integrantes do tal Foro de São Paulo.

Ah, quase esqueci! Considerem também que, além dos movimentos políticos acima mencionados, essa entidade representativa das extremas-direitas da América Latina contasse, ainda, com a participação de um grupo paramilitar, conhecido internacionalmente por sequestrar, torturar, estuprar, matar e traficar drogas.

Como a opinião pública reagiria diante de semelhante organismo internacional? O que diriam a OAB, a CUT, o MST e a CNBB? Qual seria o posicionamento da imprensa e dos intelectuais brasileiros a respeito? Como se comportaria a academia brasileira? Gente como Emir Sader, Marilena Chauí, Maria da Conceição Tavares, Marco Aurélio Garcia e Celso Amorim diriam o quê?

Ora, não é difícil concluir que o mundo desabaria sobre a cabeça do tal presidente brasileiro de extrema-direita, não é mesmo? E com razão! Um fórum com clara inspiração fascista e totalitária, formado por movimentos cujo ideário descende de tiranias assassinas, não mereceria mesmo respeito algum! Vou além: não mereceria sequer existir! A democracia não pode, por amor aos seus princípios, tolerar a existência daqueles que, se pudessem, os destruiriam.

Agora, diante de tudo o que vai acima, considerem que o tal Foro de São Paulo realmente existe, e que não é apenas fruto de um exercício de imaginação proposto por mim. Considerem ainda que ele realmente é composto por partidos e movimentos políticos de inspiração ditatorial, e que tem entre seus membros um grupo paramilitar como o descrito ao alto. Mas atentem para o seguinte: considerem que ele não é de extrema-direita, mas de esquerda.

O que custo a entender, o que não me parece nada lógico, é o seguinte: por que repudiamos – acertadamente, diga-se! – um Foro de São Paulo de extrema-direita, mas aceitamos um de extrema-esquerda? Por que seria escandaloso um presidente brasileiro mantendo relações com partidos inspirados em Mussolini e Franco, mas não causa escândalo algum ver Lula sentando à mesa com gente que se espelha em Stalin e Mao Tse-Tung? Por que seria inadmissível ver o governante do país chamando um grupo paramilitar de direita de “companheiro”, mas é aceitável que o presidente atual derrame abertamente seu amor pelas FARC?

Que deturpação descabida de valores morais é essa, capaz de nos levar a rejeitar o nazismo e o fascismo, ao mesmo tempo em que ainda nos faz parecer aceitável conviver com o socialismo e com o comunismo? Se concordamos todos em rejeitar uma das faces do horror, por que não concordamos também em rejeitar o horror por inteiro? Por que o totalitarismo de esquerda é tolerado no Brasil, a ponto de termos no poder um presidente que mantém relação pessoal de amizade com Fidel Castro? Por que o “terrorismo progressista” é tolerado no Brasil, a ponto de termos um presidente que se senta à mesa com as FARC?

Ou, para colocar as coisas de uma outra forma, a ponto de termos uma candidata que militou em grupos paramilitares, aqui mesmo no Brasil, com grandes chances de se tornar presidente?

Esta é, enfim, a curiosidade antropológica que mais me instiga no momento presente. Sei que o povo mais pobre, aquele sustentado pela bolsa-esmola oficial, não dá a menor importância para escolhas políticas e ideológicas. Escolheria um tirano (de esquerda ou de direita, tanto faz), se este garantisse o saldo do cartãozinho de benefício social ad eternum. Mas e a porção “pensante” do país? E a academia? E o jornalismo? Por que ainda há gente que não se escandaliza ao perceber que o principal partido do Brasil – assim como o principal líder político da atualidade – tem, sim, bandidos de estimação?

Não me assusta que o PT tente esconder o Foro de São Paulo, ou, por vias oblíquas, diminuir a importância dele. Não me assusta que marqueteiros de plantão se ocupem em fazer apenas a tal “campanha positiva”, exaltando até aquilo que nunca foi feito. Isso é do jogo. O que me assusta é notar que o mesmo país capaz de se escandalizar com o Fiat Elba de Collor, com os dólares de Roseana ou com a cueca daquele petista, não veja nada de errado em uma carta na qual Lula confessa sua relação direta (e antiga!) com a escória da América Latina.

Temos, assim, a prova de que o terror foi relativizado, criando-se, assim, o terrorismo – e o totalitarismo – “do bem”. Como é pra ajudar “ozoprimido”, na tentativa de construir o tal “outro mundo possível”, então tá tudo certo.

Em qualquer sociedade minimamente civilizada, aquela carta de Lula seria motivo para “impeachment”. Entraria para a história como “a carta testamento” do petista: aquilo que acabou com sua presidência e com as chances do seu partido de continuar no governo. Mas o Brasil atual, de civilizado, tem muito pouco.

Corumbá

sábado, 14 de agosto de 2010

Meu vizinho criminoso

Os repetidos casos de agressões e assassinatos por motivos banais apenas confirmam a deterioração dos valores sociais que, de algum modo, têm assegurado a ordem nesta nossa sociedade minada. Ordem superficial constantemente ameaçada, não só em relação à vida, mas também em relação a tudo que possa ser violado quando não há princípios sólidos regulando a conduta de cada um. Três assassinatos ocorridos nos últimos dias dão bem as indicações de quanto todos nós estamos ameaçados.

Um descuidado adolescente, Michael Jackson Ribeiro Martinez, correu para tomar um ônibus na Baixada Fluminense e esbarrou numa mulher que carregava uma criança no colo. Já dentro do ônibus, o homem que a acompanhava telefonou pelo celular para alguém que, num ponto seguinte, embarcou e disparou quatro tiros no garoto de 17 anos. Num shopping da zona norte de São Paulo, Juliana Cravo, de 29 anos, acompanhada da mãe, na escada rolante, recebeu uma cuspida no rosto, dada por uma criança que, acompanhada da tia, se divertia cuspindo para baixo.

A vítima foi reclamar com a responsável pela criança, sendo agredida por ela e outras três mulheres, a socos e pontapés, diante de uma loja de departamentos. Morreria quatro dias depois em consequência das agressões. Finalmente, no Dia dos Pais, à noite, em Suzano, na região metropolitana de São Paulo, o tecelão Airton Fernandes voltava para casa com a mulher e cinco filhos quando, ao se desviar de um buraco, o espelho retrovisor de seu carro bateu no espelho retrovisor de um carro que vinha na direção contrária. Foi perseguido a tiros pelo outro motorista, que acertou uma das crianças. Ao sair do carro, apesar dos apelos de sua família ao atirador, este disparou e o matou na hora.

Estamos acostumados a entender que homicídios são praticados por pessoas de algum modo já situadas do "lado de lá" da normalidade, habituadas ou propensas a praticar a violência extrema, gente, como se diz, do ramo da criminalidade. Os casos a que me refiro, no entanto, são de homicídios praticados por gente como nós. É isso que devemos temer. Os "do lado de lá" são naturalmente suspeitos, de certo modo conhecemos suas manhas, horas e lugares em que atacam, modo como atuam, o que pretendem. São os criminosos da escuridão. Sabemos, ou supomos saber, como nos defender deles, porque lhes conhecemos os códigos, as práticas, as limitações e até os medos. Sobretudo, eles sabem que estão agindo criminosamente. Justamente por isso atuam no território demarcado, conhecido e estigmatizado do crime.

Contra os do "lado de cá", no entanto, se dá o contrário. Eles praticam a violência no interior mesmo da nossa rotina, atingindo-nos de dentro dos nossos códigos de conduta e até em nome deles. São os criminosos da claridade. Provavelmente, em situação invertida, os que acabaram sendo finalmente vítimas teriam tido algum tipo de reação à ação que, na circunstância, foram eles que praticaram. O que chamou o comparsa para matar o afoito adolescente reagiu ao descabido de ver a acompanhante empurrada, apesar de ter uma criança no colo.

Nenhum de nós seria solidário com o autor do empurrão. A que reagiu à reclamação contra o sobrinho malcriado que cuspia nos outros entendeu que criança pode tudo, pois ela mesma ao se omitir autorizara a criança à incivilizada malcriadez. Dependendo do tom da reclamação, qualquer um de nós teria ponderado que a criança agira mal, mas era criança. O que teve o espelho retrovisor do carro involuntariamente atingido entendeu como ofensa a sua pessoa o que era mero dano de patrimônio. Nenhum de nós teria se conformado com o acidente, sobretudo se o que o causara não parasse para se explicar.

Mas nos três casos os agressores deram respostas desproporcionais às ações que motivaram as respectivas reações. São casos que dão indicações de uma falha generalizada da civilidade que torna a vida em sociedade possível. O que indica que as instituições e os mecanismos de socialização das pessoas para a vida em sociedade ou falharam de um modo geral ou em algum momento deixaram uma lacuna na transmissão dos valores de referência que tornam a sociedade viável.

É inútil pedir mais segurança em casos assim, quando o que se precisa é de mais educação. Muitas pessoas, no Brasil inteiro, transitaram de condições sociais mais simples para o que é propriamente o padrão de conduta da sociedade complexa. Em qualquer sociedade esse trânsito, característico do advento da sociedade moderna, é muito complicado. Muitas pessoas são incorporadas à modernidade seguindo padrões de conduta antimodernos, que acabam se tornando também autodefensivamente antissociais, como nesses casos. O que em sociedades de transição mais lenta, providas de mecanismos eficazes de ressocialização dos que mudam de situação social, se resolve com escola, aqui acaba sendo inevitável resolver com cadeia, o que é sempre uma solução tardia, que custa a vida de inocentes, de um lado, e a liberdade de retardatários, de outro.

baseado em texto de José de Souza Martins

Corumbá