sábado, 11 de setembro de 2010

15 minutos de fama

Editorial da Folha de São Paulo – 11/09
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Líder de uma insignificante comunidade religiosa do interior da Flórida, o pastor norte-americano Terry Jones ganhou mais atenção do que mereceria com a infeliz ideia de promover hoje o que chamou de "dia internacional da queima do Alcorão".

A data escolhida marca o nono aniversário dos sangrentos ataques desfechados contra o World Trade Center, em Nova York, e outros alvos nos EUA por fundamentalistas islâmicos ligados à rede extremista Al Qaeda.

Sem separar o joio do trigo, Jones decidiu agredir os sentimentos de toda a comunidade muçulmana, com mais de 1 bilhão de pessoas, afixando à porta da sua igreja um cartaz com os dizeres "o islã é do Diabo". Foi o início de uma escalada que levou à decisão de queimar o livro sagrado da religião maometana.

Dada a importância diminuta do personagem -a igreja de Jones tem apenas 50 fiéis- era de esperar que a iniciativa passasse despercebida. Mas os planos do pastor americano chegaram ao conhecimento de muçulmanos no Afeganistão, palco de ofensiva militar dos EUA.

Os protestos que começaram a ocorrer no país centroasiático - e que já custaram ao menos uma vida - levaram o chefe das tropas americanas no país, general David Petraeus, a alertar para um potencial risco a seus soldados caso Jones levasse adiante o plano. O próprio presidente Barack Obama se viu forçado a comentar o caso e disse que a empreitada do pastor favoreceria uma onda de recrutamento para a Al Qaeda.

Depois de todos os apelos, Jones recuou anteontem de seus planos após suposto compromisso - a seguir negado - de que a comunidade muçulmana desistiria da intenção de construir uma mesquita nas proximidades do Marco Zero, palco dos principais atentados de 11 de setembro de 2001.

A liberdade de expressão, valor fundamental da Constituição dos EUA e das verdadeiras democracias, dá ao pastor o direito de denunciar o Alcorão ou mesmo de queimá-lo. Mas o que é legítimo nem sempre é recomendável.

A memória do 11 de Setembro e suas duradouras consequências, como a própria guerra no Afeganistão, não precisam ser inflamadas por atitudes literalmente incendiárias de um pastor obscuro em busca de seus 15 minutos de fama.

Corumbá

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