quinta-feira, 23 de julho de 2009

Uma questão de ética

Todos nós ouvimos, pelo menos uma vez, os diálogos da neta, do filho e do avô pelo telefone. Bastante instrutiva, a conversa girava em torno de uma “vaga” surgida no Senado com a saída de um dos filhos do avô, em busca de voos melhores. A “vaga” era um “emprego público hereditário”

Pela primeira vez, nessa crise do Senado, uma denúncia com base numa iniciativa do presidente José Sarney: limpa e clara posse de um emprego público. Um político chegou a afirmar que “as conversas com a posterior nomeação efetiva de um agregado é batom na cueca”.

Quando a conversa do avô, o filho e uma neta chegaram a Agaciel Maia com a determinação de “segurar” a vaga para o namorado da filha para a vaga antes ocupada pelo irmão, Agaciel foi enfático e não deixou dúvidas: “Fernando, isso daí você tem que conversar com o presidente ou com o Sarney, eu não tenho autonomia”

Para a moça, ela estava dentro daquilo que a família lhe ensinara a vida toda: o posto pertencia ao clã.

E estava certa, poucos dias depois, o rapaz estava empregado (não confundir com “estava trabalhando”)

E Fernando Sarney, em outra ligação para o filho João Fernando, ainda ironizou o fato do Epitácio Cafeteira, dono do gabinete empregador do rapaz, tê-lo convocado para “dar uma olhada no funcionário”…

O que falta agora? O presidente do Senado, José Sarney,  mentiu ao negar a existência de atos secretos, mentiu que tenha descumprido a Constituição no tocante  à prática de nepotismo e mentiu ao dizer que nada sabia sobre os ilícitos imputados ao ex-diretor Agaciel Maia.

Se o Senado, o Conselho de Ética, a tropa de choque, o presidente Lula e seus agregados continuarem afirmando que Sarney é vítima de conspiração e que sua permanência na presidência tem que ser mantida, devem ser, a partir de agora  tratados como cúmplices.

Não vai mudar quase nada, mas pelo menos saberemos com quem estaremos tratando.

Corumbá

A tirania dos decibéis

É fácil, fácil, pinçar, entre os municípios de Pernambuco, vários onde os tímpanos da população se mantêm inteiros unicamente pela fé dos seus donos em que os órgãos de defesa da cidadania aparecerão, a qualquer hora, para libertá-los da tirania dos decibéis. Belo Jardim (Agreste, 186 quilômetros) pode encabeçar a lista, com louvor.

Cedinho, os fins de semana são anunciados com alarde por carros conduzidos por motoristas que resistem a se desvencilhar dos restos da sexta-feira. E os pratos tremem na mesa, durante o café da manhã das famílias dos subúrbios, ao som insuportável de uma música de terceira, dúbia como é o caráter desses a quem parte da população, mais esclarecida e revoltada, chama de "arremedos de DJs".

Se não são eles a acabar com o apetite e a saúde dos que preferem (ou precisam) de silêncio, são os carros de propaganda política ou aqueles pagos para anunciar uma atração qualquer, igualmente de contribuição duvidosa para a cultura local.

No cotidiano, o inferno das propagandas de lojas, óticas, planos de saúde, loterias e adjacentes são infernais e constantes em seus altos decibéis. Isso sem falar nos famigerados vendedores de CDs piratas com seus equipamentos potentes que, enquanto vendem, deixam seu som em alto volume parados em frente a escolas, hospitais, residências, sem o mínimo respeito à população.

Não há polícia que dê jeito, mas, a bem da verdade, ela nem se mostra muito interessada, porque pode se dar ao luxo de alegar que tem mais o que fazer.

No entanto, diante do puxão de orelha que o Ministério Público acaba de dar em um restaurante e uma lanchonete do pequeno município de Tuparetama (Sertão), para que proíbam clientes de parar na casa com o volume do som do carro lá em cima, a população de Belo Jardim passou a ter esperança de que o Ministério Público resolva aparecer por lá.

Em apenas um fim de semana, poderia sair com a mala cheia de Termos de Ajuste de Conduta assinados, mesmo sem nenhuma garantia de que eles seriam cumpridos.

Mas isso já é outra história - falta o primeiro passo na tentativa de que a lei seja respeitada.

Baseado em texto de Luce Pereira, publicado no Diário de Pernambuco

luce.pereira@diariodepernambuco.com.br

Corumbá