sábado, 23 de outubro de 2010

Desvio e dever

Enviado por Míriam Leitão e Alvaro Gribel – 23/10

A grande questão não é o que acertou a cabeça de José Serra em Campo Grande, mas o que há na cabeça do presidente Lula. É assustador que ele não perceba o perigo de usar toda a sua vasta popularidade para subestimar um episódio de conflito físico entre grupos que disputam o poder. Se ele brinca com fato grave, o que está avisando é que esse tipo de atitude é aceitável.

Não é. Cada lado tem que ter segurança e garantia de fazer a sua festa, a sua passeata, o seu comício em paz. Quem organiza um grupo para interceptar a caminhada do grupo concorrente na disputa política sabe que há risco de que tudo fuja ao controle. O que houve já foi sério o suficiente, mas poderia ter sido ainda pior. Felizmente, há tempo de aprender com esse episódio.

A paixão eleitoral é natural, o maniqueísmo do segundo turno é emburrecedor, o confronto entre as partes só é aceitável se ficar no campo das ideias e propostas. Quem vai com um grupo organizado para hostilizar o adversário no meio da sua caminhada sabe que os ânimos podem ficar exaltados. Desta vez, foi uma pedra na cabeça de uma jornalista, e o rolo de fita na cabeça do candidato José Serra. Esse episódio deve ser visto pelo risco potencial de conflito generalizado. As imagens falam por si. O que mais poderia acontecer numa refrega de rua? No Paraná, a candidata Dilma Rousseff, no dia seguinte, foi alvo — felizmente quem lançou errou a pontaria — de balões de água. Esse é exatamente o ponto em que o chefe da Nação precisa pedir calma aos dois lados, lembrar os valores democráticos, e a melhor atitude na disputa política. Mas é exatamente neste momento que o presidente ofende quem foi atingido e convalida o comportamento desviante de quem agrediu. Ao tratar com leviandade um assunto sério, incentivou a militância a repetir o comportamento, escalou o conflito e deseducou o cidadão.

Essa campanha eleitoral está deixando cicatrizes nas instituições. Um presidente da República não deve fazer o que o presidente Lula tem feito. Não deve usar a máquina, a Presidência, o poder em favor de um dos candidatos dessa forma e com essa força. Claro que Lula tem um lado, um partido e uma candidata. Pode e deve explicitar isso. Seria estranho se não o fizesse. Mas a Presidência da República não pode ser usada como braço do comitê de campanha. Existe uma linha divisória que Lula nunca quis ver. E esse comportamento errado do ponto de vista institucional se repetiu durante toda a campanha. Em alguns momentos, os atos inadequados do presidente ficaram evidentes. Esse episódio deixou claríssimo o que não se deve fazer. Que as pessoas que vierem a ocupar este cargo no futuro vejam nas atitudes do presidente Lula de 2010 exemplos do que não fazer, não repetir.

O risco é que seja visto como natural daqui para frente o governo usar órgãos públicos para espionar adversários políticos; órgãos públicos, estatais e agências serem partidarizadas de maneira abusiva; o presidente não ter freio institucional. Não se acostumar com o erro repetido é a única garantia que se tem em momentos assim.

Quem já viveu sem democracia sabe o valor de cada ritual, limite, processo. Quem nunca viveu não tem como ver os riscos quando eles surgem com seus sinais antecedentes. Por isso é natural que os mais jovens pensem ser um exagero da oposição ou concluam que o episódio de Campo Grande não foi nada. Afinal, como ninguém se feriu seriamente, que problema tem? Podem pensar que se o presidente acha que o candidato da oposição é um farsante como aquele jogador de futebol isso é só mais um jogo, mais uma pelada no campo político. Se os mais jovens forem displicentes, é até compreensível. Um homem nos seus 65 anos, que viu o que o presidente Lula já viu no país, só brinca se não estiver levando a sério o cargo que ocupa, a faixa que recebeu, o poder que tem.

Hoje, os riscos institucionais não vêm mais dos quartéis, como se sabe. As Forças Armadas não conspiram contra a ordem democrática e isso é um salto extraordinário que o país deu com a contribuição de inúmeras pessoas e com o sacrifício de muita gente. Hoje, os riscos são outros, tem novas origens, e métodos diferentes.

Está em moda na América Latina demolir as instituições por dentro, minar a democracia, enfraquecendo o sistema de pesos e contrapesos, descaracterizar os poderes até eles ficarem irreconhecíveis, controlar a imprensa para não ouvir o contraditório. Felizmente, isso não acontece em todos os países, mas os casos em que esse processo está em curso são tão notórios e assustadores que qualquer pessoa que tenha passado pela experiência da ausência de democracia é capaz de ver. Certos governantes começam fazendo chacota de coisas graves, como Hugo Chávez. Ele xingou adversários políticos ou contou piadas e pôs apelidos supostamente engraçados para desacreditá-los. Isso, no princípio. Depois, ficou muito pior. Cristina Kirchner começou falando mal dos jornais e agora fala em estatizar a imprensa. Todos os que escolhem esse desvio político tentam intimidar a oposição para depois tentar exterminá-la.

Nenhum desses governantes do barulho da América Latina sabe o limite no uso dos órgãos e empresas públicas para objetivos políticos porque essa é uma poderosa ferramenta para minar o que mais os ameaça: o princípio da alternância no poder.

Como já escrevi nesse espaço, numa democracia não importa quem ganha a eleição, mas como se ganha a eleição. Se o presidente Lula conseguir seu objetivo tão almejado de fazer Dilma Rousseff sua sucessora, que seja pelos méritos de ambos, e não pelos erros e desvios dessa triste campanha.

Corumbá

domingo, 17 de outubro de 2010

Resposta a Ângela…sobre o PT, Lula e Dilma

Realmente, o PT não vai entregar o poder sem luta e muita luta. Passou anos tentando convencer que era um partido ético e honesto - o único do país - e, quando deixou a violência de lado e aproveitando um momento de alívio do Brasil pelo fim da hiperinflação, convenceu a classe média que valia a pena tentar.

Mostrou que era aético, além de desonesto ao extremo e o Lula mostrou como se governa sem respeitar as instituições democráticas.

E roubou, roubou muito e equipou todo o poder do Estado com forças do partido. Agora não pode perder e não pode perder para não ter seus oito anos de poder contestados perante a lei e a justiça. No poder, o PT tem o Congresso, a militância, a mídia e parte da justiça sobre controle. E comanda as dissenções com linha dura e muito dinheiro (vide mensalão). Sem o poder, o vazio...

Não pode perder e, em se tratando de um partido corrupto, aético, sem leis e sem medidas de comportamento, tudo, significa tudo mesmo, até tumultos generalizados. Não há limites para o PT e Lula não perderem o poder, isso tem sido constantemente discutido nos bastidores. Como ainda não sabem o que dará ou não certo, não há limites.
Deus permita que eu esteja errado!

Corumbá

PT busca fato novo e Lula intensifica mais ainda sua participação na campanha de Dilma

As pesquisas de intenção de voto e o comportamento de Dilma Rousseff e da cúpula de sua campanha comprovam que a candidatura presidencial petista está em um mau momento.

A diferença entre José Serra e Dilma Rousseff se reduz rapidamente e ambos os lados sabem disso. Os tucanos lutam para não permitir o famigerado “salto alto” e os petistas tentam, aflitos, estancar a perda de votos.

Tanto Serra quanto Dilma focarão os maiores colégios eleitorais nesse momento. O tucano visa compensar a vantagem de Dilma no Nordeste abrindo vantagem em São Paulo e em Minas Gerais. A petista quer intensificar a ação nestes estados justamente para não permitir que isso ocorra. Além disso, quer reduzir a vantagem de Serra no Paraná e vencer no Rio Grande do Sul.

De qualquer forma, é fato que o momento é melhor para Serra e que Dilma busca um fato novo. Algo que surja para modificar a agenda da campanha que tem constrangido a petista.

Pois bem. Enquanto este fato novo não surge, as informações de bastidores e alguns novos comerciais eleitorais de Dilma demonstram que uma mudança já foi feita: Lula vai intensificar mais ainda sua participação na campanha de Dilma.

A exposição de Lula foi a resposta encontrada por alguns petistas para estancar a perda de votos de Dilma. Entre os que defendem correções de rumo e criticam o marqueteiro João Santana por algumas escolhas está o próprio Lula.

Acontece que as mesmas pessoas que defendem esta tese de tomar alguns caminhos novos têm um forte receio de que os opositores desta tese estejam corretos.

Os petistas que defendiam menos Lula e mais Dilma afirmam que quanto mais o Presidente for utilizado, mais a população terá a certeza de que Dilma não consegue se defender sozinha.

Daí para pensarem que ela não consegue governar sozinha é um “pulo”.

Muitos petistas morrem de medo deste “pulo”, mas não sabem o que mais podem fazer além de exibir Lula ao extremo, maior e único real avalizador da candidatura de Dilma.

Enquanto petistas batem cabeça, o tucanato opera o milagre de fazer Geraldo Alckmin e Aécio Neves se empenharem por José Serra.

Definitivamente o “momentum” não é do PT.

Para tentar mudar esse quadro, alguns gritaram: “Lula neles!”

Foram atendidos.

Vejamos o resultado.

Corumbá