sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Educação sentimental

Enviado por FERNANDO DE BARROS E SILVA, em 05/02/2010

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[Fernando] O programa do PV, exibido ontem à noite em rede nacional de TV, marcou a estreia de Marina Silva como candidata à Presidência. O grande público pôde vê-la pela primeira vez neste ano. Ao final de 10 minutos, fica-se com a sensação de que o PT teria com o que se preocupar se as condições da disputa não fossem tão desiguais.

O que fez o PV? Um programa em grande parte dedicado à importância estratégica da educação. Mas associou a defesa dessa bandeira à biografia da sua candidata, de tal forma que as coisas se confundissem num enredo comum. Marina aparece na tela como a melhor personagem da sua mensagem.

A identificação e o contraponto com Lula não poderiam ser mais cristalinos. Nascida no interior do Acre, negra, pobre, analfabeta até os 16 anos, Marina também é uma legitima "filha do Brasil".

Mas, contra todas as adversidades, depois de ter sido humilhada pela professora diante dos colegas no primeiro dia de aula, reuniu forças para se alfabetizar: "A minha vontade de aprender era tamanha que em 15 dias eu já estava alfabetizada". Concluiu o supletivo, passou no vestibular, cursou história e se especializou em psicopedagogia.

"Tudo o que aconteceu na minha vida foi graças à oportunidade que tive de estudar, ainda que tardiamente", diz, orgulhosa. É como se dissesse: Lula nos trouxe até aqui, para dar o próximo passo é preciso estudar -apresentando-se, ela própria, como o espelho do futuro.

Merece atenção a referência elogiosa que Marina faz a Lula e a FHC, de maneira equânime. Ao mesmo tempo em que se coloca como herdeira dos dois, ela vocaliza a ideia de que representa uma ruptura. Sem se definir, o programa oscila habilmente entre mensagens de continuidade e mudança, evolução e revolução, passado e futuro.


Ouvimos de Marina expressões como "virada histórica", "grande transformação", "nova consciência" e "utopia". Mas ninguém precisa ter medo. A fala mansa está ali para nos sugerir que ela é só um Lula que estudou até o fim, direitinho.

Corumbá

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Trombada no ar

Enviada por ELIANE CANTANHÊDE, em 04/02/10.

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[Eliane Cantanhêde] Não poderia haver um "timing" pior para a notícia sobre a compra dos caças franceses do que hoje, quando Lula recebe as credenciais, nada mais, nada menos, do que do novo embaixador americano, o tão esperado Thomas Shannon. O EUA concorrem, ou concorriam, com o F-18.

Foi por isso que Lula e Jobim se reuniram na terça-feira, decidiram a favor dos Rafale e acertaram o discurso e as argumentações necessárias para a hora da divulgação oficial, mas ficaram de bico calado.

A decisão pró-Rafale vem de muito tempo, um ano ou mais, e já tinha ficado de péssimo tom anunciá-la no 7 de Setembro, deixando os pilotos da comissão técnica e os concorrentes dos EUA e da Suécia com cara de trouxas. Tanto que o governo deu meia volta, volver.

Agora, a coisa se repete, mas nos bastidores. Depois do vexame, depois dos muitos meses de trabalho da comissão e das investidas dos concorrentes, só faltava mesmo essa: Lula e Jobim decidirem e a má notícia vazar para os americanos justamente na hora da festa de chegada do embaixador.

Bem, mas nós daqui e você daí já sabemos como se resolvem, ou se tentam resolver, essas coisas: jogando a culpa na imprensa. Lula e Jobim vão ficar roucos de tanto negar, mas a verdade tarda, mas não falha. Então é só aguardar.

Até lá, Jobim, estará colocando seu talento de advogado, parlamentar e constituinte, ministro pela segunda vez e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) a serviço de uma peça política. Uma peça para explicar por que, afinal, brigadeiros e coronéis da FAB e entendidos da Embraer preferiram o pacote sueco, que além de tudo é o mais barato, mas os políticos optaram pelo francês, além de tudo o mais caro dos três.

Quando houver clima para o anúncio oficial, a expectativa é a de que boa parte da opinião pública receba com ironia: "Não precisa explicar, eu só queria entender".


elianec@uol.com.br

Corumbá

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

'O PT quer eleger a ministra Dilma sem voto'

Em entrevista hoje, 3, à CBN, leia abaixo o desabafo do senador Sérgio Guerra , presidente do PSDB, a propósito do documento do Ministério do Desenvolvimento Social que sugere mudanças futuras no programa Bolsa Família, a depender de quem for eleito para suceder Lula:

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[Sérgio Guerra]* É desonesta a ameaça. O fato concreto é: digamos que eu sou uma pessoa do interior do Nordeste do Brasil, vivo lá com 130, 140, 200 reais, e eu minha família. De repente eu sou informado que no próximo governo ninguém garante se meus direitos ao Bolsa Família vão continuar ou se eles vão desaparecer. Isto está nas entrelinhas da instrução e evidentemente claro na ameaça que está contida do próprio documento do ministério. Ora, isso é coisa irresponsável com o povo, claramente eleitoral.

* Na eleição passada, eu me lembro bem, eu estava no interior de Pernambuco numa cidade chamada Araripina. De repente, isso já no segundo turno, quando o Geraldo Alckmin tinha se aproximado muito do candidato Lula, eu encontrei dois ou três documentos de associações que não existiam dizendo que o PSDB, se ganhasse a eleição, ia acabar com o Bolsa Família, e ia privatizar um banco muito conhecido e que dá financiamento aos pequenos produtores, o Banco do Nordeste do Brasil. Que ele então, ia passar a trabalhar para os barões, para os latifundiários e poderosos. Isso eles fizeram no segundo turno da eleição.

* Agora eles estão fazendo essas ameaças, disseminando a mentira, o terrorismo, para as pessoas simples do Brasil inteiro na pré-campanha ou antes ainda da pré-campanha. Isso dá uma medida do que esse pessoal vai fazer para não entregar o governo. O problema dessa eleição é que o PT não quer entregar o governo. O PT quer eleger a ministra Dilma sem voto, quer empurrar essa candidatura na goela de todo o mundo. Esse é que é o fato concreto.

* E a ameaça é o instrumento deles: se os tucanos ganharem vão acabar a Bolsa Família, você que está esquecido no fim do Brasil, nas áreas mais pobres do Brasil, vai sofrer. Isso eles dizem todos os dias nos palanques e é uma mentira!! Nos não temos nada contra a Bolsa Família, fomos nós que inventamos isso, nós achamos que o presidente Lula foi até muito bem nesse assunto. Nós sempre dissemos isso. É mentira, é terrorismo, é seguramente a ação dessa gente.

* A ministra esqueceu da verdade há muitos anos. Infelizmente ela não gosta de falar a verdade. Por um bom período achei que ela era uma pessoa séria, mas ela não tem argumentos, faz uma campanha muito débil, toda vez que ela aparece , ela perde e ela agora está com esse tipo de ação que não honra nem a democracia nem a ministra.

* Nós não vamos acabar com coisa nenhuma , nós vamos fazer obras decentes, não vamos aprovar obras indecentes, vamos manter e ampliar a Bolsa Família porque achamos que é certo. Fomos nós que a criamos. A nossa impressão digital está lá, começou no governo Fernando Henrique. Tudo isso é uma grande fraude, é apenas o prenúncio do que será essa campanha: mentira e terrorismo.

Corumbá