sábado, 8 de maio de 2010

Aluno não gosta de estudar

Texto de Bahige Fadel*, em 08/05/2010

Embora não fosse uma grande novidade, causou-me preocupação o resultado de uma pesquisa realizada recentemente com estudantes universitários. Ao serem interrogados sobre suas preferências no período de estudos, a grande maioria respondeu que prefere as baladas e as festinhas universitárias. Apenas 16% dos alunos disseram que gostam de estudar.

Dirá o leitor: “O resultado da pesquisa é normal. É lógico que os jovens prefiram as baladas e as festinhas às aulas. Qualquer um responderia dessa forma. Seria mentiroso se não fosse assim.”

Como eu sei que a observação do leitor será essa, fico, ainda, mais preocupado. É que tenho a convicção de que não deveria ser assim. Estou certo de que isso ocorre, porque os estudantes não têm plena certeza de seus reais objetivos. Quando se tem um objetivo em mente, a gente se dedica integralmente a esse objetivo e tem prazer em realizar o que deve ser feito para atingi-lo.

Quando me falam que a escola de antigamente era melhor que a de hoje, que os professores de antes eram muito melhores, sou totalmente contrário. Sempre fui de opinião de que a escola de hoje e os professores atuais são bem melhores que os de antigamente. O que mudou foi a situação, foram as circunstâncias.

O leitor dirá que há um paradoxo entre essa afirmação e os resultados da pesquisa. Como é que a escola e os professores de hoje são melhores, se os alunos não gostam de frequentar essa escola com esses professores? Como é que na escola de antigamente, que, segundo minha opinião, era pior, os alunos manifestavam mais interesse?

Não vejo paradoxo algum. Confirmo que, antigamente, era um orgulho para toda a família quando uma pessoa conseguia frequentar a escola. Imaginem, agora, que sentimento dominava as pessoas, quando alguém da família conseguia matricular-se numa faculdade. Sem dúvida, muito grande. Era motivo de notícia em jornal: “Filho da terra matricula-se na Faculdade de Medicina.” E nem precisavam chegar ao ensino universitário. Os mais velhos hão de lembrar com que orgulho se falava da menina que conseguia formar-se na Escola Normal.

Hoje, ao contrário, poucas pessoas desejam a carreira de professor do ciclo I do ensino fundamental (professor primário).

Minha preocupação aumenta, pois vejo que, com escolas melhores, o interesse dos alunos, como a pesquisa confirma, está cada vez menor. A preferência do aluno, ao chegar à universidade, é participar das baladas e das festinhas universitárias, que, evidentemente, não são regadas a suco de laranja.

Nos ensinos fundamental e médio, esse desinteresse se confirma, ao vermos o elevado índice de evasão escolar, principalmente no período noturno e as salas de aula às moscas, nas sextas-feiras, em boa parte das escolas, principalmente no período noturno também.

Há solução para esse problema? – perguntará o leitor. Evidentemente que há. Mas a solução não é tão fácil nem se concretizará em curto espaço de tempo. É preciso que haja um trabalho sistemático, envolvendo as escolas, as autoridades, as famílias e a sociedade de uma maneira geral.

Deverá ser um trabalho educativo de fôlego, que não se esgotará em alguns meses ou alguns anos. É preciso que haja a conscientização de todos para a importância da educação, que deverá conviver em harmonia com uma nova sociedade, que oferece às pessoas alternativas de vida, mas que nenhuma delas dispensa a educação de boa qualidade.
* Bahige Fadel, de Botucatu (SP), supervisor de ensino aposentado e atualmente professor do Total COC.

E-mail: bahige@uol.com.br.

Corumbá

quinta-feira, 6 de maio de 2010

A vitória santista

Enviado por Raphael Curvo* em 6/05/2010

Antes de escrever sobre a raça do Santos, vou dar uma passada pela nossa classe política que passivamente vê e aceita os desmandos e aberrações do presidente ante a legislação eleitoral brasileira. É coisa de escracho. É ainda mais triste o papel desempenhado pela justiça no faz de conta que penaliza um infrator. Olhe que estou mencionando o Presidente da República, aquele que, por dever de ofício, deveria ser o número um em respeito à Lei e não seu principal infrator. Fico a pensar qual será o comportamento do presidente a partir do momento em que a campanha política chegar às ruas.

O atentado frustrado em New York (USA) foi um alívio à turma presidencial brasileira – Amorim, o Garcia “top-top”, Franklin Martins e cia. O terror tem como um dos principais financiadores o Irã do Ahmadinejah, idolatrado pelo presidente do Brasil que para lá viaja no dia 17 deste. Personagens como esse é que estão como principais na agenda internacional do governo brasileiro. A demanda política com o Irã é de longo prazo e esse encontro de nada servirá à equação de tensão no oriente médio. Tem sabor de vingança à frustração de Doha.

Mas vamos ao que mais interessa do que esse samba de criolo doido que é o governo do Brasil. Os meninos da Vila Belmiro ressuscitaram o futebol arte que parecia enterrado pela geração de técnicos que tomaram conta do futebol brasileiro. Estes treinadores fazem dos nossos astros do futebol, em todos os clubes, meros objetos de suas manipulações. Determinam faixas de campo em que cada um deles pode agir e empregar seu talento. Limitam a sua criatividade com a observação dos riscos e traçados em quadro negro sobre como se deve proceder no transcorrer das partidas. Aprisionados pelas táticas de seus treinadores, jovens talentos são oprimidos na sua evolução na arte de jogar futebol. Temerosos pelo seu futuro e daqueles que dele dependem, os jovens jogadores se vêem aprisionados, melhor dizendo, se auto aprisionam. Ser criativo e ousado torna-se um grande risco ao seu exercício profissional.

Esta é a verdade no nosso futebol. Os treinadores tem pavor do talento que pode ofuscar a sua propalada capacidade em dirigir um time de futebol. Domingo passado esta situação ficou as claras com o treinador santista. Aliás, o Dorival Jr. já havia demonstrado esse seu medo quando resolveu ainda no primeiro jogo da decisão, mudar a característica do time vencedor e de exuberante futebol. Manteve a mesma postura no jogo contra o Atlético mineiro pela Taça Brasil. Colocou na defensiva um time que só sabe atacar. Com isso facilitou a vida do bravo adversário, o Santo André e do time de Minas Gerais. Neymar e Ganso são verdadeiras nitroglicerinas à vaidade do Dunga. Talentos nesse nível podem ofuscar e retirar méritos que julga ser só dele caso ganhe a Copa. Não há outra plausível explicação ao deixar de lado jogadores como os acima citados e Ronaldinho Gaúcho em favor de Josué, Kleberson, Gilberto Silva, Júlio Batista, Adriano e cia. Saibam os senhores leitores, e quantos estão comigo, se não levar esse trio, a seleção volta nas quartas de final.

Em razão da estupidez do Dorival Jr, quase acontece uma das maiores injustiças no futebol brasileiro: o Santos FC não ser campeão. Marco de uma nova era no futebol do Brasil, esse time santista terminou o campeonato paulista com 10 pontos de vantagem sobre o Santo André. Mais, em três confrontos venceu dois, um inclusive, na casa do adversário. É uma diferença considerável e a injustiça se faria com apenas uma vitória do Santo André por dois gols. É mais ou menos a diferença entre o presidente Obama, com 7.740.557 indicações e o presidente do Brasil com 12.371 indicações na lista da revista TIME na relação das mais influentes personalidades do mundo. Quem é o cara? Faltava aos meninos da vila calar o último argumento dos contrários que diziam que a gurizada iria tremer em decisões.

Pois bem, mesmo com sete homens na linha contra nove do adversário, se superaram e mostraram gigantesca personalidade ao segurar o placar e o título. A postura louca de Dorival Jr. de exaurir o poder ofensivo do Santos com substituições do Neymar e Robinho, foi contida pela personalidade de Paulo Henrique, o Ganso, que se recusou a sair e deixar a mercê do massacre adversário o resto do time. E não foi só ele, Rodrigo Mancha também não aceitou a sua substituição. O Santos FC há muitos anos vem, de épocas em épocas, provocando mudanças no comportamento do futebol brasileiro. A orientação deve vir do treinador, mas o futebol aplicado é dos jogadores. Não se pode reprimir talentos, a arte de jogar futebol, o espetáculo da bola pela rigidez das táticas de pranchas e quadros negros dos vestiários. Organizar uma defesa é válido, mas aos atacantes significa impedi-los de serem ofensivos e concretizar o êxtase do futebol, o gol. Fora a cautela, que retorne ao futebol brasileiro a filosofia do jogo ofensivo, de muitos gols.

*Raphael Curvo – santista, jornalista, advogado pela PUC-RIO e pós graduado pela Cândido Mendes-RJ

Corumbá