terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Saudades de Jimmy Carter (Dilma em Cuba)

Enviado por Ricardo Noblat em 31/01


O que a militante política de esquerda Dilma Rousseff deve ter pensado quando Jimmy Carter, presidente dos Estados Unidos entre 1977 e 1981, começou a criar dificuldades para a ditadura militar brasileira cobrando mais respeito aos direitos humanos?

Ela exultou com a postura de Carter? Ou por acaso o censurou pensando assim: "Quem atira a primeira pedra tem telhado de vidro", convencida de que "não é possível fazer da política de direitos humanos apenas uma arma de combate político ideológico contra alguns países"?

Ou foi ainda mais longe e tascou: "O desrespeito aos direitos humanos ocorre em todas as nações", inclusive nos Estados Unidos. Logo... Logo Carter deveria levar em conta que o respeito aos direitos humanos "é algo que temos de melhorar no mundo de uma maneira geral"?

Na época, Carter chegou a despachar sua mulher para uma viagem ao Brasil. Aqui, ela se reuniu com o  presidente Ernesto Geisel e interrogou-o sobre denúncias de torturas e de desaparecimento de presos da ditadura. Foi um momento de humilhação para o general. E de conforto para quem a ele se opunha.

Tudo o que imaginei que a militante Dilma (vulgo Estela ou Vanda) poderia absurdamente ter pensado a respeito da intervenção de Carter em assuntos internos do Brasil foi dito ontem pela presidente Dilma Rousseff em visita à Cuba, onde vigora a ditadura dos irmãos Castro desde janeiro de 1959.

Os dissidentes cubanos torceram por uma atuação de Dilma que lembrasse a de Carter no passado, quando ele decidiu puxar o tapete de algumas das ditaduras apoiadas por seu país. Na verdade, Dilma nada tem a ver com Carter. Mas pelo menos poderia ter sido menos amigável com uma ditadura do que foi.

Essa história de não se meter em assunto de outro país é um falso dogma. Se países põem em risco a segurança do mundo ou violam princípios e valores universalmente aceitos, é compreensível que sejam criticados pelos demais. E até boicotados em casos extremos.

Lula achou que o Brasil deveria romper relações diplomáticas com Honduras quando o presidente Manuel Zelaya foi derrubado pelo Congresso, detido pelo Exército e em seguida deportado. Zelaya voltou escondido ao seu país e se abancou na embaixada brasileira. Fez dela seu bunker com a concordância de Lula.

O eclipse da democracia em Honduras durou pouco tempo. Em Cuba se arrasta há 53 anos.

Corumbá

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Acaba acontecendo

Enviado por Edgar Flexa Ribeiro (*) em 30/01

Certo, a educação nacional tem ministro novo. Mas provavelmente isso não fará grande diferença.

Daqui a pouco, quando recomeçarem as aulas, um grupo de jovens iniciará sua formação para serem professores. Vão se formar daqui a quatro ou cinco anos.

E a formação que vão receber será semelhante àquela que é feita há muitos e muitos anos. Pode ter mudado tudo, mas não houve mudança significativa na formação dos professores.

E, consequentemente, é provável que se repita todo o resto, com os mesmos resultados. Os ministros são uma irrelevância a mais.

Os equívocos nacionais são o que existe de mais constante em matéria de educação.

Muda-se a lei de dez em dez anos. Mudam nomes, inventam modismos, alteram as aparências. O discurso varia e as queixas se repetem. E tudo fica mais ou menos como sempre foi.

Veja-se o ENEM. Foi criado para ser um instrumento de avaliação do ensino, em âmbito nacional, para permitir formar séries estatísticas consistentes que pudessem ajudar o planejamento e a gestão dos sistemas de ensino.
Em pouco tempo foi transformado na chave mestra que abre o cofre do acesso ao ensino superior. Um ícone, a fôrma, o padrão, a regra, o parâmetro pelo qual individualmente são avaliados os jovens brasileiros.

Bem formado hoje em dia é quem teve boa nota no ENEM.

Como se tem boa nota no ENEM? Respondendo à pergunta que o Ministro fez do jeito que o Ministro quer. E isso é o que se considera bom para um país de dimensões continentais, diverso e diferenciado.

Com um aspecto adicional: para a consistência do exame, tal como inicialmente concebido, quem acertar tudo no ENEM pode não tirar dez, e quem errar tudo pode não tirar zero. Isso pode ter bons fundamentos estatísticos - mas torna difícil aceitar o exame como bom instrumento para aferição de desempenho individual.

O esforço hoje é concentrado para induzir todo mundo a ingressar numa universidade. Para isso o governo tem dinheiro e recursos, tem bolsas de estudo, financiamentos, apoios e estímulos.

Não é a toa que o ensino privado está se transformando – agora sim - em “big business”: sistemas de ensino e universidades já atraem até capital estrangeiro.

Esse segmento está bombando.

Uma coisa é verdade: o país está crescendo e precisa de gente formada, precisa de mão de obra, precisa da educação. Se o que o governo faz não dá conta, o país vai tomar o assunto em suas mãos, como fez com o transporte coletivo: inventou a “van”, a “perua”.

Vamos acabar inventado a “van” do ensino.

Corumbá

(*)Edgar Flexa Ribeiro é educador, radialista e presidente da Associação Brasileira de Educação