terça-feira, 12 de outubro de 2010

Novos candidatos?

Enviado por Ateneia Feijó – em 12/10/10

O aparecimento inesperado de uma outra Dilma Rousseff no debate de domingo na TV Bandeirantes causou espanto. A aparição foi logo no minuto inicial. A mulher-Lula meiga e sorridente das campanhas eleitoral e publicitária desincorporou o presidente divinizado dando lugar a uma Dilma até então desconhecida do grande público.

Agressiva, partiu para cima de José Serra querendo lhe cortar as asas logo de saída. Visivelmente espantado com a metamorfose da candidata petista, o tucano revidou com algumas bicadas cuidadosas, evitando que ela se transformasse também em uma personagem "vitimizada".

Como estariam se sentindo, em suas casas, os eleitores telespectadores? Assim, apanhados por aquela onda propagada no ar, transportando estratégias novas no segundo turno da campanha eleitoral à presidência da República?

Seria o efeito Marina Silva? Parece que sim. Seus 20 milhões de votos que derrubaram previsões de institutos de pesquisa teriam convencido os responsáveis pelas campanhas do PT e do PSDB de que o melhor caminho é outro: menos marketing e mais autenticidade.

Entretanto, para esse tipo de movimento é necessário equilíbrio racional e emocional. Nada fácil. Principalmente para quem pratica uma política do século passado dependente, entre outras coisas, de militantes aprisionados ideologicamente a um mundo inteiramente reduzido ao binário direita e esquerda. Que induz ao desejo obsessivo de poder e à busca de unanimidade. Qualquer que seja.

Voltando à Dilma aflorada no debate da Band... O que mais parecia lhe importar naquele momento era acabar com a polêmica sobre o aborto, na qual a envolveram manchetes de jornais, capas de revistas e internet. Tinha ainda o resultado da pesquisa Datafolha mostrando-lhe 48% das intenções de voto contra 41% de Serra. Uma diferença bem menor do que a imaginada. Havia também a constatação de que a maior parte dos votos de Marina teria se transferido para Serra.

Há quem considere a polêmica sobre o aborto motivo da queda de Dilma. Não é bem assim. Afinal, as igrejas mais conservadoras e o fundamentalismo religioso estão presentes principalmente no seu reduto eleitoral: Norte e Nordeste. Onde é Deus no céu e Lula na terra. Além do mais, entre os evangélicos, ela tem o apoio do vice-presidente José Alencar e do reeleito senador Marcelo Crivela, da "poderosa" Igreja Universal.

Independentemente do sensacionalismo na mídia, a discussão sobre o tema foi dimensionada nas ruas e nos lares das classes emergentes exatamente por ser de natureza íntima; mexer com família e sentimentos. Em um país cuja população tem dificuldade em falar sobre temas que envolvam entendimento histórico, econômico, político, científico... posicionar-se em relação a um tabu é uma oportunidade de dar sua opinião. E exercê-la apaixonadamente.

No primeiro turno houve uma tentativa de constranger Marina Silva com a questão do aborto, tentando desqualificá-la como fundamentalista. Ela tirou de letra, assumindo com sinceridade sua posição pessoal, ao mesmo tempo em que se declarava cidadã candidata a presidência de um Estado laico e, portanto, disposta a fazer um plebiscito para a própria sociedade decidir a questão. Sem estresse. Apenas foi ela mesma.

Ateneia Feijó é jornalista

Corumbá

Um comentário:

  1. A organização do debate deixou em aberto as perguntas, cada candidato inquira seu adversário, e assim procuraram focar em assuntos que eles sabiam abordar com propriedade, para possíveis revides ou condições de expor melhor o tema.

    Lógico, como manobra política, Serra teve que cutucar Dilma nos pontos cruciais, que ela pouco dominava, como saúde, educação e segurança, são setores de fundamental importância para o povo tanto da classe a, b, c, d, f e g, as respostas foram evasivas, sem propriedade, demonstrando total desconhecimento das especificidades dos órgãos em debate.

    Lamentável assistir um debate programado para ser um grande evento, e a candidata Dilma desesperada insistiu em insultar o adversário com inverdades, coisa que irritou que estava assistindo.

    Veja bem, sou eleitora participativa, que observa, acompanha e analisa os acontecimentos por curiosidade, porém, procuro entender os meandros das discussões em evidência, e neste caso o debate, avalio como um momento de mostrar quem é o candidato de verdade, sem disfarce, sem cola, sem padrinho, sem ponto eletrônico, sem nada, na mais pura cara limpa.

    Assim sendo, ganha que souber lidar com as emoções, com o temperamento e que domine o conhecimento do que está defendendo ou apresentando aos eleitores.

    publicado no:http://puramoagem.blogspot.com

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