quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Ahmadinejad e Lula

Por causa de todas as barbaridades defendidas pelo Presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, a visita deste ao Brasil foi atacada por todos os lados. Pessoas de diferentes ideologias afirmam que é um absurdo que nosso País tenha recebido, com pompa e circunstância, um homem que nega o Holocausto, entre outras coisas.

Muitos comentários a respeito do caso dão conta de que se trata de mais uma desventura da política externa brasileira. Estes somam a visita de Ahmadinejad a uma lista que conta com a conivência com relação às FARCs, o apoio a Hugo Chávez, o recebimento de Zelaya na embaixada brasileira em Honduras e a defesa de Cesare Battisti (quanta loucura!).

Pois bem. Acontece que a visita do Presidente iraniano torna necessário que se tenha muito mais maturidade do que a suficiente para analisar os casos de Zelaya, Battisti, etc, com precisão.

Por quê? Perguntarão alguns. Respondo: Porque as relações com as FARCs, com Chávez, com Zelaya e com Battisti têm uma visão fortemente ideológica. A visita de Ahmadinejad tem visão econômica.

Quando cito a maturidade quero dizer que é preciso deixar o asco nutrido por Ahmadinejad de lado por alguns instantes e analisar friamente o que a visita do iraniano representa. Sei que não é fácil, mas vamos tentar por uns momentos.

É fato que as declarações de Ahmadinejad são absurdas? Sim, é. É impossível respeitar alguém que diz que o Holocausto não existiu e que em seu país não existem homossexuais? Com certeza.

Contudo, a questão não é essa. O ponto crucial a ser analisado é: Receber Ahmadinejad em seu País respalda as declarações deste Presidente e as suas teses abomináveis?

Quem critica Ahmadinejad e responde à minha pergunta com um sim reforça sua crítica. Mas é possível criticar Ahmadinejad e responder à minha pergunta com um não, o que não enfraquece a crítica ao líder iraniano.

O quero dizer é que, dependendo de como é gerenciada, uma visita de um líder estrangeiro condenável não representa defesa de seus valores. Justamente por ser econômica e diplomática, e não ideológica. É preciso que se tenha a noção de que esse ângulo analítico é plausível.

O que Ahmadinejad defende é em grande parte absurdo, com certeza. Mas o Presidente Lula não declarou nada que reforçasse os absurdos, ao contrário, alfinetou um deles, quando afirmou que o programa nuclear deve ser utilizado para fins pacíficos.

Nesse momento surgirá o comentário: Ora, mas Ahmadinejad foi eleito em um pleito fraudado e recebê-lo como líder iraniano legitima as eleições!

Isso é uma verdade. Inquestionável. Daí a dizer que isso reforça as teses de Ahmadinejad são outros quinhentos. Até porque a realidade é a de que Mahmoud é, infelizmente, o Presidente do Irã, doa a quem doer. E o Brasil não romperá relações com o Irã por conta disso.

Alguns poderão dizer: Ora, mas deveria romper!

Deveria? Será mesmo? Quando o Brasil era uma ditadura, que defendia um regime autoritário que fazia, mandava e desmandava, seria correto que rompessem com o Brasil? Talvez no que tange os princípios sim. Mas na prática não, porque isso não nos ajudaria em nada, ao contrário.

Em suma, o Brasil não passa a defender o que defende o Irã por se colocar como seu interlocutor. Ahmadinejad é abominável, mas recebê-lo ou não no Brasil é irrelevante quanto a isso.

Por outro lado, para a política externa brasileira, é sinal de crescimento receber em menos de um mês o líder israelense e o líder iraniano. Quando Bill Clinton recebeu tanto israelenses como palestinos em Camp David foi elogiado. Se os EUA recebessem Kim Jong Il para um diálogo estariam defendendo o regime esquizofrênico da Coreia do Norte?

E tudo isso que digo tem a explicação que é citada por mim no início: A relação é econômica e diplomática, e não ideológica.

Por isso é preciso maturidade. Por isso a crítica ao relacionamento com Chávez e com Zelaya não é a mesma que diz respeito a Ahmadinejad.

Com Chávez e Zelaya a relação do governo é ideológica. Há apoio das ações e dos ideais. A mesma coisa vale para a defesa de Battisti. O governo brasileiro atual é criticável nestes casos porque demonstra claramente apoiar o pensamento, ao invés de apenas estar se relacionando com a devida distância.

Com Ahmadinejad há mera conexão com a nação do Irã, que não pode ser extirpada de nossas relações por ser liderada por um idiota. Até porque, se assim fosse, em diversos momentos da história romperiam relações com o Brasil. Alguns diriam que isso valeria até mesmo para hoje.

Enfim, o encontro de Lula e Ahmadinejad é um caso para se pensar. Profundamente. A crítica superficial deve ser deixada de lado. O ponto principal é saber se receber o iraniano é, necessariamente, defender suas teses.

Talvez não seja.

É até complicado para mim levantar essa questão. Eu mesmo tenho certas reticências morais contra qualquer relação com Ahmadinejad.

Acontece que em certos casos é preciso, respeitados todos os princípios éticos, olhar além do óbvio.

Corumbá

baseado em texto do Perspectiva Política

 

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