quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Lula, FMI e nós

Lula tem um passado de lutas contra o FMI. São históricas as passeatas em que ele participou ou mesmo comandou com os “Fora FMI”! Isso deve ter deixado marcas nele. E acho que essa atitude do “Brasil” com o FMI tem algo de “vingança”.

Com o objetivo de ampliar a capacidade de empréstimo do Fundo Monetário Internacional (FMI), em abril deste ano, durante reunião em Londres, os líderes do G20 acordaram que os países mais fortes - os que têm recursos disponíveis - dariam aportes de forma que o FMI obtivesse mais 500 bilhões de dólares para ajudar os países em dificuldade, principalmente os afetados pela crise econômica internacional. O Brasil foi convidado a dar sua contribuição. O convite foi prontamente aceito.

De acordo com nota divulgada nesta segunda-feira (05/10) pelo Ministério da Fazenda, o Brasil vai adquirir 10 bilhões de dólares em bônus do FMI. Na nota, o Ministério explica que o Banco Central está autorizado a comprar ativos do FMI que poderão ser convertidos em moedas de liquidez internacional imediatamente, se necessário. Desta forma, ainda de acordo com a nota, esta operação apenas altera a composição das reservas internacionais do País o que contribui para a sua diversificação.

A primeira impressão é a de que esta operação é benéfica ao Brasil. Porém, ela é prejudicial. Não apenas pelo custo fiscal, mas também pelo custo-oportunidade, ou seja, perdemos dinheiro ao não aplicá-lo em investimentos mais rentáveis ou ao não diminuir nossas dívidas em outros contratos e sob outras modalidades, livrando-nos de juros.

Se olharmos pelo lado dos investimentos internos, veremos que este valor despendido fará muita falta. Vejamos, por exemplo, a situação calamitosa em que se encontram os estados e municípios brasileiros. Para o municípios, o governo custou a liberar o montante de 1 bilhão de reais para compensar as perdas do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e, para os Estados exportadores, dificulta a compensação real da Lei Kandir. Enquanto isso, para o FMI o Brasil libera 10 bilhões de dólares, quase 20 bilhões de reais, ou seja, 20 vezes o que é dado aos nossos municípios.

Além disso, o governo federal se recusa a aumentar os recursos da saúde na regulamentação da Emenda Constitucional 29, nega-se a aprovar os projetos que acabam com o fator previdenciário e recuperam o valor das aposentadorias e não recompõe adequadamente os recursos perdidos na crise pelos estados e municípios, com a desculpa de não ter recursos.

Parece que as questões que deveriam ser prioritárias para o governo brasileiro não o são. Portanto, não percebo benefícios práticos nessa operação, apenas o poder de posar de credor internacional diante dos olhos do Mundo. Ou seja, pura vingança de Lula com o dinheiro dos outros.

Entendo que o Brasil, ao investir 10 bilhões de dólares em bônus do FMI, mostra a liderança do País entre os emergentes e isto é interessante. Porém, tudo tem a sua hora. E o momento é de olhar internamente, perceber os problemas enfrentados pelos entes federados e buscar soluções. Comprar bônus do FMI é vendar os olhos para os problemas internos e passar uma imagem fantasiosa para o mundo.

Enfim, vejo este “empréstimo” como uma grande demagogia. Afinal, o governo mostrará que além de não precisar de apoio financeiro do FMI, o Brasil está em condições de emprestar um montante expressivo de recursos ao Fundo. Enquanto isso, os estados e municípios brasileiros pedem socorro.

Corumbá

Um comentário:

  1. Primoroso o seu comentário. Como sempre. Não há mais o que comentar. Só lamentar que o nosso País seja governado por uma criatura egoísta, ególatra, aproveitador, narcisista e um bocado de adjetivos que não vale a pena declinar neste espaço. Portanto, pobre de nós outros que não temos a quem recorrer...

    Leoclécia

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